As peças que apresentam temas trágicos, geralmente, caracterizam-se por transmitirem romances que são intensamente impulsionados pela ...

Terror e compaixão

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As peças que apresentam temas trágicos, geralmente, caracterizam-se por transmitirem romances que são intensamente impulsionados pela paixão, e os seus personagens são amaldiçoados através de uma cultura que expressa comportamentos invioláveis de uma sociedade cruel. Nessas tragédias, a morte torna-se a concretização do amor. Muitas delas usam o princípio clássico quando afirmam que o personagem mais importante deve ter um caráter admirável, mas imperfeito, e o público precisa compreendê-lo e simpatizar-se com ele.

Esse fundamento foi apresentado pelo filósofo e polímata da Grécia Antiga Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.) na sua obra Arte Poética, que se divide em duas partes.
"Medeia" (Eurípides)
A primeira desenvolve um conceito de poesia como imitação de ações e de realidade. A segunda estuda a tragédia, que trata da imitação “dos caracteres, das paixões e das ações humanas”. Também, “de felicidade e de infelicidade”. A partir disso, com a intencionalidade para criar o terror e a compaixão é necessário que o público se identifique com as situações apresentadas no palco ou no texto, desde que provoque no espectador o sofrimento idêntico ao apresentado pelos personagens. Essa assimilação do público aos fatos narrados é chamada por Aristóteles de “mimesis”, a qual, deve provocar a “kátharsis”, isto é, a “purgação dos sentimentos de terror” e de “compaixão por parte dos observadores”.

Aristóteles apresenta a veracidade do trágico – através da imitação das paixões – ao utilizar a música, a dança e o espetáculo teatral com a finalidade de excitar o terror e a compaixão no espectador. Esse prazer deve ser alcançado num final terrível de uma peça, a qual se destina um personagem quando é punido por sua intensa paixão vulcânica, e por desobedecer às normas sociais. Por isso, observa-se que é um clímax que surge da vivência da dor através da mediação da arte, e consiste no ensinamento a que se propõe a tragédia para a qual, segundo o filósofo, “o fim que se pretende alcançar é o resultado de uma maneira de agir e não de uma maneira de ser”. Neste sentido, esse gozo-doloroso – a “catarse” – pode tornar-se para alguns a própria purificação; noutros, a sua purgação.

"Édipo Rei" (Sófocles): Édipo e Antígona exilados em Tebas
Os estudos sobre a poética aristotélica continuam necessários para se conhecer o funcionamento e o impacto da tragédia nos dias atuais e nos últimos séculos, especialmente quando tratam das análises relacionadas às falhas existenciais e psíquicas do ser humano. Por exemplo, nos séculos 16 e 17, William Shakespeare (1564 – 1616), poeta, dramaturgo e ator inglês, escreveu tragédias. Titus Andronicus (1592), uma de suas primeiras peças romanas, é considerada a mais sangrenta de todas. Na trama, Titus, um poderoso general da Roma Antiga, volta triunfante da guerra contra os Godos. No entanto, se recusa a tornar-se imperador. As sucessivas mortes decorrentes da disputa pelo trono desencadeiam uma onda de vingança sem fim. As cenas são chocantes por apresentarem decapitações e mutilações, além de um estupro e de uma cena de canibalismo involuntário.
"Hamlet" (Shakespeare): Hamlet e Horácio no cemitério
Tudo isso torna uma das mais violentas peças shakespearianas. Logo após essa, surgiu Romeu e Julieta (1592), que narra sobre a paixão de dois adolescentes, cujo suicídio unem suas famílias rivais.

Outras peças de William Shakespeare foram escritas entre 1601 até 1608. Entre elas, Hamlet (1599), situada na Dinamarca, e reconta a história de como o príncipe Hamlet tenta vingar a morte de seu pai, o rei Hamlet, executado pelo irmão, Cláudio, que o envenena e em seguida toma o trono, casando-se com a rainha. Também apresenta o percurso de vida da loucura real e falsa e do insuportável sofrimento opressivo à raiva perversa, explorando, ainda, questões como a traição, vingança, incesto, corrupção e moralidade.

A peça Otelo (1604) gira em torno de quatro personagens: Otelo, general mouro que serve ao reino de Veneza; sua esposa Desdêmona; o tenente Cássio e seu suboficial Iago. Por causa dos seus temas principais (racismo, amor, ciúme e traição), essa trama continua adequada aos dias atuais. A tragédia Rei Lear (1605) é situada por volta de 800 a.C., numa região da Grã-Bretanha. É inspirada por fatos e antigas lendas britânicas, especialmente em Leir da Bretanha. Um dos seus temas se refere ao rei ter enlouquecido após ser traído por duas de suas três filhas, as quais herdaram o seu reino de maneira criminosa.

"Rei Lear (Shakespeare)": o rei e suas três filhas
Outra peça trágica é Macbeth (1606), cujo tema apresenta o assassinato do rei e suas terríveis consequências. A peça Antônio e Cleópatra (1607) tem como enredo a relação entre o militar romano Marco Antônio e a rainha do Egito, Cleópatra. Eles realizam o bem; e o mal, também. Pretendem construir um grandioso império no Oriente, mas seus planos são interrompidos. Com a notícia da morte de sua esposa Fúlvia, Marco Antônio – que vivia no Egito com a amante – é chamado de volta a Roma por motivos políticos. Lá, se vê obrigado a casar-se com Otávia, irmã de Otávio Augusto, que é um dos líderes do Império Romano. Augusto usa o casamento como estratégia para manter Marco Antônio mais próximo ao governo. Ao tomar conhecimento da união, Cleópatra envia a Roma a falsa notícia de que cometera suicídio. Marco Antônio, apaixonado e desiludido, põe fim à própria vida. A rainha do Egito, sabendo disso, encomenda a seus criados a víbora que lhe injeta o veneno mortal.

Diante de tudo isso, observa-se na História da humanidade que o amor e a paixão são constituídos de tragédia, terror, compaixão e de loucura.
Nota Sinta-se convidado à audição do CDX Domingo Sinfônico, das 22h à 0h. Em João Pessoa-PB, sintonize FM 105.5 ou acesse por meio do portal da Rádio Tabajara .

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