A abertura do Festival Literário Internacional da Paraíba, FliParaíba, no último dia 27 de novembro, aconteceu naquele lugar especial qu...

Flashes da FliParaíba

fliparaiba festa feira literaria paraiba literatura
A abertura do Festival Literário Internacional da Paraíba, FliParaíba, no último dia 27 de novembro, aconteceu naquele lugar especial que é o Centro Cultural São Francisco. Lugar que frequento desde menina, onde dei os meus primeiros beijos por entre os arcos, por entre os azulejos portugueses. Uma orquestra de sanfonas me fez chorar. E a filha de Vital Farias, cantando junto — Margarida — mais lágrimas, por entre o barroco e os anjos daquela capela da Nave Central.

fliparaiba festa feira literaria paraiba literatura
O evento, um encontro que celebra a literatura, a cultura e a diversidade da língua portuguesa e criado em 2024, reuniu autores do Brasil, Portugal, Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau e Moçambique. O tema deste ano foi: “Nossa Língua, Nossa Gente – Ancestralidade, Identidade e o Futuro da Democracia.”

Aline Cardoso falou que se criou transitando nas ladeiras do Roger, numa história de exceção, e que a poesia importa. Dá materialidade a ela e ao mundo. E, no corpo, devolve a dignidade. “A palavra é flecha”, disse ela. E a sua flecha me atingiu. Citou Gloria Anzaldúa: Escrevam com os seus olhos, como uma pintura, e com os pés, como uma dançarina. Não deixem as tintas coagularem nas suas canetas e ponham as suas tripas no papel. Aline cantarolou ao final, o que me deu corda para fazer o mesmo. E fiz!

fliparaiba festa feira literaria paraiba literatura
Bernardina Freire UFPB
Bernardina Freire veio de Santa Rita e fincou os pés no campo memorialista. Citou Milton Santos — a língua como território —, Conceição Evaristo e Krenak. A sustentação da língua pelo imaginário: um chão simbólico, construção de pertencimento. Onde há língua, há corpos! Defesa da diversidade linguística e da democracia cultural. A língua é escrevivência! (também Evaristo).

José Manuel Diogo, nosso curador, citou Milton Hatoum: também a língua como pertencimento, a quem respira, é chão e cria unidade. Língua que é reparo da ausência, do silêncio, e que é um gesto político. Antes, não nos reparávamos!

Silviano Santiago, todos os prêmios. Um homem elegante e de longa estrada. Falou da COP30, do G7, da tarefa de aprender o mundo, da busca de novos sentidos. E tocou nas feridas da língua portuguesa europeia, colonialista e imposta. O trilinguismo (descendência africana e dos povos indígenas) e a nossa oralidade versus a escrita europeia. Evocou Manuel Bandeira, no Recife. E por aí foi… A língua como território de cidadania.

fliparaiba festa feira literaria paraiba literatura
Silviano Santiago USP
De Inês Pedrosa, peguei o autógrafo do meu Faz-me falta. Ouvi-a pouco, pelo som e pelo sotaque. Confesso que tenho lá as minhas dificuldades com o português de Portugal. Falou do percurso das mulheres no século XX, século do encontro e do amor como escolha.

De Andrea Nunes ouvi novamente a escrita de escrevivência: seus relatos como promotora de Justiça, do gênero policial como um gênero masculino — que o diga Catherine Green, contemporânea de Edgar Allan Poe. E ela, inspirada nas mulheres rendeiras, nas várias mãos, no tecido cultural, na união de vários pontos, falou de uma NOVA RENASCENÇA!

fliparaiba festa feira literaria paraiba literatura
Bráulio Tavares
Odete, da Guiné-Bissau, foi tanta coisa que não cabe aqui: deputada, ministra, reitora, poeta, e dessa terra imensa que é a sua Guiné. Cantou lindamente na sua língua e ecoou os aplausos.

Bráulio Tavares, quando fala, a gente é pego pelos cabelos. Palavras como memória coletiva. A norma culta. Uma palavra está viva desde que esteja na memória de uma pessoa.

Itamar Vieira Junior — me perdoe, mas não consegui o seu autógrafo para o meu querido Torto Arado. Como esquecer daqueles nomes? Bibiana e Belonízia. Cadência e harmonia são expressões de vida. No canavial onde trabalhava, gravava e transcrevia; o escritor como intermediador com o leitor. Nomes e lugares.

Por entre livros, lançamentos e encontros literários, circulei com André Cananéia, Neide Medeiros, André Ricardo Aguiar, Cyelle Carmen, Alexandre Macedo, Diógenes Chaves, o senhor Alberto Santos, Bruno Gaudêncio, Magno Nicolau,
fliparaiba festa feira literaria paraiba literatura
Thélio Farias, Audaci Júnior, Esmejoano. O ruído das letras rugiu. Ainda teve Edney Silvestre e o seu livro O Último Van Gogh, que ele, a cada momento, inventava dançante no milharal, dizendo “merda!” para inaugurar um boa sorte! Afonso Cruz e a sua Boneca de Kokoschka, que lemos no nosso Clube do Livro ano passado, e tantos e tantos outros escritores e facilitadores de oficinas. Ciganos e danças com povos originários; Lukete, Maria Gadú, Mariana Aydar nos causos e shows. Um pátio por entre pedras centenárias e a nossa língua dançante.

Agradeço o convite do secretário de Cultura, Pedro Santos; a Naná Garcez; ao curador Pedro Miguel; a Renata Escarião, que tão bem conduziu e apresentou as mesas; a Hildeberto Barbosa e Alberto Santos (secretário de Cultura de Portugal e escritor); e a Sandra Raquew, que fizeram parte da minha mesa: “O corpo político da língua – quando a língua é fronteira e trincheira. A língua como lugar de poder, exclusão e reconstrução. Palavras como armas e pontes.”

fliparaiba festa feira literaria paraiba literatura
fliparaiba festa feira literaria paraiba literatura
fliparaiba festa feira literaria paraiba literatura
Hildeberto Barbosa, Ana Adelaide Peixoto, Sandra Raquew e Alberto Santos (Secretário da Cultura de Portugal) no FliParaíba 2025
A União / EPC
Comecei a minha fala com a poesia de Vitória Lima: “Quanto mais choro / mais passo batom”, e encerrei cantarolando Pagu, de Rita Lee, e com Giovana Madalosso (Suíte Tóquio Batida Só): “Precisamos meter a língua na língua que também é nossa e beijar na boca a liberdade de não dever verbo a ninguém.”

COMENTE, VIA FACEBOOK
COMENTE, VIA GOOGLE

leia também