Em 1899, Ernst Haeckel publicou um dos livros mais importantes de que se tem notícia – Os enigmas do universo –, em que ele expõe a sua maneira de pensar a ciência e os seus postulados científicos, sobretudo aqueles cujos conteúdos partem da Teoria da Evolução da Espécie e da Seleção Natural das Espécies, de Darwin. O livro foi logo traduzido do alemão para o francês, por Camille Bos, e publicado em 1902, ganhando uma divulgação jamais vista para uma obra científica.
Haeckel, claro, contribuiu para o fato de a obra ter-se popularizado, pois era a sua intenção escrever a respeito da ciência, sobretudo o Monismo, com o propósito de que o pensamento científico pudesse ser acompanhado por qualquer pessoa
“O nosso dever essencial é formar a juventude para a razão, educar cidadãos libertos da superstição e isso só é possível por meio de uma reforma oportuna da Escola”
Capítulo Primeiro, Como se estabelecem os Enigmas do Universo, p. 10
Shubham Sharan
“Todo filantropo deveria, pois, por todos os meios possíveis, impulsionar a fundação de escolas sem confissão, como uma das instituições mais preciosas do Estado moderno em que reina a razão”
Capítulo XVI, Ciência e Crença, p. 348-9
Tra Nguyen
“A primeira finalidade a se propor deveria ser a separação completa da Igreja e do Estado. A ‘Igreja livre’ deve existir no ‘Estado livre’, isto é toda Igreja deve ser livre no exercício do seu culto e das suas cerimônias, do mesmo modo na construção dos seus poemas fantasistas e dos seus dogmas supersticiosos – com a condição, todavia, de que não ameace por isso a ordem pública nem a moralidade”
p. 410-11
“Mas, para todos os crentes dessas confissões diferentes, a religião deve permanecer coisa privada; o Estado não deve senão vigiá-la e impedir seus desvios, mas não deve nem oprimi-la nem sustentá-la”
p. 411
Kenny Eliason
“Este ‘ensino confessional’ é coisa absolutamente privada, é um dever que diz respeito aos pais ou aos tutores, ou antes aos padres e preceptores em quem os primeiros puseram pessoalmente a sua confiança”
p. 411
“A nova Estética monista, edificada sobre o alicerce sólido do conhecimento moderno da natureza – e antes de tudo, da doutrina da evolução – forneceu matéria, nestes últimos trinta anos, a uma literatura muito estudada”
p. 411-12
Jeswin Thomas
“Quanto à Bíblia, esse ‘Livro dos Livros’, não deveria ser posto nas mãos das crianças senão sob a forma de extratos cuidadosamente escolhidos (sob a forma de ‘Bíblia escolar’); evitar-se-ia, assim, que a imaginação infantil se manchasse com as numerosas histórias impuras e as narrativas imorais de que o Velho Testamento, em particular, é tão rico”
p. 412
“Depois que o nosso Estado civilizado moderno se libertar e a Escola com ele, das cadeias em que a Igreja os mantinha escravos, ele não poderá senão consagrar melhor as suas forças e os seus cuidados à organização da escola”
p. 412
Thought Catalog
1. Ensino da língua deve acompanhar o estudo da natureza;
2. a natureza será o objeto principal dos estudos; o homem deverá realizar uma ideia justa do mundo em que vive, não se pondo fora da natureza ou em oposição a ela, mas devendo aparecer como o seu produto mais elevado e mais nobre;
2. a natureza será o objeto principal dos estudos; o homem deverá realizar uma ideia justa do mundo em que vive, não se pondo fora da natureza ou em oposição a ela, mas devendo aparecer como o seu produto mais elevado e mais nobre;
Taylor Flowe
3. estudo das línguas clássicas, com o latim obrigatório e o grego facultativo;
4. estudo das línguas modernas, sendo o inglês e o francês obrigatórios e o italiano facultativo;
5. o ensino da história deve voltar-se mais para a vida intelectual, para a civilização interior do que para a exterior;
6. os grandes traços da doutrina da evolução devem ser ensinados juntamente com a cosmologia; a geologia com a geografia; a antropologia com a biologia;
7. os grandes traços da biologia devem ser apreendidos por todo homem instruído, como a ecologia ou bionomia, a que se juntarão elementos de anatomia e fisiologia;
8. devem ser estudados os grandes pontos da química e da física e a sua validação exata pela matemática;
9. estimular o estudo do desenho do mundo natural, para que os jovens, aprendam a ver bem e a compreender o que viram observando a natureza;
4. estudo das línguas modernas, sendo o inglês e o francês obrigatórios e o italiano facultativo;
5. o ensino da história deve voltar-se mais para a vida intelectual, para a civilização interior do que para a exterior;
6. os grandes traços da doutrina da evolução devem ser ensinados juntamente com a cosmologia; a geologia com a geografia; a antropologia com a biologia;
7. os grandes traços da biologia devem ser apreendidos por todo homem instruído, como a ecologia ou bionomia, a que se juntarão elementos de anatomia e fisiologia;
8. devem ser estudados os grandes pontos da química e da física e a sua validação exata pela matemática;
9. estimular o estudo do desenho do mundo natural, para que os jovens, aprendam a ver bem e a compreender o que viram observando a natureza;
Erik Mclean
10. educação corporal com ginástica e natação, além de caminhadas, a cada semana, e viagens a pé, a cada ano, durante as férias, pois a contemplação que se oferece nessas oportunidades será de grande valor à formação dos jovens.
Haeckel visava uma educação que não só preparasse para uma profissão ou para a aquisição de certa dose de conhecimentos, mas que tivesse “como finalidade principal, o desenvolvimento do pensamento independente” (p. 414), visto que a boa preparação fornecida pela escola só teria sentido se o desenvolvimento da inteligência fosse empregado para o bem maior de todos. Ainda que haja pontos discutíveis no seu projeto – e é por isto que se chama projeto –, podemos constatar uma visão avançada para a sua época, na concepção de um estado realmente laico, na compreensão de que a ecologia deveria ser estudada e, sobretudo, na convicção de que a pesquisa na área da biologia evolutiva é imprescindível para que possamos nos compreender melhor.
Isto posto, gostaria de me dirigir a todos os que dizem acreditar na Ciência (que está pouco se importando se acreditam ou não nela...); que dizem apoiá-la com todas as forças e que, ao menos nas redes sociais, se dispõem a defendê-la incondicionalmente, para perguntar se já se questionaram sobre a inexistência de um projeto nacional para a Educação, de que a Ciência depende totalmente. Ou se educação é apenas um nome vazio como tantos outros – como democracia, por exemplo –, na boca de quem diz irresponsavelmente o que alguns querem apenas ouvir, nunca arregaçar as mangas em sua construção.