“Ô, Zabé, Zabé, Zabé
Zabé, Zabé, dez vez' Zabé
Ô, Zabé, Zabé, meu bem
Eu chamo tanto, Zabé não vem.”
(Luiz Gonzaga)
Vó Bela,
esta celebração é uma tentativa insana
de te eternizar no silêncio.
Éramos crianças,
e criança é pagina para escrever gente;
tem a textura branca da humanidade.
E vó Bela nos benzeu;
no desmedido do tempo de sua fala
foi a pomba da paz
neste jardim das loucuras.
[…]
Sentíamos o rodopiar perfumado
do seu corpo
e um tremor silencioso nos olhares.
A casa tendia ao imenso
quando falávamos seu nome,
e este aconchego misterioso
ramejava doçura -
e nos unia.
(Quanto de seu olhar respingou
a sua poesia em todos nós?)
E pouco mais que um rumor
foi se chegando
entrecortado de lembranças.
E houve uma pausa,
um ir e vir;
trançavam os netos
com seus retalhos guardados
cosendo nossas memórias.
Cerimoniosos,
traziam objetos esquecidos
e deixavam sobre a mesa
este altar dos vivos - ;
eram suas relíquias .
Estava posta a ceia com o oratório
para o repasto das almas perdidas.
E ao nos sentarmos
- retalhos marcados pela vida -
aprendi o sentido do carinho
do seu chulear na colcha multicolorida
de nossa infância.
Percebi, Vó Bela,
que o que nos une
é o cerzido de nossa existência
às raizes de seu nome.