setembro 20, 2015
A voz descia de um edifício de apartamentos, aqui perto. Uma voz suave. Voz de quem está de bem com a vida. E quem está de bem com a vida, ...
A voz descia de um edifício de apartamentos, aqui perto. Uma voz suave. Voz de quem está de bem com a vida. E quem está de bem com a vida, canta. Ninguém canta com raiva. Não era a dona do apartamento. Acho que não. Talvez até tenha acordado mal humorada. E estou receando que ela mande a sua funcionária se calar.
Mas há um ditado que diz: “quem canta, seus males espanta”. A moça cantava, os automóveis passavam, o Sol brilhava lá no alto, as árvores sorriam com as cócegas que o vento lhe provocava, os pássaros cantavam, era mais um dia para a gente viver.
A moça cantava. Mas nem todo mundo pode cantar no trabalho. O coveiro, por exemplo, não deve cantar, enquanto está levando o caixão para a cova. Mas, tenho certeza, de que os bem-te-vis jamais se calarão diante de um dia amanhecendo. Pelo menos é que ouço, todos os dias, com a chegada da madrugada.
Acontece que a voz da moça era de uma suavidade encantadora. E ouvindo-a, disse com os meus botões, eis aí uma pessoa feliz. Vá ver que a moça tem muitos problemas, mas, quem não os tem? Vá ver que o salário é pequeno, que algum filho, ou o marido, são motivos para o choro e não para o sorriso. Muita coisa há para a gente chorar.
A verdade é que nem todo mundo pode trabalhar cantando, seja o desembargador Marcos Cavalcanti, seja o governador Ricardo Coutinho. Cantar é um privilégio. Conheci um general que não cantava, mais assobiava.
Voltemos à moça. Que brandura de voz, tão suave que motivou esta crônica. Abelardo Jurema Filho canta que é uma beleza. Nisso não puxou ao pai, que preferia o bom discurso, ao canto.
É saudável cantar, é saudável sorrir, é saudável dar um cumprimento amistoso. Canta Abelardo, mesmo que não seja eleito para a Academia!
setembro 20, 2015
setembro 20, 2015
F oram muitas, repito. Repito e continuo, pois o assunto foi de coluna recente, aqui neste espaço. Continuo referindo-me aos nossos desembar...
Foram muitas, repito. Repito e continuo, pois o assunto foi de coluna recente, aqui neste espaço. Continuo referindo-me aos nossos desembargadores, sobretudo aqueles com quem privei de certa intimidade. E este que trago agora ao texto não podia ficar esquecido. Ele teve uma grande influência em minha vida. Teve muito de pai, pois mirei-me muito no seu exemplo. Com ele muito aprendi. Refiro-me a Osias Nacre Gomes. Fiquemos apenas, com o Osias, com quem trabalhei por muito tempo, ele como Secretário do Interior do governo de José Américo e eu como seu assessor direto.
Osias era um dínamo. Escrevia quase correndo. Daí ser frequente ver o suor escorrendo na testa, quando estava concentrado, redigindo. Ele confiava muito em mim. Pois não é que me escolheu para substituir o juiz de Santa Rita, Dr. Carlos Coutinho?
Sei não. Só sei que me de dei bem com a nova experiência.
Osias me ensinou demais. Um homem alegre, culto, de uma honestidade admirável, hoje cada vez mais rara...
Chegou a desembargador. Escreveu um livro, cujo título não me lembro agora, em que conta muita coisa de sua vida. Muita justa a homenagem do nosso Tribunal de Justiça de colocar o nome de Osias na sua Biblioteca.
Esse homem simples, que muito me estimulou, lia e dizia que gostava de minhas crônicas. Religioso, cristão convicto, conhecia a Bíblia a fundo.
Tinha um neto, muito amigo nosso, que o admirava demais, que também é dado às letras e escreve muito bem: Cleanto Gomes Pereira. Que, aliás, vai lançar mais um livro no próximo mês de novembro. Se Deus quiser, estarei lá, para os abraços e autógrafos.
Osias Gomes, um exemplo de homem. Muitas vezes, escrevia assobiando. Ele só errou numa coisa. Quando me convidou para representá-lo numa ação penal. E o advogado opositor era Renato Bastos, que me deixou o tempo todo como se estivesse na Groenlândia, com as mãos geladas.
Para mim o nosso Osias nunca morreu. Continua e continuará vivo na minha memória e no meu coração.
Não posso esquecer do nosso desembargador Francisco Espínola, um homem de constante bom humor, de uma simplicidade que comovia. Sua filha, nossa amiga Ana Cândida, que foi minha vizinha por muito tempo, é um exemplo de bondade e inteligência. Seus pontos de vista sempre se coincidiam com os meus. Por exemplo,e la é uma grande admiradora de Fernando Henrique, como escritor. Concordo com ela em gênero e número.
Desembargadores... A verdade é que há muitos que admirei. É o caso do meu amigo Onildo Farias, que com os olhos de seu anjo de guarda, Terezinha vê tudo bem na vida.
setembro 20, 2015
setembro 20, 2015
U ma catedral de livros começou a ser construída no dia 18 de abril de 1857 e já está bastante avançada. Que coisa extraordinária! Mas, só n...
