Estrangeiro , de Edson Lemos Akatoy, é um daqueles filmes que você tem que assistir bem descansado, de espírito aberto e disposto a uma pr...

Uma ode à paisagem

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Estrangeiro, de Edson Lemos Akatoy, é um daqueles filmes que você tem que assistir bem descansado, de espírito aberto e disposto a uma profunda contemplação da natureza. É longo (quase 2 horas), me lembrou Limite, de Mário Peixoto, e a música de Erik Satie (repetidamente) me reavivou esta lembrança.

Correto, bem feito, em verdade, abissal, meio existencialista, meio metafísico, supõe refletir a temática da saudade, mas sendo extremamente intimista. Me tocou, entretanto, como uma espécie de busca juvenil da personagem que “volta” às origens (?) e “viaja”.
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Terá sido tudo somente um sonho? Bem, o onírico tem sua potência, claro. O filme tem matizes oníricos e brilha nos flagrantes fotográficos da natureza bela das praias paraibanas (principalmente Tabatinga). A sacada de fazer o filme em preto e branco foi genial, pois respalda a proposta meio espectral, nostálgica, fantasmagórica (quanto a isso, nenhum pecado).

Bem nordestino, brasileiro (o sotaque não nega, nem ofende), mas é de um outro Nordeste que o filme trata, longe desse insensato e miserável mundo. Acadêmico, sim senhor, mas há lugar para uma nova escola de cinema nordestina, por que não? E provavelmente, Estrangeiro terá seu lugar na filmografia nordestina (e brasileira) do futuro.

Feito com poucos recursos, tem o mérito de captar a beleza do lugar, o silêncio e a generosidade ecológica que os deuses concederam à região. As interpretações das jovens atrizes não comprometem, mesmo porque no centro da cena reina a Mãe Natureza (talvez idílica, edênica, paradisíaca em demasia, pois sabe-se, a Natureza é também madrasta). O filme é norteado por uma vibe aguçadamente feminina, guardando grandes enigmas, sutis mistérios.


Mas o experimentalismo valeu demais, principalmente porque a estética é deslumbrante. No que concerne ao fenômeno cinema, lembrei das aulas de Linduarte Noronha: cinema é “imagem em movimento”. Mas e o pathos? A saída foi buscada na música trovejante de Richard Wagner, algo que – me parece – não ficou bem resolvido.

No mais, elipses, flashbacks, fusões... porque a juventude pode também ensaiar novos itinerários de (trans)vanguarda. E uma ode à paisagem, cheia de encantamentos: chuvas lindas, suavidade, êxtase das crianças correndo à beira-mar. E que coisa bonita as imagens das bolhas de ar em raro flagrante submarino, justo quando a atmosfera do Brasil e do Nordeste real parecem irrespiráveis. Enfim, estranheza poética, e muita poesia!

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