O livro Teorias da Arte (1998), escrito pela filósofa, crítica de arte, pintora, escritora e professora francesa Anne Cauquelin (19...

Estética kantiana

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O livro Teorias da Arte (1998), escrito pela filósofa, crítica de arte, pintora, escritora e professora francesa Anne Cauquelin (1925), apresenta um estudo sobre a Estética e analisa o fundamento da arte contemporânea e o seu impacto social. Nele, a autora expõe os princípios no que se refere ao belo, do filósofo e matemático grego Platão (427 a.C. – 348 a.C.), do filósofo grego Aristóteles (384 a.C. – 322), dos filósofos alemães Immanuel Kant (1724 – 1804), Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770 – 1831), Arthur Schopenhauer (1788 – 1860), Friedrich Wilhelm Nietzsche (1844 - 1900) e Theodor Ludwig Wiesengrund-Adorno (1903 - 1969).
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Ao final, tem-se a síntese de todas essas teorias e o esclarecimento sobre a crença na arte.

Este texto apresenta somente breves tópicos da estética kantiana. Kant criou a Filosofia Crítica. Para essa finalidade, ele uniu as teses do filósofo racionalista alemão Gotfried Wilhelm Leibniz (1646 – 1716) e as do filósofo, historiador e ensaísta empirista britânico David Hume (1711 - 1776). Dessa fusão, Kant criou o Idealismo Transcendental, um complexo sistemade conceitos para explicar que nem o empirismo estava certo nem o racionalismo explicava completamente o conhecimento humano. Considerando esse idealismo, o sistema representacional da mente é constituído por três capacidades: a de conhecer (ciência), que é objetiva e universal; a de desejar (ética), também objetiva e universal; e a faculdade de julgar (estética), essa subjetiva e universal.

Além disso, na ciência, a Razão é limitada pela representação. Na ética, a Razão determina os parâmetros da ação, já que é incondicionada, não depende da experiência. Na estética, a subjetividade percebe a beleza na obra humana, e nisso vincula as outras duas e as une. Porque é o sentimento de prazer e desprazer que exprime os julgamentos de gostos; e a reflexão exprime os julgamentos estéticos.

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Immanuel Kant ▪ 1724—1804
A capacidade de conhecer, para Kant, dá-se na percepção do objeto, que ele chama de “coisa em si”. Esse processo ocorre na intuição. E é a racionalidade que proporciona o conhecimento, pois a mente humana é capaz de relacionar “conceitos puros” às informações da percepção, isto é, denominar a priori o conhecimento independente da experiência. As hipóteses de Kant sustentam que há a “coisa em si” e o “conceito transcendental”, apesar disso o fato de haver um “conceito universal” impede a sua teoria se torne relativista. Por isso que fez a distinção entre noúmeno (coisa em si) e fenômeno (aparição). Essa distinção evidencia que ao ser humano só é possível conhecer as coisas como aparecem à mente, jamais em si mesmas.

Outro conceito kantiano a ser considerado é o que trata de fenômeno, que é uma representação que o sujeito sofre quando algo o modifica. Por exemplo: não conheço o que me afeta, apenas sei que sou afetado por algo do qual posso criar uma imagem. Essa imagem implica em vários fracionamentos. Em primeiro, o “ânimo” percebe algo das sensações porque tem-se formas próprias para isso. A intuição, como Kant chama a sensação, é determinada a priori pelas formas da sensibilidade que são o espaço e o tempo. Esses conceitos não são mais qualidades inerentes aos objetos e sim condições anteriores à experiência que possibilitam que estas ocorram.

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A mente organiza o material que recebe da sensação segundo as formas do espaço e do tempo. Por meio da intuição, os objetos nos são fornecidos; e a doutrina que estuda esses elementos da sensibilidade é a “Estética Transcendental”. Em segundo, o “ânimo” ordena e classifica coisas em série de categorias que não são intuídas, mas deduzidas por meio da ciência do intelecto que é a lógica.

A “Lógica Transcendental” é a doutrina que analisa a origem dos conceitos, em especial dos a priori que se referem aos objetos que não são mais fornecidos, e sim pensados. Apenas a sensibilidade é intuitiva. O intelecto é discursivo e por isso seus conceitos são funções que unificam, ordenam, sintetizam a informação diversificada em uma representação comum: isso significa pensar, e pensar é julgar, sendo, pois, o intelecto, a faculdade de julgar, e não a razão.