Uma catedral de livros começou a ser construída no dia 18 de abril de 1857 e já está bastante avançada. Que coisa extraordinária! Mas, só no final, é que vou dizer que catedral é esta.
Voltemos um pouco na História. Jesus nunca construiu templos de pedra. Ele sabia da fragilidade das construções materiais feitas pelos homens. Tanto é assim que nunca edificou um templo. Falava nas igrejas dos outros. Para ele, a verdadeira catedral é a de sua doutrina consoladora, o Evangelho, que significa Boa Nova.
Foi tão humilde que nasceu numa manjedoura, entre animais domésticos. Ele sempre dizia que era humilde de coração e que não tinha uma pedra onde repousar a cabeça. O importante para ele era o conhecimento a Verdade que liberta. Não possuía igrejas. Tanto é assim que pregava ar livre, sentindo no rosto o beijo da brisa matinal. Assim foi quando proferiu o seu primeiro sermão, o Sermão da Montanha, onde está resumida toda a sua Doutrina de luz.
Jesus também disse aos discípulos que seu precursor, João Batista era um homem simples, que não usava vestidos finos, nem morava em palácios... Isso ficava para os reis...
Portanto, sua catedral é o Evangelho, que não é feita de cimento, pedra, cal e ferro. Uma catedral da sabedoria, que liberta o homem da ignorância.
E a catedral que me mencionei no início é a catedral de livros espíritas, que se iniciou no dia 18 de abril de 1857, em Paris, com o lançamento de “O Livro dos Espíritos”, por Allan Kardec, há 158 anos. De lá para cá, quantos livros estão sendo publicados, formando uma impressionante literatura, escrita pelos homens e pelos espíritos! Duvida? É só ir às nossas livrarias, onde os livros espíritas estão entre os mais vendidos. Esta é a verdadeira catedral que consola e liberta.
setembro 20, 2015
setembro 20, 2015
A ndei pensando nos dias da semana e me veio a pergunta: “Qual o seu dia da semana predileto?” E eu, com meus botões, respondi sem pestaneja...
Andei pensando nos dias da semana e me veio a pergunta: “Qual o seu dia da semana predileto?” E eu, com meus botões, respondi sem pestanejar: Quinta-feira. Mas, depois me veio um ligeiro remorso. Por que me esqueci do domingo, o dia em que eu cheguei ao mundo, numa fria tarde em Alagoa Nova? Não, curioso, nem pense que vou dar aqui o ano do meu nascimento. E deixe de estar espiando a idade dos outros, que isso é muito feio. É negócio para velho que não tem o que fazer. Vê lá se uma criança ou um jovem se preocupa com a idade de ninguém... Esqueça, portanto, a sua idade, a idade dos outros, lembrando que a gente não sente a idade que tem, a gente tem a idade que sente.
Mas, voltando ao meu dia predileto, não é o domingo, é a quinta. Também namoro um pouco com a segunda, que para muitos é um dia muito amargo. Acho o sábado muito simpático, e tenho certeza de que se houvesse um plebiscito, o sábado seria eleito pela grande maioria. O sábado é o dia em que você aproveita para viajar, fazer compras, fazer o que não pode fazer nos outros dias. O sábado é tão forte que já está contaminando a sexta. Muita gente só está trabalhando na sexta de manhã. Até mesmo em certas repartições. A tarde é para a viagem, o lazer, o descanso, embora muitos assim não pensam. Aproveitam a folga para o trabalho. São os chamados “workaholics”, os viciados em negócios e nada de ócios.
Voltando ao assunto que vínhamos tratando, o espaço de tempo rigorosamente dedicado ao lazer, hoje, são: metade da sexta, sábado e domingo. E como eles interferem no nosso humor, na nossa disposição de viver! A alegria do brasileiro começa na sexta, cuja tarde é para arrumar as malas, que, como disse o poeta, ninguém é de ferro. Você já procurou um médico da sexta para o domingo? Difícil encontrá-lo. Deus me livre de adoecer nos fins de semana. A maioria dos nossos esculápios está nas chácaras e fazendas.
Agora chegou a vez da segunda. Poucos sorrisos no rosto, muita ressaca na alma e muitos telefonemas mal humorados! Mas, sabe qual é o motivo disso? É que pouca gente se prepara para a segunda-feira. Abusa do sábado e do domingo, come demais, bebe demais, e nada de se preparar para a luta que se inicia na segunda. Nada de um pouco de meditação, de reflexão, de leitura, de boa música, de boas caminhadas, de um contato mais íntimo com a Natureza.
Houve tempo em que a semana tinha seis dias úteis. Será, então, que o domingo é inútil? Inútil, sim, para quem não sabe utilizá-lo... A verdade é que a semana está reduzida a quatro dias e meio. Começa na segunda de manhã e termina na sexta no final da manhã...
Ah, os dias da semana! Como eles se parecem com as pessoas! E como as pessoas lhes sofrem a influência! E você, qual o seu dia predileto? Diga, e eu lhe direi quem é você.
setembro 20, 2015
setembro 13, 2015
N a coluna passada recordei as togas, isto é, os magistrados que admirei e com os quais convivi mais de perto. Voltarei ao assunto em breve,...
