Nas areias de dezembro Descobri que sinto. Sinto e sinto por sentir. Indócil sentimento esse, Quase um martírio. Arde...

Suspeito que a paixão não traz felicidade

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Nas areias de dezembro
Descobri que sinto. Sinto e sinto por sentir. Indócil sentimento esse, Quase um martírio. Arde por dentro, Queima minhas pálpebras, Humilha meu arbítrio. Quero que se vá, Rogo que fique. Arrasto-me pelo caminho azul, Matiz que me atinge de dia, E se transmuda em negrume à noite. Estou sob teus pés, E onde mais deveria estar?



Tantos finais para começar
Tantas provas já me deste Das indelicadezas de um fim Uma, outra e mais outra, Entrão, creio que já me acostumo, Com a perspectiva da perda. Queima como arde, como queima, E outra vez arde como chama. No abissal de mim algo muda Cada vez, e outra vez mais. O que me torno sobre ti, Confesso: ainda não sei. Começar, recomeçar e logo começar. Talvez seja parte do mistério. Mas, começo a suspeitar, Íris de minha vida, Que dia virá em que não haverá mais finais.



Em alguma manhã
Estou preso, descubro. Às vezes, lastimo, Noutras, canto louvores. Preso, nem sempre prisioneiro, Também entregue ao afã Este que me acelera o peito. Lembro da noite de ontem, Quando estive preso, sim, Pela tua retina sublime, Pelo santuário de tua pele, Pela salinidade de tua boca. Pelo ciciar de sua voz. Ah, estou preso, Sinto calafrios. E vejo que se a liberdade For sonegar as tuas mãos, Prefiro seguir preso, sim.



Quem entende de paixão
Manda-me ser feliz, E eu serei? A perspectiva da felicidade Talvez inebrie, Ou talvez não. Pode ser que não queira, Ou talvez queira demais. Quem saberá mais sobre a paixão? Os que se apaixonam, Ou os que são incapazes? Suspeito que a paixão não traz felicidade, Antes suprime a possibilidade. Manda-me ser feliz, E tu és? Palavras não vão até os confins Onde reinam a incongruências dos sentires. Então, será impossível saber, Saber realmente o que mandas.



Iminência do eterno
Tantas vezes tu me levaste Tão próximo do infinito, Que tantas e tantas vezes Me senti na iminência do eterno. E entre um espasmo e mais outro Descobri o sentido da fatuidade do tempo. Habituei-me ao teu riso Tantas vezes enigmático e Sempre desafiador, Tantas vezes apenas franco. E por tantas vezes descobri também Como o prazer anda tão próximo do desespero. E talvez ainda mais próximo da perda. De qualquer forma, Entre um olhar e um grito agônico, Sempre o roteiro da eternidade. Do que jamais deixará de ser, Ou porque nunca deveria ter sido, Ou porque sempre foi.

Poemas do livro Breves relatos da paixão, disponível na Livraria do Luiz.

"Esses breves apontamentos não têm a afetação de circunscrever os mistérios da paixão num ensaio definitivo. Muito longe disso. Até faço um alerta: rogo que o leitor não imagine que os versos deste livro são todos forjados apenas por relatos de paixão e morte. Na verdade, são versos, simples versos, que buscam, sem qualquer presunção, certa pretensão de imortalidade, não do autor, mas da magia que só as palavras têm." (Helder Moura)"


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