Você pode até nem ter se dado conta, mas com certeza conhece alguém que "gosta" de dar notícias sobre mortes, sejam mortes de conhecidos, famosos ou, principalmente, mortes que resultaram de desastres. Essas pessoas não se comprazem com o mal alheio; ao contrário, ao darem as notícias demonstram um pesar genuíno e são daquelas que não perdem os velórios, motivo para mais comentários pesarosos no dia seguinte: “– Muitas coroas de flores.”, “– Me arrepiei toda com o que disse o padre.”, “– Coitada da viúva... porém poderia ter escolhido um vestido mais comprido e menos decotado, né?”.
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Lembro-me de uma repartição pública aqui na Paraíba onde, todas as manhãs, os diretores reuniam-se para o planejamento diário dos serviços. Uma das diretoras já entrava perguntando: “– Vocês sabem quem morreu?” E, em seguida, desfiava a morte, a doença ou o acidente que vitimara a pessoa, além da biografia do de cujus. Um dia, ela entrou calada na reunião. Descobriu-se depois que não houvera nenhuma morte de repercussão na véspera. O pior é que isso ocorreu também nos dois dias seguintes. Dava pena ver a pobre mulher pelos cantos, calada, quase em depressão. No quarto dia, entretanto, ela entrou na sala de reuniões radiante: “– Vocês nem imaginam a catástrofe: uma caminhonete caiu no açude da minha cidade e morreram quatro coitados afogados.” Tinha suprido a cota.
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Tenho um amigo bacana, superprestativo, careca, humano demais, que dá uma notícia de morte maravilhosamente bem. Mais ou menos como se dizia do jornal do querido Heitor Falcão, antigamente: “Notícia só é notícia quando dada no jornal de Agá.” O mesmo se dá com o senhor N. Digo sem medo de errar que uma morte anunciada por ele tem um caráter infinitamente mais emocionante do que qualquer outra via de informação.
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Por falar em morte, lembrei-me da história que meu amigo Djaci contou — segundo ele, real e acontecida na sua cidade natal. Deu-se que lá havia um cidadão que não perdia um enterro e sempre fazia questão de segurar numa das alças do caixão, porque entendia que essa era uma forma de mostrar prestígio com a família do morto — garantia de status. Porém, num enterro dos mais concorridos, depois que “beberam o morto” (umas 30 garrafas de cana), ele tentou segurar numa das alças do caixão, mas foi preterido pelos familiares do de cujus, que eram muitos. Encostou-se na porta da igreja e ficou a ver o féretro ser levado. Decepcionado e bêbado, não resistiu e gritou:
“– Ei, ruma de ingratos, podem socar esse defunto no... (monossílabo).”