Na coluna passada recordei as togas, isto é, os magistrados que admirei e com os quais convivi mais de perto. Voltarei ao assunto em breve, pois há mais para falar sobre essas togas. Mas agora me deu vontade de recordar os professores que mais influíram na minha vida.
E lá vou eu mexer no passado, novamente, coisa que nem gosto muito de fazer, pois adoro o presente. Mas, como diz o ditado, recordar é viver, e vamos trazer à lembrança aqueles mestres que me fascinaram, não só com a palavra, mas sobretudo com o comportamento. A sabedoria sempre ao lado da ética. Foram professores que jamais diriam, ao se encaminharem para a sala de aula: “vou vender meu peixe”. Que prosaísmo!
Não sei por onde começar nessa gostosa evocação de meus tempos de estudante. Que tal o antigo Lyceu Paraibano? Foram tantos os mestres que me encantaram naquele antigo educandário...
E eis que me chega à lembrança o nosso Otacílio de Albuquerque: sempre muito bem vestido, muito asseado, a voz mansa e o giz escrevendo equações no quadro-negro. Como a Matemática se tornava fácil em sua boca! Com que dignidade ele se impunha durante a aula. Um silêncio de se ouvir a batida do próprio coração.
E vamos a outro professor. Que tal evocar o mestre Mauro Coelho, professor de História da Civilização, matéria que ele enfeitava com a sua imaginação, o seu bom humor e um profundo senso crítico. Sabia encobrir a verdade histórica com aquele manto da fantasia a que aludiu o velho Eça. Nas suas lúcidas preleções, duvido que alguém cochilasse ou bocejasse. Nada de retórica, nada de pedantismo erudito. O riso não faltava nos seus lábios, um riso que ele, discretamente, aparava com um lenço. Com aquela anedota, segundo a qual o impetuoso Pedro I teria sido acometido de uma forte cólica, antes de gritar o “Independência ou Morte”, fazia a turma sorrir. Lembrar que o sorriso faz parte de uma boa didática. Mauro Coelho foi fundador do jornal católico “A Imprensa”, exerceu o jornalismo e a advocacia para chegar a desembargador, no Rio de Janeiro.
Continuando nas lembranças, que tal falar do professor Manuel Viana, que me ensinou Metafísica, na Faculdade de Filosofia? Que talento para ensinar!... Entrava na sala vestido de paletó e gravata, mas com o seu entusiasmo didático, terminava tirando o paletó e a gravata, num meio strip-tease.
Quero terminar com o jurista Miguel Reale, no curso de especialização de Filosofia de Direito, na nossa Universidade. Pequeno de estatura, mas gigante na oratória. Ensinava andando pra lá e pra cá, numa desenvoltura que comovia.
E os outros mestres? Ah, foram tão admiráveis... Mas, ficam para outra oportunidade.
setembro 13, 2015
setembro 13, 2015
A h, de muita coisa. Tenho pena das pessoas frias, incapazes de um cumprimento cordial. Que parecem cegas para os outros. Tenho pena das pes...
Ah, de muita coisa. Tenho pena das pessoas frias, incapazes de um cumprimento cordial. Que parecem cegas para os outros. Tenho pena das pessoas frias, inabordáveis, que parecem trazer atrás das nádegas: o seguinte aviso: “Mantenham a distância”.
Tenho pena dos vaidosos, que se consideram melhores do que os outros. Que vivem com os olhos nos carros alheios, para ver se são do ano ou de melhor marca.
Tenho pena das pessoas sem paciência, que vivem reclamando tudo da vida. Reclamam do trânsito, da chuva, do sol, da falta de dinheiro, da falta de saúde, da falta de tudo, enfim.
Posso ter, e tenho, muitos defeitos, menos o da impaciência. Aqui para nós, eu sei esperar. A paciência é tudo. E há casos em que você é obrigada a esperar mesmo. Quando está interno num hospital, no caso da mulher grávida... E como ela sabe esperar o grito que vai sair de seu ventre. E não tenha paciência para ver.
Olhe bem, fale bem, e sua vida será outra coisa. E cuidado, muito cuidado mesmo, com uma moléstia chamada maledicência. A mania de falar mal dos outros.
A vida é bela. Nós é que a tornamos feia. Vou recomendar uma coisa que venho fazendo há muito tempo. Procure olhar bem. Olhe bem e tudo se iluminará. Muita gente não gosta do barulho das crianças, daquele corre-corre, dos gritos, daquela inquietação. Pois bem, olhando-as, Jesus disse: “Vinde a mim as criancinhas, porque dela é o Reino dos Céus”.
Tudo é uma questão de saber olhar a vida. Vamos, minha gente, vamos saber olhar. Lembrem do ditado: “O pior cego é o que não quer ver”. E da grande e poética frase que Jesus nos deixou quando nos convidou a “olhar os lírios do campo”. É o mesmo que dizer: olhai o amanhecer, a floração das árvores, o sorriso de um recém-nascido. Repito: Viver bem é olhar bem!
setembro 13, 2015
setembro 06, 2015
E eis que, mais uma vez, me hospedo num hospital, que não é outro senão o Memorial São Francisco, um modelo de hospital onde o tratamento c...
