O conselho de Nathanael Alves era de que devemos fazer a leitura do livro, para depois retornar ao prefácio, ao texto de apresentação. Assim procedo, há mais de quatro décadas, seguindo, à risca, essa recomendação.
Vejo na crônica a alma do autor, seu modo de perceber o que os outros não conseguem observar. Como falam os estudiosos e entendidos na matéria, a crônica nasce do pequeno assunto, do quase nada, para se tornar peça de arte.
No caso de “O Estranho Professor de Violão”, de João Trindade, composto de crônicas e pequenas histórias, a apresentação do poeta Hildeberto Barbosa Filho apontou os caminhos que não conhecemos para se chegar ao conteúdo da obra.
Sou leitor do professor Trindade desde quando começou publicar seus textos no Jornal O Norte, em 1978, época em que eu habitava a redação desse extinto diário como copiador de telegramas das agências de notícias.
As crônicas ou pequenas histórias desse seu novo livro são de uma beleza rara, desde os temas abordados à forma de narração.
A começar pelo texto que dá nome à obra - O Estranho Professor de Violão -, o livro contém histórias comuns em nosso cotidiano. Pela configuração poética, tocou-me profundamente “As rosas no chão”.
João Trindade @professortrindade
Outras crônicas agradaram sobretudo pelo telúrico apresentado, porque abordam a memória afetiva, a simplicidade do viver sem esconder os perrengues do dia a dia, a luta pelo sobreviver e vencer como profissional. Tudo escrito sem subterfúgios, em tom aprazível.
Comove a crônica “O livro e o lixo”, em que nos deparamos com duas realidades. A mulher semianalfabeta, catadora de lixo que encontra o livro do professor Trindade, faz contato com este para agradecer sobre as lições recolhidas de sua obra. Indo ao encontro dela, qual foi a surpresa: a dedicatória. Um colega de Liceu, intelectual, jornalista como ele, havia jogado no lixo o livro “Dicas de Português”.
Fecho a última página de “O Estranho Professor de Violão” e, seguindo o conselho do meu mestre Nathanael, voltei à apresentação do professor Hildeberto, para beber nas entrelinhas o que não soube captar durante a leitura. Como crítico literário e perspicaz estudioso da literatura, especialmente da arte literária, percorro lentamente o texto da abertura da obra para embasar o que tinha descoberto nas crônicas de Trindade.
Fico com as palavras do mestre e amigo Hildeberto:
“A bem dizer, suas crônicas abordam motivos temáticos que constituem pequenos relatos de situações e episódios de que ele, na qualidade de observador e intérprete, sensível principalmente à riqueza dos detalhes, participou, ou, na distância possível, intenta reelaborar por meio das palavras”.
Na minha visão de leitor que ainda não se afastou das paisagens de Serraria e Arara, apego-me aos textos em que Trindade recorda seu passado e sua gente em Piancó e Patos, de modo telúrico, ao mostrar as singularidades da vida. No livro em foco, tudo é tratando com rigor do idioma, porque ele “cuida de sua correção e clareza, propriedade e precisão”, com destaca Hildeberto.
O professor João Trindade fez bem publicar em forma de livro esta seleção de crônicas adormecidas nas páginas dos jornais, porque agora as teremos na forma mais sublimar, compondo o acervo de nossa biblioteca.