Faz dias, o confrade José Edmilson Rodrigues, do Instituto Histórico de Campina Grande, pautou-me depoimento sobre Félix Araújo , cujo cen...

Félix Araújo

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Faz dias, o confrade José Edmilson Rodrigues, do Instituto Histórico de Campina Grande, pautou-me depoimento sobre Félix Araújo, cujo centenário de nascimento vai ser lembrado em publicação que Edmilson coordena. Numa distinção de conterrâneo adotivo (a Câmara me adotou campinense) ele se lembrou do meu testemunho.

Como já fiz ver, fui no rebanho de Félix uma ovelha lá de trás, tanto pela idade quanto pelo menino atado num meio urbano completamente estranho ao do pequeno matuto levado ao internato do Pio XI. Atado, uma expressão que minha mãe usava com os acanhados, os tímidos; e nunca tive a audácia de chegar perto ou me aproximar de
Félix, como já ocorria com Evaldo Gonçalves, com Juarez Farias, seu parente e conterrâneo, com Josué Silvestre, todos eles familiarizados com o herói.

Aos quinze/dezesseis anos, eu já fazia uns sonetos de imitação e sentia minhas simpatias naturais e emocionais pela aura de Félix, mas o sabia um grande. Cheguei perto, admirava-o, era capaz de segui-lo nos movimentos ao alcance da gente do meu porte. Ouvi verdadeiros gritos de guerra, ele à frente e eu na onda anônima dos menores. Ele já cintilante de glórias, de lendas mesmo, de canções de amor e de aventura guerreira como as da tela do cinema Avenida, que era a que ficava mais próxima do internato, na Getúlio Vargas.

E era feio, cabelo de corte militar, rebelde a pente, óculos de aros pretos e grossos como os dos seminaristas pobres que acolitavam as procissões do padre Mariano. E falando com uma força, uma vibração que não deixava dúvidas do que dizia.

Impôs-se a mim, em linguagem incisiva de elite, quase com as mesmas palavras da igualdade de direitos reclamada em meus ouvidos e na minha cabeça por Luiz de França, um pedreiro, mestre de obra, que se enturmava com meu grupo infante de ideias e leituras.
IBGE
Na primeira eleição para o Senado depois da ditadura de Getúlio, o pedreiro ganhou um sermão furioso da missa do domingo por ter colado um cartaz do “Cavaleiro da Esperança” no oitão defronte da matriz. “Uma heresia de Satanás, imperdoável” que sacudiu e revolveu a fé do coroinha até aí preparada para ingresso no seminário. “Vamos bloquear a rua do Capitólio e do Babilônia, fechar a passagem para os cinemas, até eles cederem!” Era Félix, guiando o Centro Estudantal (escrevia-se assim) na luta pela meia-entrada nos cinemas; a palavra de ordem dada em frente ao colégio dos Loureiros. Ao chegarmos à praça da Bandeira, cem metros depois, não se viu restar uma só acha de lenha da enorme ruma da calçada da Panificadora Urca.

Quatro ou cinco anos depois, ouvi seu canto de poeta e guerreiro nos primeiros ensaios da campanha de José Américo ao governo do Estado. Letra de Félix com música da Vassourinha, cujo estribilho me vem agora sem qualquer esforço:

“Pelo povo contra a fome se levanta um grande nome!”

Isto numa veemência ou num galope de marcha ou combate herdados da “Canção do Tamoio”, de Gonçalves Dias:

“Não chores que a vida É luta renhida: Viver é lutar. A vida é combate, Que os fracos abate, Que os fortes, os bravos Só pode exaltar.”



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