O céu azul Preenchido De barbas brancas Borboletas Amarelas Sobrevoam o Sol E a digressão Termina Na loucura ...

Dos tons de fogo sobre o mar

poesia paraibana antonio aurelio cassiano
 
 
 
O céu azul Preenchido De barbas brancas Borboletas Amarelas Sobrevoam o Sol E a digressão Termina Na loucura Há falta de ar Para ventilar As cavernas da memória Os tons de fogo Sobre o mar não são iguais Para o Atlântico e Pacífico Mas as duras lutas pela vida Em qualquer hemisfério do Planeta São os voos e as cores de todos nós "Rise and sunset" Portos e aeroportos, rodoviárias Chegadas e partidas A lucidez é só uma questão De quem, quando e onde Participa dela





Algum dia de 1944 Lembro de um oficial me buscando Em casa (Não sabia o que era Oficial) Morava num sítio Na bacia do Rio do Peixe E só conhecia São João A vila do Rio do peixe Só tinha andado de jumento Cavalo Besta Bicicleta Fui de trem! Não tinha mala Não sabia o destino Não podia voltar a pé Da bota da Europa Nunca tinha escutado falar Só sabia das botas de couro Que usava para trabalhar De armas Sabia usar uma "baladeira" E uma funda Caçavamos sim Naqueles dias Não por esporte Mas para comer... Era frio de junho E só conhecia um amigo Confiscado como eu De nossas casas No Sítio Casas Velhas Eu não tinha mais Pai nem Mãe Mas conhecia Maria O meu amor E o tal do trem seguia Indomável Incrivelmente veloz E aquele "trem que me levou de onde eu estava Aquele trem não podia me trazer de volta pra casa" Nossa primeira parada foi longe E recebermos roupas de guerra E sentíamos frio e fome Mas ainda precisávamos seguir E o trem que nos levava Voltou a repetir seu refrão: "Tem gente com fome, tem gente com fome..." E chegamos ao pré destino: Era um cais de porto Onde normalmente as mulheres Apaixonadas deveriam esperar Seus marinheiros... ainda que cruel O estereótipo seja! Mas nós não Nós íamos para a guerra Na Itália A tal da bota Eu ia morrer Em Monte Castelo Sem saber sequer desse nome! Era uma fria manhã De agosto Enfileirados na borda do cais Era um barco imenso Do tamanho da minha saudade de casa E a impressão de que embarcaria para outro mundo Mas derrepente Toca a cirene Que salvou os nove filhos Que eu haveria de fazer em Maria Uma tal Bomba Atômica Terminou a guerra O tirano derrotado E depois Tratei de ir fazer meus filhos. Outro trem "bring me home"

(O que poderia ser um relato do meu pai, que saiu da vida em 2013, mas que chegou a ser arrancado de sua casa, na Zona Rural do hoje Município de Poço de José de Moura, para ir servir de bucha de canhão na famosa batalha de Monte Castelo, na Itália, quando finalmente termina a segunda grande guerra, e ele volta pra casa antes de embarcar num porto de Natal, Rio Grande do Norte.)


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