A abertura do Festival Literário Internacional da Paraíba, FliParaíba, no último dia 27 de novembro, aconteceu naquele lugar especial que é o Centro Cultural São Francisco. Lugar que frequento desde menina, onde dei os meus primeiros beijos por entre os arcos, por entre os azulejos portugueses. Uma orquestra de sanfonas me fez chorar. E a filha de Vital Farias, cantando junto — Margarida — mais lágrimas, por entre o barroco e os anjos daquela capela da Nave Central.
Aline Cardoso falou que se criou transitando nas ladeiras do Roger, numa história de exceção, e que a poesia importa. Dá materialidade a ela e ao mundo. E, no corpo, devolve a dignidade. “A palavra é flecha”, disse ela. E a sua flecha me atingiu. Citou Gloria Anzaldúa: Escrevam com os seus olhos, como uma pintura, e com os pés, como uma dançarina. Não deixem as tintas coagularem nas suas canetas e ponham as suas tripas no papel. Aline cantarolou ao final, o que me deu corda para fazer o mesmo. E fiz!
Bernardina Freire UFPB
José Manuel Diogo, nosso curador, citou Milton Hatoum: também a língua como pertencimento, a quem respira, é chão e cria unidade. Língua que é reparo da ausência, do silêncio, e que é um gesto político. Antes, não nos reparávamos!
Silviano Santiago, todos os prêmios. Um homem elegante e de longa estrada. Falou da COP30, do G7, da tarefa de aprender o mundo, da busca de novos sentidos. E tocou nas feridas da língua portuguesa europeia, colonialista e imposta. O trilinguismo (descendência africana e dos povos indígenas) e a nossa oralidade versus a escrita europeia. Evocou Manuel Bandeira, no Recife. E por aí foi… A língua como território de cidadania.
Silviano Santiago USP
De Andrea Nunes ouvi novamente a escrita de escrevivência: seus relatos como promotora de Justiça, do gênero policial como um gênero masculino — que o diga Catherine Green, contemporânea de Edgar Allan Poe. E ela, inspirada nas mulheres rendeiras, nas várias mãos, no tecido cultural, na união de vários pontos, falou de uma NOVA RENASCENÇA!
Bráulio Tavares
Bráulio Tavares, quando fala, a gente é pego pelos cabelos. Palavras como memória coletiva. A norma culta. Uma palavra está viva desde que esteja na memória de uma pessoa.
Itamar Vieira Junior — me perdoe, mas não consegui o seu autógrafo para o meu querido Torto Arado. Como esquecer daqueles nomes? Bibiana e Belonízia. Cadência e harmonia são expressões de vida. No canavial onde trabalhava, gravava e transcrevia; o escritor como intermediador com o leitor. Nomes e lugares.
Por entre livros, lançamentos e encontros literários, circulei com André Cananéia, Neide Medeiros, André Ricardo Aguiar, Cyelle Carmen, Alexandre Macedo, Diógenes Chaves, o senhor Alberto Santos, Bruno Gaudêncio, Magno Nicolau,
Agradeço o convite do secretário de Cultura, Pedro Santos; a Naná Garcez; ao curador Pedro Miguel; a Renata Escarião, que tão bem conduziu e apresentou as mesas; a Hildeberto Barbosa e Alberto Santos (secretário de Cultura de Portugal e escritor); e a Sandra Raquew, que fizeram parte da minha mesa: “O corpo político da língua – quando a língua é fronteira e trincheira. A língua como lugar de poder, exclusão e reconstrução. Palavras como armas e pontes.”
Hildeberto Barbosa, Ana Adelaide Peixoto, Sandra Raquew e Alberto Santos (Secretário da Cultura de Portugal) no FliParaíba 2025
A União / EPC
Comecei a minha fala com a poesia de Vitória Lima: “Quanto mais choro / mais passo batom”, e encerrei cantarolando Pagu, de Rita Lee, e com Giovana Madalosso (Suíte Tóquio Batida Só): “Precisamos meter a língua na língua que também é nossa e beijar na boca a liberdade de não dever verbo a ninguém.”
A União / EPC


























