A violência é um fenômeno que é analisado sob conceitos individuais, sociais, culturais e biológicos. Ela é frequentemente entendida como uma agressão física ou verbal direcionada a uma pessoa, a si mesmo ou ao ambiente, e se manifesta de forma estrutural ou simbólica. A estrutural está nos sistemas que perpetuam desigualdades e exclusões. Por exemplo, no racismo, na pobreza ou por meio de ideologia e prática que se apoia em preconceitos. A simbólica está presente nos discursos ou práticas que reforçam discriminações. A brutalidade surge, geralmente, como resposta a conflitos não resolvidos. Essa crueldade pode ser instrumental quando utilizada como meio para alcançar um objetivo egoísta ou expressiva quando for motivada por emoções intensas, como raiva ou ódio.
Nas sociedades, a violência e autodestruição reproduzem desequilíbrios de poder e, muitas vezes, é perpetuada por ciclos culturais. Autodestruição é uma reprodução interna da brutalidade direcionada para a própria pessoa. Ela é explícita quando se manifesta por meio de sabotagem de oportunidades ou comportamentos que prejudicam a boa saúde física e mental, como em casos de automutilação ou suicídio. Suas causas surgem nos traumas, transtornos mentais, baixa autoestima ou a incapacidade de lidar com emoções limítrofes.
Na maioria dos casos, a autodestruição é um grito silencioso para sublimar déficits emocionais ou a perda do autocuidado. A unicidade entre violência e autodestruição projeta uma dor psíquica e/ou uma frustração por meio de uso do terror contra a própria pessoa e aos outros. O filósofo alemão Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844 - 1900), em suas obras Assim Falou Zaratustra, publicada em 1833 e O Anticristo, publicada em 1895, versa sobre a negação da própria vontade de viver ou da falta de valores que deem sentido à existência humana.
Estudos científicos analisam fatores genéticos e neuroquímicos que influenciam a predisposição para comportamentos autodestrutivos. Desequilíbrios em neurotransmissores como a serotonina estão associados a um aumento da impulsividade e da agressividade em algumas pessoas. Da mesma forma, alterações no lobo frontal do cérebro, responsável pelo controle de impulsos e pela regulação emocional, predispõem ao comportamento violento.
Experiências pessoais como abuso sexual e traumas na infância estão relacionadas ao desenvolvimento de sentimentos que estimula a destruição de tudo que ameaça as próprias vontades. Crianças que crescem em ambientes agressivos sofrem danos emocionais têm maior probabilidade de manifestar atitudes destrutivas na fase adulta, seja em resposta ao sofrimento internalizado, seja como um padrão adquirido de interação com o mundo. Fatores como desigualdade socioeconômica, falta de acesso à educação e de recursos materiais para sobrevivência, e o convívio em ambientes onde a brutalidade é comum, favorece a instauração de terror. A violência pode surgir como uma resposta a situações de marginalização, discriminação e frustração, na qual a torna banalidade em sociedades constituídas de ódio e loucura.
Os comportamentos violentos podem ser classificados de acordo com sua motivação e circunstâncias. Por exemplo, a violência física que envolve agressões corporais manifesta-se, geralmente, em agressões conjugais. Também pelo constrangimento no ambiente escolar, principalmente na fase da adolescência. A violência psicológica e verbal que inclui ameaças, insultos e ações que desestabilizam emocionalmente o outro destrói a saúde mental da pessoa humilhada. A violência autodirigida ocorre quando a agressão é direcionada a si mesmo, como nos casos de automutilação e o suicídio. Ela é associada a estados emocionais intensos de desesperança, angústia e depressão.
A violência coletiva e social pode ser praticada por grupos ou em massa, como em conflitos armados e terrorismo. Esse tipo está relacionado às questões políticas, religiosas ou étnicas. A violência estrutural é sutil e indireta, está enraizada nas estruturas sociais e nas desigualdades. A marginalização de grupos sociais, a exclusão econômica e o racismo impactam as faltas de oportunidades e a destruição do bem-estar de indivíduos e comunidades.
As causas que influenciam a violência, além dos fatores biológicos e sociais, são a influência da mídia e da ideologia de exclusão. Nas quais, o consumo de conteúdos que exaltam a violência, seja em filmes, videogames ou redes sociais, dessensibiliza algumas pessoas e reduz a empatia em relação ao sofrimento dos outros. A dependência de substâncias lícitas e ilícitas estão associadas a comportamentos violentos. Elas alteram a capacidade de julgamento e de autocontrole e aumentam o risco de ações agressivas. Os fatores econômicos da pobreza geram situações de frustrações que levam muitas pessoas à violência. Em ambientes economicamente desprivilegiados, existe uma incidência maior de crueldade tanto interpessoal quanto coletiva. Um desses sintomas de autodestruição é o suicídio.
