“– Dormir é bom demais... Ô, doutor, se dormir é tão bom, imagine morrer, hein?” Fui surpreendido com essa brilhante constatação anunciada pelo empresário Índio do Gelo, que acabara de comprar um colchão pelo qual pagara o preço de um carro usado. Na ânsia de demonstrar as maravilhas do colchão novo, disse que ele possuía infravermelho, ultravioleta, massagens, ondas curtas e outras atrações. Acho que exagerou um pouco, mas fechou bem: “– Doutor, o colchão é tão tecnológico que, quando vou me aproximando da cama, já vou fechando os olhos.”
GD'Art
O que me chamou a atenção nesses momentos de reflexão sobre o sono foi a constatação da incompetência dos coachs — como são conhecidos hoje em dia os picaretas de antigamente. Como é que até agora ainda não criaram cursos para ensinar os incautos a escolherem os sonhos que querem ter? Imagino uma aula do bonitão explicando à plateia de embasbacados crédulos que sonhar com o que se quer é somente uma questão de trabalho mental. E haja inventar absurdos. Querem sonhar com quem? Com os pais? Pois bem, basta concentrar-se na infância e nos natais passados com a família, nas festas de aniversário e nas férias. Querem
GD'Art
Os alunos mais tímidos, influenciados pela excelente retórica e forte presença dos coachs, dirão que deu certo para não passarem por fracos. Os que se acham mais espertos — esses, sim, se darão mal ao dizer que o ensinamento não funcionou, porque o coach vai recomendar uma segunda e mais avançada fase de treinamento (mais cara, obviamente), na qual venderá a cada um deles um vidro contendo um líquido mágico e misterioso para ser tomado quando forem dormir. Meus espertos leitores já adivinharam que se trata de um produto que, nos EUA, se chama water, né?
Meu avô dizia que todo dia saíam de casa um besta e um sabido e que, quando eles se encontravam, rolava um negócio. Hoje em dia a sabedoria aumentou enormemente, e os bestas multiplicam-se como coelhos. Como diria O.X., motorista dos meus pais: “– Nunca vi besta com nada, nem corno com mulher.” Sutil, né?