E eis que, mais uma vez, me hospedo num hospital, que não é outro senão o Memorial São Francisco, um modelo de hospital onde o tratamento cordial e humanizado é uma prioridade, graças à dedicação de seu diretor, Dr. Ítalo Kumamoto. Lembrar que a palavra hospital vem de hospedagem, se não me engano. E hospedagem é coisa boa.
Leio, ao sair de um supermercado, o seguinte lembrete: “Volte sempre”. Será que poderíamos dizer isto de um hospital? Evidente que sim. E feliz daquele que encontrar um hospital. Dizia o tribuno Alcides Carneiro: “Infeliz de quem procura um hospital e feliz de quem o encontra”.
Mas a beleza de um hospital está no silêncio. E silêncio é a melhor coisa da vida. É graças a ele que a gente pensa, que a gente reflete, já dizia um filósofo. E não há melhor adjetivo para qualificar o hóspede de um hospital do que “paciente”. O termo é exatamente este, para aquele que está enfermo e internado. E não seja paciente para ver... Pacientes os enfermos, pacientes as enfermeiras, pacientes os médicos.
Mas não é de hoje que sofro da coluna. Por causa dela já andei até numa cadeira de rodas, guiada pelo meu filho Germano, em plena Londres. E como passeamos!
Hospital vem de hospedagem, logo não pode ser coisa má. E como é bom ouvir a voz do silêncio, dentro de um hospital... Silêncio é, sem dúvida, a coisa mais bela da vida, e que anda cada vez mais rara.
Não esquecer o médico que cuida de mim, Dr. Ronald Farias, a quem confio minha coluna, com aquela fé que transporta montanhas, segundo o dizer evangélico. De coluna, ninguém entende mais do que ele.
Saí do hospital, como entrei: sorrindo. Mas, não vi nenhuma placa dizendo: “Volte sempre!”
E já ia me esquecendo do livro. Hospital também é bom pra ler. O chato mesmo é aquela mangueirinha do soro pregada no nosso braço...
setembro 06, 2015
setembro 05, 2015
Q ue togas são estas, cronista? Ah, os desembargadores que me deixaram inesquecível impressão, com quem convivi mais de perto. Disse toga, p...
Que togas são estas, cronista? Ah, os desembargadores que me deixaram inesquecível impressão, com quem convivi mais de perto. Disse toga, pois toga é a vestimenta de trabalho do desembargador, assim como a farda é do soldado, a bata é do médico, a batina do sacerdote, e assim por diante.
E como gosto de escavacar a memória, relembro aqui alguns desembargadores que me deram ótima impressão. Cada qual com o seu temperamento. E já estou vendo, sorrindo e falando alto, o desembargador Júlio Rique, que foi Juiz de Menores por muito tempo. Um homem alegre, cuja presença fazia bem. Nunca o vi zangado. Teve uma filha adorável, inteligentíssima, chamada Sílvia, que deixou uma série de crônicas sob o título: “Sabe da última?” Ah, como gostaria de vê-las publicadas... Sílvia adorava o pai.
Tragamos agora à memória um príncipe, que muito me encantou: Mário Moacir Porto, que foi juiz de Bananeiras e só usava roupa branca. Elegante, fino, culto, sempre bem-humorado, Mário Moacir jamais sairá de minha memória. Lia minhas crônicas e dizia que eu tinha uma grande admiração pelas mulheres. A verdade é que Mário Moacir teve grande importância na minha vida.
Publicou um excelente livro de iniciação ao Direito, de uma didática admirável. Chegou a ser meu ídolo. Convidei-o para apresentar o lançamento do meu livro “O Papa e a Mulher nua”, e ele aceitou. Com muito humor, perguntou se eu desejava indispô-lo com a Igreja. E fez uma apresentação muito bem humorada.
E quem está chegando à imaginação é o desembargador Paulo Bezerril. Um admirador da música clássica. Tocava flauta e chegou a integrar a nossa Sinfônica. Foi um grande amigo meu, e também era cheio de humor. Dizia que as três coisas boas da vida começam pela letra M: Mar, Mulher e Música.
A consciência me pede citar o desembargador Flodoardo da Silveira, homem íntegro, que não cheguei a privar de sua intimidade. Certa vez, ele me presenteou com o livro clássico “O Ateneu”, de Raul Pompéia. Flodoardo falava pouco e ouvia muito. Se alguém lhe fizesse qualquer consulta jurídica, ele respondia: “O que diz a lei? Legalista cem por cento.
Outro que muito admirei foi o desembargador Severino Montenegro, que chegou a administrar o nosso Estado, durante a Ditadura. E outro grande mestre foi o inesquecível e genial Flósculo da Nóbrega. Muito culto, reservado e respeitadíssimo por todos. Deixou-nos um livro de introdução ao Direito que é um modelo de boa didática.
Encerro a crônica lembrando Pedro Damião, um desembargador simples, cujo grande prazer era, quando deixava o Tribunal, ir buscar o neto para passear. Um homem de uma simplicidade fora de série.
E a mulher desembargadora? Naquele tempo a saia não vestia toga, muito menos chegar à presidência, como foi o caso da desembargadora Fátima Bezerra, que foi minha aluna, na UFPB, com muita honra.
