Há 85 anos, José Lins do Rego publicou o romance Pedra Bonita. Neste livro ele afastou-se da paisagem da cana-de-açúcar para um passeio pelo sertão de caatingas esturricadas, o mundo de coronéis, de cangaceiros, misticismo rural, padres e fanáticos religiosos. Abordou um ambiente e um tema novo na sua literatura.
Com retardo involuntário, retornei a Pedra Bonita para uma caminhada lenta, com o coração aos pinotes quando debulhava as páginas do livro e captava as emoções que José Lins do Rego espalhou com intensidade, como se fosse a primeira leitura.
Felipe Ribeiro
Os fatos criados pela imaginação do autor ajudam o leitor no voo das imagens recriadas. Mesmo inventando ou modificando a realidade do momento abordado, José Lins compôs uma narrativa emocionante. Toda a história ganha novo panorama mesmo que conheçamos a realidade que povoou o Sertão daquela época cheia de mortes e crepúsculos ensanguentados. Com seu modo peculiar de contar, a prosa de José Lins agarra o leitor.
As suas qualidades de narrador estão presentes com muita força neste romance. A pequena vila perdida na caatinga, a vida de homens humildes e de um bondoso padre, misturam-se ao fanatismo religioso, presente na repressão ao cangaço. Ele trouxe à tona as lendas do folclore, a vida nômade de cantadores de viola, a luta pela sobrevivência, a paisagem esturricada – tudo está presente nesta admirável obra que, ao seu aparecimento em 1935, Aurélio Buarque de Holanda considerou como “romance e epopeia”.
Renata Cavalcante
Quando do surgimento deste livro, aguardado com expectativa porque se anunciava que ele estava escrevendo uma história transcorrida fora do ambiente dos canaviais, surpreendeu a muitos leitores e críticos literários. Houve quem dissesse que José Lins somente trabalhava municiado de bagaço da cana, mas ele provou o contrário.
Para mim, José Lins do Rego é universal como romancista. Podemos nos orgulhar de tê-lo como conterrâneo porque o autor de Fogo Morto é um dos maiores escritores brasileiros de todos os tempos. Sua obra ainda tem muito o que ser estudada.
Cada página é um convite para conhecer a paisagem rústica do sertão, por isso Pedra Bonita será sempre um livro lembrado porque trouxe novos ingredientes à rica listagem de obras importantes gestadas por este paraibano que, como poucos, entendia a alma humana, e por isso terá vida longa.