Nós estamos condenados a sermos plurais. Mais que isso: estamos condenados à convivência com o diverso. Trata-se de um imperativo da na...

O binarismo, intolerância e a era do emburrecimento

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Nós estamos condenados a sermos plurais. Mais que isso: estamos condenados à convivência com o diverso. Trata-se de um imperativo da natureza que nos torna singulares. A convivência com o divergente nos leva ao divino. Não fora, por exemplo, o diverso, certamente Karl Marx não teria se notabilizado com sua obra, não haveria o marxismo e todas as suas implicações para a História recente da humanidade. Pois a verdade é que ninguém, naquele momento, poderia ser mais diverso do que Marx. Apenas para citar um exemplo, digamos, mais irônico.

Aristóteles advertia que a natureza do humano, enquanto ser social, é essencialmente política, porque nasce da necessidade das relações humanas, diretamente ligadas à vida cotidiana. Mas, essa relação implica em convivência de contrários, dada a natureza diversa do humano. A vida em comunidade é, a despeito dos conflitos das mais diversas naturezas,
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Usman Yousaf
a única forma da busca do conforto pretendido por todos. “Existe naturalmente em todos os homens o impulso para participar de tal comunidade”, vai propor Aristóteles. E é curioso porque, sendo esta a alternativa social necessária, seja também o ambiente das contradições. (ARISTÓTELES, 1985)

Mas, o curioso é que, apesar desse código da diversidade, estamos vivenciando uma espécie de era do emburrecimento, em que ter opinião passou a ser crime e ser diverso significa risco de cancelamento. O perigo espreita a cada pensamento divergente, a cada palavra fora de certo contexto tido como verdade absoluta. Faz lembrar o que dizia Riobaldo, em Grande Sertão: Veredas, que “viver é muito perigoso”. Na realidade, nos tempos atuais, pensar é que é muito perigoso. Aparentemente, o que se pretende é desestimular o pensar.

Não há como não lembrar também de Hannah Arendt, que cunhou a chamada “banalidade do mal”, para quem pensar é perigoso, porém “não pensar é mais perigoso ainda”. Neste sentido, somos tentados a acreditar que o ato de pensar é também uma responsabilidade do indivíduo em sua instância social, assim como respeitar a pluralidade e a diversidade é consequência natural da condição humana. Na verdade, pensar é, essencialmente, um ato de amor à diversidade. (ARENDT, 2000)

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Fonte ▪ Wikimedia
A responsabilidade especialmente com o outro, quer esse outro pense semelhante ou não, sempre dentro da perspectiva de não imaginarmos com arrogância que detemos a verdade e, portanto, empunhamos o domínio do real. O ato de pensar é o que nos habilita ao julgamento e dá ancoradouro ao nosso sentido de estar no mundo. Mesmo assim, na atualidade, pensar é muito perigoso. E pensar é perigoso porque é um ato subversivo que pode levar ao despertar e, eventualmente, ao contrapor. Nada mais horroriza quem se acha detentor da verdade do que esse contraponto, mesmo porque pensar é prospectar significados, é duvidar do caráter absoluto de uma certa verdade.

E, no entanto, o que é a verdade? Como o homem pode apreender o que é verdadeiro e captar o que é falso? Pode parecer hermético, porém quem talvez mais tenha se aproximado de um conceito da verdade tenha sido Aristóteles, quando afirmou, em Metafísica: “Dizer o que é que não é, ou do que não é que é, é falso; ao passo que dizer do que é o que é,
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e do que não é o que não é, é verdade.” (ARISTÓTELES, 1969) Confuso? Certamente. Como muitas vezes ocorre com a busca da verdade. De qualquer modo, o ato de pensar antecede a compreensão da verdade.