Mas, de todos os desembargadores, os que mais me ensinaram, por sua postura, foram o Mário Moacyr Porto e Paulo Bezerril. Paulo Bezerril não gostou quando soube que eu seguira a Magistratura. Chegou a dizer: “você na magistratura, levando a vida no interior, é como uma moeda que a gente joga no mato”. Mas, o que me agradava era vê-lo com sua flauta, na Orquestra Sinfônica, de que foi um dos fundadores...
setembro 05, 2015
agosto 31, 2015
Está pensando em comprar uma lembrancinha engraçada e criativa para aquele amigo nerd ou para o colega de trabalho? Dê uma olhadinha nessa...

Está pensando em comprar uma lembrancinha engraçada e criativa para aquele amigo nerd ou para o colega de trabalho? Dê uma olhadinha nessas lojas que vendem umas coisas bacanas e malucas. Talvez você encontre um boa inspiração nelas...
agosto 31, 2015
agosto 31, 2015
A beleza da vida está na diversidade. Deus sabe o que faz. Já imaginaram um mundo de pessoas iguais, coisas iguais, comportamentos iguais?....
A beleza da vida está na diversidade. Deus sabe o que faz. Já imaginaram um mundo de pessoas iguais, coisas iguais, comportamentos iguais?... Seria um inferno de monotonia, de tédio, de chatice. Daí as diferenças. Daí eu gostar de coisas que você não gosta. Mas, nem por isso vamos ficar distantes, hostis, indiferentes. Se você aprecia a cor azul e eu a vermelha, se você adora luta de boxe e eu o balé, se você detesta cidade grande e eu viva sonhado com uma fazendinha no interior, ouvindo o mugir das vacas e o canto dos passarinhos, que mal há nisso?
Se convivermos bem com uma pessoa não é porque ela pensa e age como nós. Talvez seja o contrário. Isto não significa que os dois sejam diametralmente opostos. Em toda amizade, em todo relacionamento mais íntimo, existem alguns pontos de contatos, de sintonia, de aproximação. Quando os dois são muitos iguais não tem graça. Lembrar que vivemos nos completando uns aos outros.
Há casais por aí, ajustadíssimos, vivendo na maior paz, embora sejam de temperamentos diferentes. E nisso é que está o mérito. cabe a cada um fazer uso da compreensão. Onde houver compreensão não haverá conflito. Compreender é perdoar tudo. Não queira que o outro seja igual a você, que pense como você, que aja como você. Cada um como Deus fez, ou melhor, como a evolução fez. A coisa mais difícil da vida – disse um psicoterapeuta – é você ser como os outros querem que você seja.
Certa vez, Jesus e seus discípulos – narra uma fábula – saíram a procura da cidade de Dalmanuta. Andaram, andaram e nada. Até que encontraram um homem deitado sob uma árvore. “Onde fica Dalmanuta? - Indagou Jesus ao homem. E ele quase que não respondeu, por preguiça. Assim, mesmo, levantou o pé e disse – “Fica por ali”... Jesus sorriu e continuou caminhando. Mais adiante, avista uma mulher em plena atividade doméstica, cuidando da comida e dos filhos, em sua humilde choupana. “Onde fica Dalmanuta?” – perguntou o Mestre – E ela, logo que avistou Jesus, limpou as mãos no avental, deixou todo o trabalho, e saiu a mostrar o caminho. Andou um bocado. Finalmente, apontou para o lado onde estava a cidade. Os discípulos ficaram admirados com tanta boa vontade. Jesus também. Como a mulher foi solícita, ativa, prestativa, solidária!
E saíram eles em direção a Dalmanuta, quando, a certa altura, um dos apóstolos pergunta: “Mestre, tive pena daquela mulher, parece sem marido... Bem que merecia uma companhia. Por fim veio a indagação: “Com quem ela deveria se casar”? Jesus sorriu e respondeu: “Com aquele preguiçoso”.
E teve razão Jesus. O homem da estrada muito teria de aprender com aquela mulher. Cada um de nós ensina com o exemplo, a nossa singular maneira de ser. O preguiçoso da fábula talvez tivesse outras virtudes. Toda a pessoa tem o seu lado positivo.
É na diferenciação que está o encontro da vida. O que seria da luz se não fosse a escuridão? Saber manter o equilíbrio dos contrastes – eis em que consiste a arte de viver!
agosto 31, 2015
agosto 30, 2015
E m todo aniversário, já viu, o telefone tocava e lá vinha a voz amiga, desejando-me muitos anos de vida. E dizia mais. Dizia que eu continu...
Em todo aniversário, já viu, o telefone tocava e lá vinha a voz amiga, desejando-me muitos anos de vida. E dizia mais. Dizia que eu continuasse sendo o homem que sou. Dizia isso com tanta sinceridade, que me deixava emocionado e encantado. Bastava eu completar mais um ano de existência, e lá vinha ele com sua mensagem fraternal, sincera, que terminava sempre com um “Deus o conserve sempre conosco”.
Jamais meu aniversário passou sem seu telefonema desse amigo, o que muito me comovia. E eu não fazia o mesmo com ele.
