A ARAPONGA A Sérgio Faraco carcereira, abre a lingueta da garganta e aperta-me o cerco: o canto que a liberta dos ferros

Oito poemas

sergio de castro pinto poemas animais ambiente de leitura carlos romero



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A ARAPONGA

A Sérgio Faraco

carcereira,

abre a lingueta

da garganta


e aperta-me o cerco:


o canto

que a liberta

dos ferros


me faz prisioneiro.



A ARAPONGA (II)

nunca mais ouvi a araponga.


o seu canto de ferro

deve ter enferrujado.


canto que cantava

as suas penas.


canto que me fez um apenado.



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A PREGUIÇA

fez jus ao nome.


desculpem, pois,

a sua ausência:


ainda está a caminho do poema.



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UM GATO PRETO

eriçado, plugas

em mil

tomadas


os pelos desencapados.


em repouso,

aninhas

os fios negros


e ronronas enrodilhado.



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AO REDOR DO TIGRE

A Heloísa Arcoverde de Moraes

tigrrrre, ruges

a tua fúria

dentro do nome?


a van gogh

serviu

de modelo


o mural do teu corpo?


com pintas negras

e amarelo-ouro,

a tua textura


é um trigal com corvos?



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TAMANDUÁ(I)

tudo é uma questão

de peso e medida:

o tamanduá é feliz


com a boca cheia de formiga.



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O GRILO

o grilo

põe-se

a trilar


qual uma cigarra do lar



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A CIGARRA (III)

cheia de si

a sina

da cigarra


é explodir


Sérgio de Castro Pinto é doutor em literatura, professor e poeta

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