O chato é um sujeito intermediário, ele está entre o sim e o não, aquele que nem foi e nem ficou, quer, mas não quer, nem ata nem desata. E, apesar de indeciso, se acha o sabichão, tem regras e palpites pra tudo.
Se fosse só isso a gente ignorava e tocava a vida, mas não é assim, o chato clássico faz questão de aparecer. É a autêntica mosca na sopa ou pedra no sapato, não tem jeito, acaba incomodando. É aquele cara que no final da palestra, às 13h, auditório lotado, todo mundo cansado, com fome, afim de sumir dali, e… adivinha quem levanta a mão pra falar? O chato, claro. Muito sem jeito o professor pede para as pessoas
O chato é implicante e perfeccionista com serviço alheio, aponta defeitos, compara com o serviço da NASA e no final ainda diz que está caro. É um sujeito mal humorado até em feriado de sexta-feira. Não gosta de rir, não faz ninguém rir, não gosta da música que está tocando, reclama se tem sol, se tem chuva, se faz frio, se é perto, se é longe, se sobe ou se desce, se abriu, se fechou, se é de sal, se é de doce ou se é azedo.
Chato adora regras, quanto mais detalhes, protocolos, amarras e proibições, mais ele gosta, porque iguala a todos a um padrão robótico e evita a diversidade, o raciocínio e o bom senso. Chato detesta improvisos e mudanças de planos. Ir à festa com chato é muito chato, tem hora pra ir embora, não pode esticar em outra festa, repara no jeito que as pessoas se comportam, reclama do violeiro, faz questão de copo próprio para o que está bebendo, mas tem uma coisa que eu concordo com o chato, “se beber não dirija”, nisso eu sou chato também. Até o chato tem algum proveito.
— Você seria capaz de imaginar o motivo da minha saída da cidade?
Sem pestanejar e sem a menor expressão de dúvida o pobre ouvinte respondeu:
— Sim, claro. Te expulsaram, com certeza.