David Émile Durkheim (1858 – 1917) foi um sociólogo, antropólogo, cientista político, psicólogo social e filósofo francês. Em seu livro O Suicídio, publicado em 1897, o pensador argumenta que cada sociedade está predisposta a fornecer um contingente determinado de mortes voluntárias, e o que interessa à sociologia sobre o suicídio é a análise de todo o processo social, dos fatores sociais que agem não sobre os indivíduos isolados, mas sobre o grupo, sobre o conjunto da sociedade. Cada sociedade possui, a cada momento da sua história, uma atitude definida em relação ao suicídio.
Segundo a etimologia de Durkheim, há três tipos de suicídio: o suicídio egoísta é aquele em que há uma individualização desmensurada. No qual, as relações entre os indivíduos e a sociedade se afrouxam fazendo com que o indivíduo não veja mais sentido na vida, não tenha mais razão para viver; o suicídio altruísta tem a característica do gerar na pessoa o dever de fazê-lo para se desembaraçar de uma vida insuportável. Nesse caso, a individualidade do suicida não o pertence. Ela se confunde com algo que está fora de si mesmo, isto é, em um dos grupos a que o indivíduo pertence. Por exemplo, os terroristas que se matam para defender uma ideologia; o suicídio anômico ocorre quando há ausência de regras na sociedade. Isso faz com que a normalidade social não seja mantida.
Em uma situação de crise econômica, na qual há uma completa desregulação das regras normais da sociedade, alguns suicidas ficam em uma situação inferior à que ocupavam anteriormente. Assim, há uma perda de riquezas e poder. Isso faz com que os índices desse tipo de suicídio aumentem. É importante ressaltar que as taxas de suicídio anômico são maiores em países ricos, pois os pobres conseguem lidar com as situações de anomia social.
A prevenção e intervenção de comportamentos violentos exigem uma análise complexa que envolve esforços no âmbito da educação e da política pública para a saúde mental. Medidas preventivas incluem educação emocional e social. Para isso, deve-se ensinar habilidades de resolução de conflitos, empatia e regulação emocional desde a infância pode ajudar a reduzir a agressividade e a impulsividade. Estado e governo devem oferecer tratamento adequado para o acolhimento digno dos pacientes com transtornos mentais, como depressão e ansiedade. Esse processo reduz o risco de comportamentos autodestrutivos que instauram o terror na sociedade.
Ações governamentais devem promover a equidade e a inclusão. Os acessos às oportunidades para um tratamento terapêutico são prioritários para garantir a sobrevivência humana, a fim de reduzir as condições de marginalização que alimentam a violência estrutural e social. Intervenção em situações de risco por meio de programas de reabilitação em ambientes vulneráveis reduzem os índices de mortes por autodestruição. Isso proporciona modelos de vida construtivos e associativos.
A prevenção e intervenção contra comportamentos violentos e autodestruição auxiliam na construção de uma sociedade com menos violência. Para essa finalidade, a governabilidade dos estados deve garantir o tratamento para saúde mental e promover a equidade, a cultura de paz e o respeito entre todos. A prática da empatia - por meio do diálogo - contribui para a resolução pacífica de conflitos. Essa dinâmica elimina as doenças do ódio. Além disso, oferecer suporte às vítimas de violência e criar espaços seguros para evitar a autodestruição deve se tornar a prioridades de políticas públicas de Estado.
É necessário desestigmatizar o sofrimento psicológico e ampliar o acesso a recursos terapêuticos e preventivos. Para isso, reconhecer suas causas e trabalhar para transformá-las exige um compromisso coletivo e individual a fim de criar ambientes de convivência saudáveis, compassivos e justos. Nesse processo, o autoconhecimento e o fortalecimento dos laços comunitários desempenham um processo vital para romper os ciclos de dor e sofrimento. Em seu livro Assim Falou Zaratustra, Nietzsche (2011a, p. 14) afirma: “[...] Ser um oceano para acolher um rio imundo sem se tornar impuro”. Noutro livro, em seu livro Além do bem e do mal, publicado em 1886, ele diz: “Aquilo que se faz por amor está sempre além do bem e do mal”.