E renunciar ao ato de pensar é outorgar a outrem a sua verdade, é como um estímulo a comportamentos de submissão, cega obediência e atitude acrítica que desqualificam e rebaixam o humano em sua capacidade de falar e agir o que, em última instância, reduzem o ser à mera condição de peça mecânica na maquinaria do poder. E, mais uma vez, vamos nos socorrer de Arendt, para quem as ideologias podem representar um perigo, conquanto impõe uma mordaça contra ideias divergentes e seria como “trocar a liberdade inerente da capacidade humana de pensar pela camisa-de-força da lógica, que pode subjugar o homem quase tão violentamente quanto uma força externa”. (ARENDT, 2001)

Ora, o ato de pensar, refletir, cogitar é uma das qualidades mais notáveis do humano, uma de suas principais prerrogativas. O que seria da humanidade sem o pensar? Mas, pelo que estamos presenciando, pensar e se expressar, se o pensamento estiver na contramão de uma certa verdade imposta, é algo muito perigoso. Pode levar a penas e segregações morais, algumas bem severas. Esse patrulhamento de fundo ideológico pode desestimular as pessoas a pensarem e emitirem suas ideias, mergulhando a todos nessa espécie de trevas, uma era do emburrecimento, onde não pensar é a regra. E o não pensar é renunciar a si próprio e entregar suas ideias a outrem, que, eventualmente, se apresenta como dono da verdade.

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Cada humano tem em si todas as ferramentas para pensar, ter suas próprias opiniões e, inclusive, construir sua particular filosofia perante o mundo. Pensar é uma experiência cotidiana. Querer inibir ou suprimir essa prerrogativa é condenar o humano às trevas. Mas, é o que se põe na atualidade contra todos quantos tenham a audácia de expor ideias à contramão do ideário vigente, esposada por pessoas que se apresentam como iluminadas e abençoadas pelo dom da verdade, como se a verdade fosse propriedade de alguém, ou, em última instância, uma assertiva absoluta. E sabemos como a verdade costuma ser manipulada em função de interesses momentâneos associados a detentores do poder.

A romancista, ensaísta e roteirista polonesa Olga Tokarczuk, em artigo publicado no New York Time, sobre a realidade da Polônia, mas que tão bem se aplica a todo o mundo, pontuou: “ Em uma sociedade sadia e normal as pessoas podem discordar, podem até ter pontos de vista diametralmente opostas, e isso não significa de maneira alguma que precisem odiar umas às outras.” (TOKARCZUK, 2019)

O educador, escritor, psicanalista e filósofo Rubem Alves nos ensina: “O que faz um jardim são os pensamentos do jardineiro. O que faz um povo são os pensamentos daqueles que o compõem”. (ALVES, 1999)

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Div.
Ainda que não exista uma solução definitiva para todos os problemas e os seus enigmas da humanidade, só haverá esperanças de respostas aos questionamentos sobre tais problemas e enigmas através do ato de pensar. Não há outro caminho. Significa o ato de cogitar para além das fronteiras do conhecimento, e constituir essa ferramenta como vital para o humano conhecer e agir, conforme sua natureza. Sem o pensar crítico, o confronto de ideias, e sem o contraditório não somos humanos, mas apenas páginas de um catálogo de barbárie.

Esse comportamento parece remontar a tempos mais arcaicos, em que, realmente, sob certas circunstâncias, não ser da aldeia podia representar até mesmo o aniquilamento, talvez a base de tantos infortúnios, como a escravidão e o próprio racismo, a partir do momento em que o sujeito não sendo visto como semelhante, podia, por um estatuto narcisista, ser considerado física e culturalmente inferior, e, portanto, passível de ser subjugado.

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Não era incomum hordas vencedoras em guerras submeterem os derrotados, transformando em escravos, por serem considerados inferiores, já que vencidos em batalha. Aliás, nem se fala em algo incomum, era prática usual, desde os primórdios, aparentemente diante de um binarismo primitivo, que levavam alguns povos a se considerarem superiores e, portanto, com direito a subjugar aqueles considerados inferiores.

Os romanos se jactavam de sua superioridade cultural e militar e, durante séculos, dominaram outros povos, sob o pretexto dessa dita supremacia, dessa preeminência. Seus triunfos em batalhas eram seguidos de imposição de sua cultura, apropriação dos valores materiais e, especialmente, escravidão dos derrotados. Porque, para eles, era Roma ou nada. Eles tinham o poder e “estavam” com a verdade. Era, digamos, normal que exercessem seu poderio contra outros povos ditos bárbaros. Eles consideravam deter a verdade.

