Recordo-me de um dos livros que mais me causaram fascínio na vida. Digo isso porque o li aos 18 anos, quando estava na faculdade. Trata-se...

A saga do trabalhador através dos tempos

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Recordo-me de um dos livros que mais me causaram fascínio na vida. Digo isso porque o li aos 18 anos, quando estava na faculdade. Trata-se da "História da Riqueza do Homem", de Leo Hubermam (1903–1968), obra escrita de forma muito clara e de simples entendimento, que explica a história depois da queda do Império Romano, época em que as cidades perderam força e o comércio dissipou-se por completo. O novo ciclo econômico cedeu lugar aos feudalismo. A partir daí se evidencia um novo modelo de economia.

O autor descreve esse modelo, contextualizando-o à nova realidade social, em que a igreja e os reis passaram a ser as instituições mais importantes. Eram os possuidores das terras e quem possuía terras era notadamente abastado. Na época, eram extremas as dificuldades de locomoção por ruas estreitas e enlameadas. O dinheiro era escasso e exigiam-se pagamentos para a simples entrada nos feudos.

Os feudos eram grandes espaços rurais, que vieram a ser difundidos a partir da decadência de Roma. A terra era arrendada ao senhor feudal, em troca de fidelidade e proteção militar. A ausência de moeda nas transações é uma importante característica do feudalismo. O excedente da produção era objeto de escambo. Por exemplo: a lã produzida em quantidade superior às necessidades do feudo era trocada por algum outro produto excedente de outro feudo. Portanto, não se fazia necessário o uso da moeda.

O senhor feudal arrendava os feudos dos seus proprietários, do rei ou da autoridade eclesiástica, tendo, ao seu comando, os servos que trabalhavam e pagavam o aluguel por meio do que produzissem da terra arrendada. A melhor parcela da colheita ou da produção era destinada ao senhor feudal e ao proprietário da terra.

A transição do regime econômico se fez a partir do momento em que os reis começaram a expandir seus territórios. Com essa expansão, formaram-se pequenas novas cidades e, com elas, gradativamente, veio o comércio.
Os agricultores, então, abandonaram o campo para se tornarem mercadores. Com o comércio fortalecido, os comerciantes passarem a ser uma classe de força econômica, surgindo, em seguinda, a burguesia, formada pelos advogados, poetas, professores, médicos, artesãos, banqueiros e os próprios comerciantes. Já nesse período, e desde o Feudalismo, havia a cobrança de impostos, ou seja, a interferência no que se produzia ou se vendia cotidianamente.

A criação da máquina a vapor resultou em mudança contundente na economia. As fábricas passaram a produzir de forma mais rápida, invibializando o trabalho dos simples tecelões. O trabalho manual tornou-se obsoleto. O tempo de fabricação e os preços foram reduzidos, ocasionando grande desemprego. Nessa mesma época, houve melhorias na agricultura. Descobriu-se que a plantação do nabo proporcionava o descanso do solo entre os plantios e, ao mesmo tempo, servia para alimentar o gado. Na área dos transportes, o tempo de deslocamento de pessoas e de cargas foi otimizado, com a construção de ferrovias e o uso de barcos a vapor.

Na Europa Ocidental — mais precisamente na Inglaterra e na França —, o desemprego, as condições precárias do trabalho, a ganância por lucros e a cobrança de altas taxas de impostos desencadearam muitas revoltas e levantes. A classe oprimida — inclusive crianças — trabalhava cerca de 16 horas seguidas, diariamente.

As relações de trabalho, à época, não contavam com regulamentação. Não havia leis protetivas. A chamada "liberdade da economia" impunha que a produção e a circulação de bens ocorresse sem a interferência estatal. Em meio a esse caos, surge a "Teoria do Laissez-Faire", explicada por Adam Smith (1723–1790) em sua mais importante obra, "A riqueza das Nações". Smith pertencia à Escola Fisiocrata, cujos estudos econômico-científicos apoiavam o Mercantilismo.

As novas conquistas trabalhistas foram aos poucos sendo sedimentadas. Outro marco importante foi a criação dos sindicatos de classe, que passaram a defender os interesses dos trabalhadores em prol de uma melhoria nas condições laborais, assim como o aumento de salários. Os trabalhadores despertaram a consciência para se livrarem da opressão dos patrões.

Em pouco tempo, o capitalismo foi se instaurando e com ele novas ideias, que estimulavam a “poupança individual" e o “lucro”, sendo este o maior objetivo das empresas. Surge, então, a "Teoria da Mais Valia", bem como os estudos de Karl Marx, mas isso é assunto para uma próxima conversa.

Um poema escrito por um poeta inglês, de origem desconhecida, reflete bem a luta da classe operária inglesa:

Aos trabalhadores Ingleses
Porque teceis com cuidado as roupas que os vossos tiranos vestem? Porque alimentas do berço até o túmulo esses parasitas ingratos que exploram o vosso suor? Homens da Inglaterra, porque tecer para os homens que os mantêm na miséria? Que bebem vosso sangue Porque haverdes de na Inglaterra, forjar muitas armas e açoites para que esses vagabundos possam desperdiçar a força do vosso trabalho? Acaso, tendes o conforto? A água? O abrigo? O alimento? Ou o bálsamo gentil do amor? A semente que plantas, outro colhe, As riquezas que descobres, ficarão com os outros, As roupas que teceis, outro veste, As armas que forjais, outros usam, Semeais as suas, que o tirano não colha, Produzis riqueza mas que o impostor não a guarde, Teceis roupas, mas que o impostor não as use Forjai armas que usareis em vossa defesa.

Em conclusão: o livro "História da Riqueza do Homem" descreve 600 anos de lutas, de mudanças de sistemas econômicos, de conquistas, de perdas, sobretudo de muito sofrimento e aprendizado para a classe trabalhista.

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  1. Parabéns👏👏👏👏Verônica Farias.. belíssimo texto/ trabalho aos primórdios!!!
    Paulo Roberto Rocha

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