Gonzaga Rodrigues e Nathanael Alves foram amigos inseparáveis. Construíram um relacionamento de amizade que saiu das redações dos jo...

Nathan e Gonzaga: amigos inseparáveis

gratidao gonzaga rodrigues nathanael alves amizade
Gonzaga Rodrigues e Nathanael Alves foram amigos inseparáveis. Construíram um relacionamento de amizade que saiu das redações dos jornais para se consolidar no abraço familiar, estendido na conversa de confidentes nos encontros do terraço.

Ambos se conheceram nas redações dos jornais, no final da década de 1950, jovens idealistas, trazendo do interior os trajetos de camponeses.

gratidao gonzaga rodrigues nathanael alves amizade
Em crônica da década de 1970, Gonzaga falava da ausência das conversas com o amigo Nathanael. A comunicação de massa afastara ambos do bate-bate noite adentro, da confissão íntima, superando a informação dos jornais.

Nessa crônica de saudade, o cronista falava do retorno aos poemas do livro Eu, repassando imagens de antigas leituras. A memória do universo do poeta na “imagem que deixou de ser abstrata, ideia quase sempre evanescente”. Augusto dos Anjos, muitas vezes, foi a principal conversa entre ambos.

Para Gonzaga, na sua poesia, Augusto exprime a perfeição da arte da Renascença, porque é esculpida ao modo de grandes pintores dessa época, fazendo lembrar alguns dos tempos modernos. Para ele, em Augusto, as ideias se animam, tomam forma, libertam-se por inteiro no estado de palavra. Mais do que o ritmo, as imagens tomam todo o espaço na poesia desse paraibano.

Em torno de Augusto, Gonzaga e Nathanael travam um diálogo:

– Quer dizer que Augusto não foi poeta?
gratidao gonzaga rodrigues nathanael alves amizade
Augusto dos Anjos
– Foi escultor dos seus próprios sonhos – atalhou Nathan.
– Sim. Picasso, Braque, Dalí e tudo o mais não fizeram mais do que pôr a mão nas imagens de Augusto.
– Era um pintor, então!
– Se tivesse mão para isso!

Cedo descobri que esses jornalistas meigamente afetivos, sempre prontos a nos atender, motivaram nosso acesso aos livros. Ajudaram a desvendar mistérios da alma e a dispersar nuvens da mente sorumbática.

Quando me aproximei desses dois amigos, a solidão de Serraria e a de Arara me atormentavam. Carregava devaneios íntimos e pensamentos que não conseguia manifestar.

Lembro-me do Nathanael Alves que descobríamos nas conversas em seu terraço e pela leitura de suas crônicas. Ele nos escutava com seu silêncio. “Parece que havia uma fusão, um plasma, entre o silêncio e o nosso falatório”, escreveu Gonzaga.

gratidao gonzaga rodrigues nathanael alves amizade
gratidao gonzaga rodrigues nathanael alves amizade
Gonzaga Rodrigues / Nathanael Alves EPC
Esses dois fecundos jornalistas, com amabilidade, trouxeram ânimo e induziram-me a avançar na íngreme subida para descobrir saberes. Colocaram os livros em minhas mãos, ajudando-me na escolha das leituras e na depuração do estilo.

Por causa deles, anos depois, estava desmudada a minha fisionomia de lavrador acanhado e taciturno.

Quanto bem me fizeram! Na ânsia pela liberdade, me ensinaram a lutar pelas liberdades. A liberdade na amplidão das artes, a liberdade que sai das páginas dos livros.

Ambos influenciaram minha vida de leitor. A bênção literária estendeu-se, alimentada pelo abraço fraterno. Deram-me o privilégio do enlevo da suprema visão da arte. Ensinaram-me que a poesia é a flutuação do espírito e nasce da vida, como defendia Anatole France. A poesia suaviza a vida.

O modo como eles sempre me acolheram lembra os gestos dos pastores atenciosos aos sinais no horizonte.

COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE
  1. Bonita a sua fidelidade aos dois amigos, Nunes. Parabéns. Francisco Gil Messias.

    ResponderExcluir

leia também