O nazismo se expressava com similar binarismo. Para eles, os alemães arianos eram seres superiores e perfeitos e deviam dominar o mundo, subjugando os demais povos, com o uso da força e da imposição cultural. O combustível, claro, era o ódio que conseguiam disseminar contra os diferentes, que envolviam homossexuais, comunistas, deficientes físicos, judeus, ciganos e outras etnias.

E não seria algo similar à Inquisição o que estamos presenciando atualmente? Pessoas podem não ser queimadas na fogueira, mas correm o risco de ter a sua reputação calcinada por quem se acha dono da verdade
Dentro do conceito de raça, que era a sua verdade, os nazistas proclamavam que os demais povos, por inferiores, deviam ser submetidos e escravizados. Os nazistas, em suma, acreditavam que raças superiores, como eles se consideravam, não só tinham o direito, como a obrigação de sujeitar e até mesmo exterminar as inferiores. Ou seja, mais uma vez, o despótico injuntivo de binarismo. E, como se consideravam detentores da verdade, quem se punha à contramão era o contraventor a ser fulminado.

Faz lembrar o que ocorreu com o filósofo italiano Giordano Bruno, considerado um dos precursores da ciência moderna, que morreu por defender sua verdade. Num tempo de sombras, Bruno teve a ousadia de externar suas opiniões contrárias ao pensamento corrente, sob o comando da igreja católica, ao concordar, publicamente, da teoria heliocêntrica de Copérnico, e que o universo era infinito, composto de outros mundos, onde seres como nós poderiam adorar seu próprio Deus local. Com essas ideias, parte de sua filosofia de mundo particular, Giordano Bruno foi condenado à fogueira pelo tribunal da Inquisição, em 17 de fevereiro de 1600. O chamado Santo Ofício ainda deu um prazo de oito dias, para que, após sua condenação, pudesse se arrepender, desde que renunciasse às suas ideias. Ele preferiu ser supliciado. (ROWLAND, 2009)

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E não seria algo similar à Inquisição o que estamos presenciando atualmente? Pessoas podem não ser queimadas na fogueira, mas correm o risco de ter a sua reputação calcinada por quem se acha dono da verdade e, eventualmente, serem segregadas da aldeia global. Uma espécie de morte em vida, o que, convenhamos, representa algo extremamente doloroso. Tudo por terem pensado fora da cartilha preponderante. Pois, a verdade é que o perigo ronda a cada pensamento expresso com ousadia, e não há possibilidade de mudar o curso da História sem a ousadia dos pensadores audaciosos, esses humanos insones, que velam pelos que dormem. Afinal, ainda ancorando-nos em Arendt, “homens que não pensam são como sonâmbulos”. (ARENDT, 1993)

É como se o mundo estivesse voltando ao binarismo, algo do tipo: só há duas alternativas, o bem e o mal, o certo e o errado, sem o meio termo e todas as suas infinitas possibilidades. Ironicamente, a adoção de um humano digital, que só compreende entre falso e verdadeiro e parece seguir a ascensão da era digital dos computadores, que só entendem a álgebra de Boole de 0 e 1. Então, o humano, sendo diverso,
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infinito e essencialmente analógico, migra para a pobreza do ser meramente digital.

E não podemos perder de vista que, em todos os momentos em que prevaleceu o binarismo, a humanidade mergulhou em trevas. Na Idade Média, por exemplo, só havia duas possibilidades: ser cristão, ou ser pagão. Herege, como a estes se referia o chamado Santo Ofício. Como a Igreja, normalmente, estava associada ao poder, pode implantar com seu aval a Inquisição, e desta forma ser pagão era ser criminoso, porque, naquele contexto, o certo sem questionamentos era ser cristão. E, assim, num mundo binário, numa lógica de nós contra eles, muitos pagaram com a vida por supostamente serem pagãos, hereges, dentro de uma dinâmica em que a verdade absoluta estava com o cristianismo.

