Cada vez mais invento. Invento para me retirar do vácuo das incertezas. Não quero trair a mim quanto à solidez de minha crença na corr...

Muitos foram os Cristos

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Cada vez mais invento. Invento para me retirar do vácuo das incertezas. Não quero trair a mim quanto à solidez de minha crença na corrente da vida que mata para viver, até que morra para que outra haja. Nem por minha profunda dúvida quanto à salvação do eu pelo atravessar dos confins, que me parece tola, sem consistência e desnecessária.

Rezar todas as noites, professar uma fé, render-se a cultos sem, no fundo, crer de verdade, porque os deuses apresentados contêm a incongruência de serem muito parecidos conosco, em imagem e semelhança de desejos de poder e domínio. Sou reticente a quem me é apresentado como ser personalista e habitando um céu que espelha as monarquias das idades antiga e medieval. Um céu que tem o arranjo político dos humanos e que foi forjado nos intestinos de impérios e absolutismos.

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Os textos que fundamentam o cristianismo e apresentam a figura de Jesus trazem, em suas falas, essa ideia de “Reino de Deus”; “Meu Reino não é daqui” e outras figuras de representação de um poder semelhante ao terreno, enquanto estrutura política. E é justamente o que leva o “Estado” a eliminá-lo, como forma de evitar que ele o tomasse. Não é à toa que, quase trezentos anos depois de sua morte, a Igreja Católica iria se instituir como um reinado com um rei vitalício e com tentáculos de governança por todo o Ocidente.

Quanto ao discurso atribuído a Jesus, apesar de ele se utilizar dessas figuras de linguagem, tinha um conteúdo extremamente oposto: foi absolutamente comunista e prescindia de governos centralizados em palácios e domínios de territórios. Arrisco dizer que ele se referia à casa do seu Pai como um Reino porque não havia outra palavra ou conceito que fosse compreensível à massa pobre, expropriada e sem perspectiva, para quem ele pregava.

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Lógico que o viés espiritual e de promessa de um mundo não terreno, com seu caráter messiânico, foi o mais apropriado posteriormente pelas forças dominantes, para garantir obediência e ordem social.

Quanto ao caráter “comunista” de Jesus, um grande exemplo é o chamado “milagre” da multiplicação dos pães e peixes. Se prestarmos atenção, aquele milagre nada mais foi do que somar para dividir. Foi um dos gestos políticos mais eficazes. Ele perguntou quem tinha alguma coisa e pediu para que todos levassem até ele e, com seu carisma, foi atendido. Então, ele só fez redistribuir equanimemente. O princípio comunista.

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A diferença, em relação a Marx, é que Marx estava em outra sociedade, e não se tratava mais de dividir o pão como produto, mas a propriedade dos meios de produzi-lo.

Não acredito na existência de Jesus como é posta nos textos bíblicos, mas acredito, sim, na existência de um ser humano, como milhares que já existiram ao longo da história, que tiveram empatia e uma espiritualidade extremamente elevada, que lutaram e defenderam os excluídos e injustiçados, que lutaram pelo bem coletivo, e não só da espécie humana, mas da vida que habita o planeta e da vida do planeta. A maioria deles perdeu a vida por suas ideias e por suas lutas, que contrariavam os interesses de pessoas que só percebem o poder, a riqueza e os seus pares.

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Muitos foram os Cristos, homens e mulheres, que trouxeram luz e bem durante a história deste planeta, que lutaram pela paz e a harmonia. Não sei qual o papel de um Deus que não intervém nas injustiças humanas, mas sei da centelha divina que habita os que estão na luta pela construção de um mundo como Jesus desejou.

Alguém pode me perguntar sobre os outros milagres que Jesus teria protagonizado. Acho todos menores e penso que aparecem nos textos do Novo Testamento mais para reforçar sua aura de santidade e autoridade espiritual. Então, vejamos: o mais jocoso foi o de transformar água em vinho. A ideia de não interromper a festa e garantir a alegria dos comensais é louvável, mas parece mais atuação de um mágico. A cura de cegos, leprosos, a expulsão de endemoniados também nos parecem demonstrações com intuito de garantir seguidores e, finalmente, a ressurreição de Lázaro: um mimo a amigos pessoais, com uma demonstração de poder, cujo efeito prático era apenas uma questão de tempo, porque ele morreria de todo jeito, como determina a condição humana.

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Assim, o grande “milagre” termina sendo a partilha, chamada de multiplicação dos pães e peixes, numa demonstração de que, se hoje o homem copiasse o seu gesto, não haveria fome sobre a Terra.

Abstraindo o fato de que os textos que relatam a suposta passagem de Jesus sobre a Terra foram escritos em contextos e circunstâncias diferentes do mundo de hoje, além das inumeráveis traduções, adulterações, acréscimos e interpretações, a figura magnífica de Jesus, o Cristo, e os discursos atribuídos a ele são fundamentos basilares para construir a sociedade sonhada por todos que amam e respeitam a vida.

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Deus não tem trono, não tem céu, não há um eu após a morte. Haverá vida quando nós formos digeridos por outros seres e alimentarmos o ciclo.

Seremos memória e afeto e, aí sim, vivos ainda. E, se houver a conservação de nossa identidade, não haverá céu, porque manteremos nossa mazela maior: a condição de humano, ainda que, em tese, nesse plano, já imortal.

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