A filosofia crítica de Kant se tornou revolucionária porque centraliza o seu fundamento no sujeito. A unidade do objeto na experiência é constituída na unidade sintética do sujeito pensante, denominada de “Apercepção Transcendental” (intensificar a consciência de seus próprios estados internos e representações). Diante disso, o Eu penso é a unidade originária e suprema da autoconsciência comandada pelas 12 categorias, portanto, princípio de todo conhecimento humano. A intuição e o conceito são heterogêneos entre si — um fornecido, o outro pensado — exigindo um terceiro termo que seja homogêneo entre estes para possibilitar o conhecimento.

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Julgamentos feitos somente por intuição — sem conceito — são pensamentos vagos. Julgamentos feitos somente com conceito — sem intuição — conduzem aos erros da imaginação. Logo, o raciocínio que pode ser feito para que conheçamos algo tem que aliar intuição a conceito. O fenômeno apresentado na intuição, aliado às categorias do intelecto, torna a coisa objeto para si. Kant chama esse procedimento de “Esquema Transcendental”, produzido pela “Imaginação Transcendental”.

No campo estético, Kant desenvolveu a sua complexa “Estética Transcendental”. Essa teoria está presente em seu livro Crítica da Razão Pura (1781), que trata de epistemologia; e noutro seu livro Crítica da Faculdade do Juízo (1790), que apresenta os “juízos estéticos”. Nessa segunda obra, Kant apresenta proposições às quais um julgamento pode ser realizado (que se tornaram contraditórias). São elas: a qualidade (satisfação ou desprazer); a quantidade (universal ou subjetividade); a relação com a finalidade (determinismo ou liberdade); a modalidade (necessidade ou possibilidade). Obtêm-se assim os
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quatro momentos do julgamento estético, que podem ser: a “satisfação desinteressada”; a “subjetividade universal”; a “finalidade sem fim” e a “necessidade livre”.

A “satisfação desinteressada” é o sentimento produzido pela existência de um objeto. No livro Crítica da Faculdade do Juízo, afirma Kant (1993, p. 54) na §5:

“O agradável e o bom têm, ambos, uma relação com a faculdade de desejar e por isso se fazem acompanhar. O primeiro, de uma satisfação de conexão patológica; o segundo, de uma pura satisfação prática determinada pela representação de uma conexão do sujeito com a existência do objeto. É por essa razão que o julgamento de gosto é simplesmente contemplativo”.

A “subjetividade universal” do julgamento (por exemplo: 'isto é bonito') pode ser deduzida se, de fato, nenhum interesse particular está intencionado e se o desejo não vem ao caso. Por causa disso, a universalidade do julgamento está assegurada, e o belo é belo para todos. Segundo Kant (1993, p. 60) na §9:

"Tal universalidade é representada apenas subjetivamente no julgamento de gosto. Isso significa que o prazer que experimentamos não é de ordem sensível: é o puro jogo de nossas faculdades de conhecer - imaginação e entendimento -, que sabemos ser compartido por todos, que nos dá esse prazer”.

A “finalidade sem fim” é outra dedução do princípio do desinteresse. Afirma Kant (1993, p. 77) na §17:

“Não devemos julgar um objeto estético por seu fim, ou seja, pelo fato de ele ter um objetivo determinado ou obedecer a determinações previamente estabelecidas; [...] mas o belo é o que agrada universalmente sem conceito. [...] Essa representação de uma finalidade global do universo não pode estar ligada a um objeto particular, nem a um sujeito individual; [...] entramos em contato com a forma do universal, sem a necessidade de recorrer ao conceito de universalidade”.
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A “necessidade livre” é apresentada por Kant (1993, p. 84) na § 21, desta forma:

“Se um julgamento é universalmente válido, é por ser também necessário. Contudo, essa necessidade não pode ser imposta a todos como vinda de fora - seria para si o caso de uma necessidade fundada no conceito. [...] É preciso, pois, que a necessidade de um julgamento de gosto seja intimamente sentida. [...] Esse senso comum consiste em cada um sentir em si a união da imaginação com o entendimento, cujo jogo livre é a essência do julgamento de gosto”.

As quatro proposições estéticas apresentadas estabelecem regras que possibilitam o cumprimento dos seus contrários. Por exemplo: de descobrir prazer numa mesma contradição e definir um gosto estético subjetivo, bem como resolver o conflito das faculdades entre elas, isto é, um entendimento lutando contra uma vontade.

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