Nessa perspectiva, elites da Igreja desenvolveram um conjunto cada vez mais complexo de procedimentos e recursos inquisitoriais para identificar, rotular e reprimir a heresia, como sendo o errado, ou a negação do certo, personificada pelo Cristianismo. E herege era aquele que, mesmo conhecendo a doutrina cristã, ou ortodoxia, desenvolvia de forma deliberada um pensamento divergente, diverso. Ou seja, praticava a “desobediência enraizada no orgulho e rejeição voluntária da ortodoxia (cristã)”, e fazia “a escolha deliberada do erro sobre a verdade”. Ou, o que era considerado verdade.” (DEANE, 2011)

Mas, e o que vemos na atualidade? Quem não comunga com os ideais de uma determinada aldeia de poder, corre o risco de estar fora dela. Estar na contramão do figurino do momento, significa ser perseguido, caçado, punido, cancelado.
Foi com o advento do Iluminismo, que se consolidou a insurreição contra o absolutismo, propondo a instauração de uma era da razão,em detrimento da fé, propondo a liberdade de pensar, inclusive divergente, como meio para garantir a evolução da humanidade, em oposição ao binarismo medieval. Um exercício de libertação da tradição e do preconceito, conferindo ao humano a tarefa de determinar sua própria história.

Nesse ponto, talvez seja relevante dialogar com a obra do filósofo alemão Hans-Georg Gadamer, considerado um dos maiores expoentes da hermenêutica, quando propôs que foi “a tradição religiosa do Ocidente cristão a principal e única responsável pela paralisação do pensamento acerca da linguagem”, e que, para ele, é através da linguagem que “o homem tem a capacidade de comunicar tudo o que pensa”. Pensar, neste sentido, é romper com essa tradição e, digamos, com a ortodoxia que busca se impor como hegemônica, não dando espaço para o contraditório.

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E é, ainda segundo o pensamento do filósofo, que os homens estabelecem os códigos do que pode ser certo e errado, e todos seus infinitos arranjos sob a égide dessa dialética social, porque estamos tratando do que é mais fundamental, que é a necessidade do “homem compreender o outro”, aceitando "a possibilidade de que o outro tenha razão” que, ainda segundo o filósofo, “é a alma da hermenêutica". (GADAMER, 2002)

Impossível não dialogar também com o que proclamava Immanuel Kant, um dos filósofos do iluminismo. Quando indagado sobre é que viria a ser o conhecimento (Aufklärung), aí confundido com as luzes do Iluminismo, afirmou: “É a saída do homem de sua menoridade [intelectual] da qual ele mesmo é responsável”, e ainda explicava como essa menoridade pode ser entendida como a incapacidade do homem de servir-se de sua razão sem ser dirigido por outras pessoas. E, então, desafiava o homem a “ousar pensar”, e “pensar por si mesmo”, sem tutelas. (KANT, 1974)

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Não há também como desconhecer o que postulava outro dos precursores desse Iluminismo: René Descartes. Para Descartes, o ato de pensar era a premissa do humano: “Penso, logo existo”, tanto que boa parte de sua plataforma filosófica se fundou na dúvida. Duvidar sempre. E obviamente, para duvidar, é preciso pensar. Pensar por si só, sem tutelas. O humano parte de seu pensamento, para duvidar e então prospectar onde eventualmente está a verdade. (DESCARTES, 1989)

Mas, e o que vemos na atualidade? Quem não comunga com os ideais de uma determinada aldeia de poder, corre o risco de estar fora dela. Estar na contramão do figurino do momento, significa ser perseguido, caçado, punido, cancelado, por assim dizer. Resultado de um perverso processo em que, mais uma vez, usa-se a verdade como pretexto para fulminar quem não expressa os mesmos pensamentos, as mesmas ideias, não é da mesma turma. Desta forma, estabelece-se um salvo conduto para fulminar opositores e dissidentes, sob esse pretexto. Um comportamento que em muito se assemelha à Inquisição.