Ia dizer o nome dele, mas deixemos para o fim. Sua profissão era de livreiro e a sua livraria, que se chamava “Livraria Acadêmica”, primeiro ficava no térreo do “Paraíba Palace Hotel”, depois se transferiu para a rua Duque de Caxias. Lembrar que ele exercia a função de livreiro juntamente com a de advogado. E como advogado, gostava de discutir.
Repito, em todo meu aniversário (não escapou um) lá vinha sua voz amiga desejando-me felicidades, o que muito me comovia. Mensagem que vinha do coração, sincera. E eu nunca fiz o mesmo. Não sabia nem o dia de seu aniversário.
Acontece que o tempo foi passando, até que chegou o dia de seu silêncio, isto é, eu fiz aniversário e nada de seu telefonema, de sua mensagem. Eis um silêncio que mexeu comigo.
O que será que houve com o meu amigo? Cadê aquela voz suave me desejando muitas felicidades? Não, não quero dizer o seu nome. Só sei que seu silêncio me deixou triste. O que foi que houve? Não desejo revelar o seu nome, aqui, mas fiquei muito triste, profundamente triste.
Um homem sincero. Sincero e sério, esse nosso amigo era um exemplo de bom caráter. Adorava discutir, debater, como bom advogado que era. Sempre na defesa das boas causas.
Faz tempo que ele não telefona para mim, no meu aniversario. O que terá havido?...
agosto 30, 2015
agosto 23, 2015
P ois é, certa manhã, chega o meu neto, por telefone, me pedindo para ajudá-lo numa tarefa escolar. Tratava-se de uma entrevista com o avô, ...
Pois é, certa manhã, chega o meu neto, por telefone, me pedindo para ajudá-lo numa tarefa escolar. Tratava-se de uma entrevista com o avô, que, decerto, sabe mais coisa do passado do que ele, que ainda está com poucos anos de caminhada existencial.
“Vô, o tema é sobre o que é que já não existe mais, hoje em dia?” - Com essa intimação amável, ele começou a me entrevistar sobre costumes, indumentária, divertimentos e outras coisas de antanho.
Conquanto não seja um homem apegado ao passado, gostei daquele papo virtual. E assim, fui atendendo à curiosidade do menino, que, apesar de muito jovem, já participa de campeonatos de xadrez, é craque na Internet e que, quando era pequeno, vez por outra, vinha com perguntas embaraçadoras. Perguntas como esta: “quem é que escova os dentes do leão da Bica?”
Mas, vamos, aqui, no espaço exíguo de uma crônica, informando algumas coisas que hoje não se veem mais. Comecemos pela indumentária. Outrora não se via mulher vestindo calça comprida, muito menos a calça tipo jeans, que, quanto mais desbotada e esfarrapada, melhor. Mulher só usava saia e pronto, assim como padre só vestia batina preta e rezava a missa em latim.
E que dizer da bengala? Sim, para completar a elegância masculina, usava-se a bengala como ornamento, sem esquecer o chapéu, seja de massa ou de palhinha. E o chapéu estava tanto nas cabeças masculinas como femininas. Relógio só de algibeira. Era chique exibi-lo para consultar as horas.
Transporte coletivo? Ah, tínhamos os bondes. Bondes de Tambiá, Trincheiras, Cruz das Armas, Oitizeiro, Varadouro... E que segurança eles ofereciam! Vejamos mais. Veio-me agora o dente de ouro. Hoje ninguém o vê mais. O dente de ouro chegava a acompanhar o defunto. Ninguém o arrancava. Dava status.
O neto está pedindo mais, morrendo de rir. E vem a lembrança do cinema mudo, já imaginaram?... Isso mesmo, cinema mudinho da Silva. E havia quem o adorasse. E as refeições? Outrora a família comia reunida com todos os seus membros. O pai na cabeceira, a mãe ao lado, seguindo-se o filho mais velho e os demais. E que silêncio, que respeito! Havia mais ceia do que jantar. E ceia larga com inhame, batata doce, macaxeira, mungunzá, cuscuz e o delicioso pão francês.
Pijama, ceroula, também já não existem mais. Será que se acabou a “camisola do dia”, tão comum naquele tempo? Outra coisa em extinção: o solene pedido de casamento. O noivo chegava para o pai da moça e pedia, todo encabulado, a mão da filha...
Continuemos nossa conversa telefônica. Falemos agora dos ecológicos e bucólicos quintais, hoje em extinção. Desapareceu a terra sob os pés. Nos edifícios de apartamento não há mais lugar para os animais domésticos.
Antigamente... Mas, o garoto está me dizendo que o tamanho do texto já chegou no limite. Fiquemos por aqui. Ele cumpriu sua tarefa didática e eu a de cronista. E viva a vida que não pára. A vida que está sempre mudando. Viva a eternidade do efêmero.
agosto 23, 2015
agosto 22, 2015
P ois é, foi uma bela festa de confraternização a eleição promovida pela Academia Paraibana de Letras, com o objetivo de preencher a vaga de...
Pois é, foi uma bela festa de confraternização a eleição promovida pela Academia Paraibana de Letras, com o objetivo de preencher a vaga deixada pelo nosso Wellington Aguiar.
Fui chegando à Casa de Coriolano de Medeiros, acompanhado do meu filho Germano, arquiteto de projetos e de idéias, e fiquei maravilhado com o ambiente festivo. E não faltaram abraços, não faltaram sorrisos, já que a vida só é vida quando os homens se confraternizam.
