A máscara é o mais característico objeto associado a esses dois anos de pandemia. Os infectologis...

De olho na máscara

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A máscara é o mais característico objeto associado a esses dois anos de pandemia. Os infectologistas consideravam-na imprescindível para impedir a contaminação e faziam contínuos apelos para que as pessoas a usassem em locais públicos. Sem esse higiênico tapume que nos cobria parte do rosto, era impossível sair de casa – e havia os que, mesmo no recesso doméstico, não a dispensavam.

Mas o seu uso nunca foi ponto pacífico. Muitos a rejeitavam por uma opção menos sanitária do que política. Negar-se a usá-la era uma forma de dizer que se estava com o presidente, para quem não tinham fundamento as orientações da Ciência. Os que a dispensavam também se negavam a tomar as vacinas.

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Na grande maioria da população, contudo, prevaleceu o bom senso. Gostando ou não muitos se mascararam, e alguns até chegaram ao requinte de escolher modelos e cores. A máscara era uma forma de demostrar bom gosto e realçar a elegância do portador. Para os menos aquinhoados pela natureza, era também uma forma de aparecer mais bonitos.

Algumas cidades começam agora a dispensar seu uso. Já é possível ver pessoas de “cara limpa” mesmo em locais fechados, para escândalo dos que acham prematura e ousada essa atitude. Esses consideram que o abandono da máscara deve ser proporcional ao desaparecimento da doença Enquanto se tiver notícias de pessoas se infectando, como ainda ocorre na China, não faltará quem se negue a sair por aí de rosto nu. Prudência muita nunca é pouco para enfrentar um inimigo insidioso e mutante como o coronavírus.

O abandono da máscara trará repercussões psicológicas. Alguns a terão incorporado de tal modo à própria fisionomia, que vão achar difícil deixá-la. O sacrifício maior será para os
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tímidos, que tinham nela um meio de esconder o rosto e assim escapar ao esquadrinhamento do olhar alheio.

Já os românticos valorizavam o destaque que ela dá aos olhos, tradicionalmente considerados “as janelas da alma”. Cruzar com alguém e perceber-lhe apenas o olhar propiciava todo um percurso imaginativo no sentido de desvendar a parte que o tecido encobria. Cheguei a fazer esse tipo de exercício, focando sem outo propósito – a não ser o estético – alguns olhos femininos.

Confesso que nunca me adaptei às máscaras, nem elas a mim, o que tem me custado algumas broncas domésticas. Eu as usava (e ainda uso) por uma espécie de dever cívico; era preciso pensar também na coletividade. Quando se decidir que não são mais necessárias, vou me despojar delas com o sentimento do dever cumprido. Sei que daqui a algum tempo a lembrança mais vívida da pandemia estará na imagem das pessoas com os rostos mascarados e, nos olhos, a expressão de uma medrosa expectativa sobre o que viria depois.

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