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Vale rememorar algo do pensamento de Bertrand Russell, postulando como, quando a palavra de certos sujeitos passa supostamente a conter a verdade absoluta, cria-se uma plêiade de especialistas para interpretar seus postulados, que, desta forma, adquirem poder, posto serem os detentores da verdade e “como qualquer outra casta privilegiada, usam de seu poder em seu próprio benefício” (RUSSELL, 1965)

Talvez uma das facetas mais perversas dessa relação da verdade relativa com o poder. O filósofo Julian Baggini vai defender que as verdades “são perturbadoramente fáceis de esconder, abusar ou distorcer” (BAGGINI, 2018). Talvez por essa razão, Baggini alerta como ““a defesa da verdade muitas vezes assume a forma de batalhas para defender verdades particulares que nos dividem” e, obviamente, contrapõem grupos divergentes num jogo de emulação.

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E não é exatamente o que fazem os que estão no poder? Aqueles da casta que dizem estar com a verdade e podem escondem, abusam e distorcem estão também com os beneplácitos, enquanto para os divergentes devem restar as sobras e a escravidão moral. Inúmeros são os exemplos dessa maquinaria que se estabelece, tendo como ferramenta a verdade, uma verdade que atende a interesse de um grupo, em detrimento dos demais.

Contudo, mesmo com exemplos tão odiosos que a História oferece, o comportamento de muitos segue nessa direção, atualmente. Alguns por perversidade, outros por desconhecimento de que entre os humanos o que prevalece não é ser binário, digital, mas o ser analógico. Tal como existem infinitos números e frações entre os dígitos zero e um, também assim são os humanos. Entre o bem e o mal, tanto como entre o certo e o errado, o falso e o verdadeiro, existem infinitos arranjos. Porque a natureza intrínseca do humano é do infinitismo de características que, apesar de assemelhar enquanto espécie, distingue infinitamente enquanto sujeito. A espécie é singular, mas o sujeito é infinito em seu pensar, sentir, conviver, agir.

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Esse esquema de terror materializa-se no comportamento de certos grupos de buscarem, por todos os meios, desestimular o sujeito a pensar, porque, certamente, um pensar divergente pode levar à insubordinação e à subversão com risco para o ordenamento ideológico em vigor. Algo que, obviamente, beira ao sadismo, à medida que apenas os escolhidos integrantes de determinado agrupamento podem gozar do direito de pensar, ditar a cartilha a ser seguida, estabelecer uma espécie de “Santo Ofício” da ortodoxia ideológica, enquanto os divergentes são os hereges, que precisam ser caçados, julgados e punidos, caso insistam em…pensar e emitir opiniões.

Neste sentido, a persistir essa "inquisição" ideológica, estaremos estabelecendo uma nova era do emburrecimento, similar ao que ocorreu nas trevas da Idade Média, em que pensar fora do credo era o caminho mais próximo para a fogueira. E tanto de conhecimento e cultura terão se perdido pela censura e o amordaçamento patrocinado por arrogantes vestais embevecidos com a ilusão de terem o domínio da verdade, para impor aos demais o que seja certo ou errado, passível de condenação ou não.

Num cenário distópico assim será necessário um novo Iluminismo, com uma nova forma de utilizarmos a linguagem, para nos redimir e recolocar o humano analógico como ator principal de sua história, ressignificando, inclusive, o conceito de verdade, sob o arrimo de um relativismo da razão, em que várias verdades poderão conviver, sem que se autorize a supremacia de uma sobre a outra.

NOTAS (1) Para consultar as referências bibliográficas, clique neste link ou nas expressões exibidas entre parênteses, na cor azul, ao longo do texto.

(2) Este ensaio fará parte do livro: "Princípio da Adversidade e outros Anarquismos", a ser lançado em breve pelo autor.

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  1. Brilhante, Helder, sua erudita reflexão a respeito da “ Santa Inquisição Democrática" que, na atualidade, se arroga o direito de acusar, condenar e crucificar quem não se subordinar a seus valores distorcidos, a suas verdades insustentáveis que não admitem contradições. Tempos difíceis e angustiantes em que as palavras são esvaziadas de sentido e passam a ser usadas como antíteses. Parabéns!

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