A inveja é o mal-estar que surge da incapacidade de adquirir algo quando se tem como referência um objeto de êxito do outro. Ela se manifesta na sensação de apequenamento, isto é, de frustação. Geralmente, é um sentimento autodestrutivo.
O “estado psíquico do fracasso” é o resultado de bloqueio do processo de automotivação. As causas desse insucesso são geradas na personalidade dissociativa, que frequentemente ocorre no interior ou no exterior do invejoso. A de origem interna é constituída de imperfeições emocionais como a falta de confiança,
J. W. Waterhouse, 1900
As duas situações — interna e/ou externa — danificam alguns aspectos cognitivos vitais para constituir o sentido de sobrevivência, que são: o desenvolvimento do pensamento crítico, científico e criativo; a capacidade ao autoconhecimento e ao autocuidado. Outro sintoma desse dano é a perda de habilidades socioemocionais diante do sentir, pensar e agir. Por conta disso, tem-se a ausência de empatia e de cooperação nos relacionamentos, impossibilitando o invejoso de realizar algumas tarefas simples ou as mais complexas.
O comportamento imaturo e intencional apresenta a finalidade de sensibilizar alguns indivíduos através de um estado de vitimização ou por um abusivo apelo emocional. A inveja é movida por ódio. Ela surge com a finalidade de forçar a infelicidade alheia e dá-se através da própria alienação.
John William Waterhouse, 1909
Melanie Klein escreveu o livro Inveja e Gratidão e outros trabalhos (1957). Seus estudos apresentam a inveja na organização e no desenvolvimento psíquico desde os primeiros dias de vida de um ser humano. O sentimento vital de sobrevivência é dirigido ao seio materno de duas formas: a que é considerada pelo recém-nascido como um “objeto bom”, quando nutre e acolhe; a outra, como um “objeto mau”, enquanto o bebê sente a sua ausência. É nessa falta, no querer e não ter o peito da mãe,
No O Seminário — Livro 11 (1964), Jacques Lacan apresenta a inveja como um afeto, ou seja, um circuito que forma um laço social próprio à racionalidade do "eu" e do "outro". Seu aspecto real surge da inexistência de uma relação predefinida com o outro, por exemplo, relações mãe-filho. No aspecto imaginário,
Aristóteles, em sua obra Retórica, na parte II, dedicada às paixões, apresenta os meios que dão origem aos afetos e os cessam, e de que forma a inveja surge. O filósofo grego afirma que, geralmente, o indivíduo sente inveja de quem é igual ou parecido consigo. Entretanto, ele (o indivíduo invejoso) só adquire vantagem a que julga somente a si pertencer. Os invejosos seriam todos aqueles que possuem quase tudo o que desejam e que, apesar disso, por sua ambição, jamais se bastam e incomodam-se com todos a sua volta. Em sua descrição, Atistóteles argumenta que a inveja surge com quem, por mais variados motivos, se rivaliza. O sentimento também agride ou destrói, em igual medida, o sujeito medíocre, pois, no seu nivelamento baixo, ele não admite alguém acima do próprio apequenamento.
John William Waterhouse
As consequências da inveja geram doenças emocionais. Algumas são curadas por psicanalistas, psicólogos, psiquiatras ou por terapia, a exemplo do exercício de alguma arte. O tratamento atua na individualidade do invejoso, a fim de reconstruir os afetos nos relacionamentos, bem como a empatia e a solidariedade. Noutro enquadre, quando a doença surge raramente, a cura pode ser alcançada mediante o cuidado com a autoestima, de forma a evitar o sentimento de inferioridade.
Os procedimentos mais eficazes contra a inveja são: dedicar tempo a se autoconhecer; valorizar as próprias qualidades; evitar comparar-se com os outros; não se angustiar por algo que não pode ser mudado; reconhecer que todo ser humano é único e cada um deve cuidar de si mesmo; entender que é normal possuir defeitos e é possível superá-los; admitir que a maioria das pessoas são infelizes. Por isso, deve-se exercitar a empatia e a solidariedade a todos.