A primeira pessoa com quem topei foi com o escritor José Mário, de recente imortalidade, que veio me abraçar. E se um simples abraço transmite cultura, senti-me enriquecido.
Vi, também, logo na entrada, a nossa Ângela Bezerra, com aquele sorriso muito mais bonito do que o da Mona Lisa. Não vi o poeta maior, Sérgio de Castro Pinto, não vi Maria das Graças, não vi Pepita. Decerto votaram mais cedo.
Damião, aqui para nós, está de parabéns pelo que vem fazendo pela Casa dos Imortais. Viva quem sabe administrar.
Houve a eleição, mas sem vencedor. Foi bom porque a gente vai ter outra festa, no segundo turno. Curiosamente, todos os candidatos sorriam, pois a vida sem sorriso, sem amor e sem confraternização é um saco...
Gostoso o bate-papo com o candidato Evandro. Discreto, fala baixa, falou em tudo, menos na eleição. Revi com muita alegria o nosso Gonzaga, que fala com a gente, sorrindo. Sorrindo ou mangando. Talvez os dois.
Para terminar, recebi um presente valiosíssimo. Não foi jóia, não. Ou talvez seja. Recebi o último livro do amigo Hildeberto Barbosa Filho, “Vou por aí”. Um título muito gostoso, que só poderia ser de crônicas. Estou ansioso para sair pelas páginas do livro, de mãos dadas com o autor.
Essa confraternização da Academia merece ser repetida logo. Não só pelo agradável reencontro com os amigos, mas também pelo gostoso lanche, café e bate-papo. Que venha o segundo turno.
agosto 22, 2015
agosto 16, 2015
O grande Chico Xavier chegou a dizer que “é melhor uma mentira que consola do que uma verdade que magoa”. Isso nos leva a algumas considera...
O grande Chico Xavier chegou a dizer que “é melhor uma mentira que consola do que uma verdade que magoa”. Isso nos leva a algumas considerações. Afinal, a mentira é um mal ou um bem? Depende, pois nem sempre a verdade deve ser dita. Estão aí os médicos que, em certas circunstâncias, são forçados a omiti-la diante do paciente.
O velho Eça já sentenciava que devemos “vestir a verdade com o manto diáfano da fantasia”. Nada de verdade nua e crua. Nada de franqueza demais. Diria ainda que a verdade é como a luz. Demasiado forte pode cegar. Não foi assim com o apóstolo dos gentios, Paulo de Tarso? Quando se defrontou com Jesus, que era a verdade, não suportou a intensidade de sua luz, ficando cego por algum tempo...
A mentira é uma ilusão e a vida muitas vezes precisa dessa ilusão... Por conseguinte podemos dizer aqui que a mentira é um mal necessário.
Quando eu era menino vivia rodeado de mentiras. Mentiras que vinham da boca dos adultos. Mentira de “papa-figo”, mentira da cegonha, mentira de Papai Noel, mentira de Satanás. Chegaram até a me informar que quem conseguisse atravessar o Arco Íris, mudaria de sexo. Ora vejam só...
E qual é a maior mentira de todos os tempos? Eu diria que é aquela que está no chamado livro sagrado afirmando que a mulher nasceu da costela de um homem, inaugurando, assim, o machismo no mundo.
A Justiça exige que o réu diga a verdade, só a verdade. Será que ele confessa, realmente, o que aconteceu? E o seu advogado usará de sinceridade?
A mentira é muitas vezes filha do medo. A criança, com medo de ser castigada, mente. É a vez de dizer que aquele que nunca mentiu que atire a primeira pedra...
E os jornais? Será que dizem sempre a verdade? E os políticos? Quer ver uma grande mentira, que está na História? Aquela que afirmava ser a nossa Terra o centro do Universo. Mentira que foi contestada pelos cientistas da época, a exemplo de Galileu e Copérnico. Quem estava no centro não era a Terra, mas o Sol. E o pobre Galileu, com medo de ser tragado pela fogueira da Inquisição, foi obrigado a mentir, a desdizer o que afirmava, baseado na realidade.
Dizer a verdade é um perigo, em determinadas circunstâncias. E corajoso é aquele que a prega, doa em quem doer. As grandes descobertas e invenções foram, muitas vezes, rejeitadas como mentirosas. E sabe de uma mentira que muita gente aceita como verdade? A que diz que os chamados mortos estão repousando no cemitério, aguardando o Juízo Final...
Pilatos, político inteligente, que vivia rodeado de mentiras, achou de fazer aquela famosa pergunta a Jesus: O que é a verdade? O mestre deu o silêncio como resposta. E fez muito bem.
Recordo que, no meu tempo de menino, minha mãe me dizia que quem mente, cria verrugas na mão. E eu morria de medo...
Mas, o importante é a verdade de cada um, como escreveu Pirandelo. E fiquemos por aqui, lembrando a recomendação de Jesus: "Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará".
agosto 16, 2015
agosto 15, 2015
P or motivo de uma crise de coluna lombar, em vias de fazer uma vertebroplastia, eis que me privo de ver e ouvir um diálogo de dois mestres,...
