Por que foram anoitecendo as tardes cada vez mais cedo com todos os encantos? Eu não sei. Seria a chegada dos outonos? Seriam as garoas que embaçam os vidros que antecedem os descuidos de sempre para nunca mais? Também não sei. Mas tudo foi sendo sentido dolorosa insidiosamente até a medonha chegada dos suspiros sem alento, sem força reacional, como a inevitabilidade da morte.
Aí vem a culpa para um e para outro, ou para os todos. Mas ela é quase sempre inútil, desnecessária, porque alguma coisa deixou-se por conta da sorte. E contar com a sorte nada mais é que uma forma de preguiça, um estar desatento, um distanciamento sem preparo antecipado, pois quando a noite chega, ela vem pra ficar, confrontando todas as “razões”.
Não fomos certos ou errados, apenas nos tornamos irreconhecíveis nas memórias desprovidas de lembranças que talvez nem tenham existido. Mas o que fica é o ônus a ser pago por um tempo vivido sem sentido e descuidado, como simulacros de sonhos idealizados.
É sempre difícil avaliar a vida no que ela nos deu de bom e de ruim. O passado é o determinante deste julgamento, já que o futuro é imponderável, e é no passado portanto que vamos buscar nossos referenciais. Vamos seletivamente buscando quem nos foi caro e nos proporcionou momentos felizes e se pensarmos, foram muitos.
Prazer de estar juntos, prazer de identificação, prazer de afeto, de conhecer novos lugares, novos amigos,de ter morado fora do Brasil e o ter percebido a distância sob um olhar mais crítico de nossa parte e de estrangeiros dos quais fomos próximos. E porque não lembramos das alegrias pelos riscos saborosos que a vida nos presenteou. Passamos hoje por uma fase muito difícil e ainda estaremos nela por um bom tempo mas há explicações. Brincamos com a sorte nas nossas escolhas e com a sorte não se brinca.