A eleição para o governo da Paraíba em 1990 foi para o segundo turno em consequência da candidatura de João Agripino Neto, que impediu Wilson Braga de derrotar Ronaldo Cunha Lima no primeiro turno. Enquanto Braga obteve 43.3% dos votos naquele primeiro turno e Ronaldo 40.2%, Agripino “melou” o jogo com 11.9% dos votos apurados.
O que pouca gente lembra foi o violento nível que a campanha alcançou no segundo turno. Um pálido exemplo; uma das inserções de televisão (não existiam redes sociais naquele tempo) começava assim: "Essa mão nunca roubou, essa mão nunca matou". Era pau puro de ambos os lados. Todo mundo ligado nos programas eleitorais.
Alan Santos/Amanda Perobelli
Tal qual as pesquisas eleitorais que ainda hoje são esperadas com sofreguidão, em 1990 o ápice eram os guias eleitorais, as surpresas preparadas pelos profissionais da publicidade.
O que aconteceu, entretanto, foi uma coisa inusitada. Enquanto o guia eleitoral de Wilson continuava no cacete, os bruxos da comunicação de Ronaldo editaram sobre um fundo negro a letra da belíssima música "Amanhã" , de Guilherme Arantes, interpretada por Caetano Veloso: "Amanhã será um lindo dia da mais louca alegria, que se possa imaginar; amanhã, redobrada a força, pra cima que não cessa, há de vingar. Amanhã, mais nenhum mistério, acima do ilusório, o astro rei vai brilhar; amanhã, a luminosidade, alheia a qualquer vontade, há de imperar. Amanhã, está toda esperança, por menor que pareça, existe é pra vicejar; amanhã, apesar de hoje será a estrada que surge, pra se trilhar. Amanhã, mesmo que uns não queiram, será de outros que esperam, ver o dia raiar; amanhã, ódios aplacados, temores abrandados, será pleno".
Edgley Vuarnet
Do fundo do meu coração espero que o amanhã, com os ódios aplacados e os temores abrandados, seja pleno para todos os brasileiros. E mesmo que uns poucos não queiram, o amanhã será de todos que esperam ver o dia raiar.