Quando não mais houver ouvidos, aposentar-se-ão os sons, assim como as paisagens na ausência dos olhos. E morrerão também o frio e o c...

Nada a temer

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Quando não mais houver ouvidos, aposentar-se-ão os sons, assim como as paisagens na ausência dos olhos. E morrerão também o frio e o calor, o amor e o ódio, e os desejos de amor. Quando tudo cessar em nós...

Mas o universo desconhece esse limite, porque é a revolução das revoluções, e nós somos ele, estamos nele e ele em nós.

Nada a temer. Nada se perde, tudo se transforma.

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Joseph Wright of Derby (1780)
Nada cessa em tempo algum. Aliás, não existe tempo: ele é uma invenção do ego humano que anseia pela “eternidade”, quando a eternidade é movimento — algo como uma música que corre até se repetir à exaustão.

Nós inventamos o culto à personalidade como força de potência para iludir nossa precariedade. Os deuses não morrem, e curiosamente todos eles têm a nossa face e exercem o poder como nós, notadamente nos modelos monárquicos.

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James Whistle (1875)
A decomposição de todas as coisas, o “envelhecimento”, nada mais é do que vida em essência: transformação! Que bom que a morte existe — pena que a usamos como instrumento para criarmos a paranoia religiosa da salvação e o comércio de “almas”. Quando entendermos que Deus é o resultado de nossos atos na corrente do universo, finalmente nos livraremos do medo da morte.

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É claro que sofremos com a ausência dos que amamos e já se reintegraram à terra, mas isso não significa que essa dor e saudade justifiquem um idílio imaginário de uma reprodução de nós mesmos num lugar que sempre colocamos acima de nossas cabeças.

Melhor sonhar com eles e confundir a saudade com a delícia de saber que existiram. Quanto a nós, é só ter paciência: um dia vamos saber o que é — e se há — o lado de lá.

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