Por motivo de uma crise de coluna lombar, em vias de fazer uma vertebroplastia, eis que me privo de ver e ouvir um diálogo de dois mestres, dois gigantes da literatura paraibana: O professor José Mario da Silva, escritor a quem sempre estou rendendo homenagens, e a professora Elisabeth Marinheiro, consagrada mestre das letras, ambos de Campina Grande. O primeiro assumindo uma cadeira na nossa venerável Academia Paraibana de Letras, e a segunda, saudando, com muita ênfase, a chegada do mais novo imortal.
E por causa da cirurgia da coluna, fico aguardando o próximo lançamento da Revista da Academia, que, decerto, trará os discursos de ambos imortais.
Nunca vi uma eleição tão justa como esta de José Mário, um homem se uma simplicidade admirável. De uma sólida cultura, somada a uma notável modéstia e discrição.
Só sei que senti muito não ter podido estar presente para ver e ouvir esse diálogo de gigantes da nossa literatura. Elizabeth, minha grande amiga, a quem devo a honra de promover o lançamento do meu penúltimo livro “Lições de viver”, em Campina Grande, e José Mário da Silva, sob cujo olhos, caiu o livro, também de minha autoria: “A Dança do Tempo”. E, graças a Deus, Mário viu belezas no meu livro. Ele fez uma análise tão bem feita do meu texto que muito me entusiasmou.
Daí minha alegria de saber que os dois gigantes de nossa literatura, ambos da Rainha de Borborema, se encontraram na nossa Academia Paraibana de Letras para um duelo. Um saudando o outro, numa festa de alta cultura.
Mas, aqui pra nós, me sinto bem, com a minha consciência tranquila, em ter concorrido para esta merecida vitória acadêmica de José Mário da Silva, autor dos excelentes livros “Mínimas leituras, múltiplos interlúdios” e “Os Abismos do Ser”, que agora assume a honrada cadeira de Ariano Suassuna.
agosto 15, 2015
agosto 09, 2015
C omeço engatilhando a seguinte pergunta: Se, num cercado, houvesse um rebanho de cem ovelhas, e uma delas conseguisse pular o cercado, quan...
Começo engatilhando a seguinte pergunta: Se, num cercado, houvesse um rebanho de cem ovelhas, e uma delas conseguisse pular o cercado, quantas ovelhas ficariam? Certamente responderá o leitor, muito entendido em aritmética: "Ora, cronista, restariam noventa e nove". Errado. Você pode saber de aritmética, mas nada entende de ovelhas, decerto nunca foi pastor. Pois fique sabendo que quando uma ovelha pula um cercado todas as outras a acompanham... Ovelha é um bicho muito bobo, vai na onda dos outros.
Ora, ora, mas acontece que há muita gente por aí exatamente com esse espírito de ovelha. Não tem vontade própria. Está sempre seguindo a maioria. São chamados popularmente de “Maria vai com as outras”. São totalmente influenciáveis e acreditam em tudo o que os outros dizem. Possuem cabeça, mas não a usam. Sua vontade é a vontade do pastor.
A propósito, narra o Evangelho que, certa vez, Jesus estava olhando a multidão indo pra lá e pra cá, e teve pena dela, pois lembrava ovelhas sem pastor. Acontece que o pastor aí não é uma pessoa, mas a consciência. Muita gente pensa que pensa, mas não pensa. Vai na onda, não reflete, não examina, não sabe escolher. É, como disse, chamada “Maria vai com as outras”.
Paulo de Tarso ensinou que devemos examinar tudo e escolher o que for bom. Veja bem: examinar tudo. Todavia, o espírito de ovelha não sabe escolher por conta própria. Deixa que o líder religioso escolha por ele. Ah, meu leitor amigo, haverá maior subserviência do que isto? Lembrar que quem não escolhe por si não tem responsabilidade na escolha feita.
Estamos constantemente abdicando do ato de escolher. Que vergonha! Não seja ovelha. Tenha vontade própria. Não abdique desse privilégio que é dado ao homem. Não se deixe levar pela maioria, não seja um ser passivo diante da televisão. Aceitando tudo que dela sai. Seja um ser pensante. Use com sabedoria o seu poder de escolha, seu livre arbítrio...
Que a criança ou o idiota sejam manobrados, está muito bem. Mas você, não. Examine tudo e escolha o que for bom. Use esta coisa maravilhosa que se chama discernimento. Ora, discernir é escolher bem, e escolhe bem quem usa de sabedoria. E a sabedoria vem do conhecimento, da experiência. Daí a importância do estudo. Não tenha medo de pensar por você mesmo.
Continuo advertindo: Tem muita gente por aí com o espírito de ovelha. Veja se a raposa ou a serpente vão na onda. Até mesmo com relação à moda, é preciso ter certo bom senso. Eu jamais botaria uma calça desbotada e esfarrapada, ou um bermudão lá em baixo, somente por que é moda... E não venha me dizer que é uma questão de idade. Minha mãe, com seus 90 anos, nunca deixou de usar um vestido todo colorido. Valia a sua vontade. E com esse ânimo ela atravessou os 100 anos sorrindo. Dizia sempre: “a moda quem faz sou eu".
Nada, portanto, de viver sem reflexão. Nada de espírito de ovelha.
agosto 09, 2015