Abigail Izquierdo Ferreira, mais conhecida como Bibi Ferreira, nasceu em 1922 e nos deixou em 2019, aos 96 anos. Dedicou toda a sua vida ao teatro, galgando, degrau por degrau, sucesso e reconhecimento de um público fiel a suas produções. Ela ressaltava sempre que não conseguia se imaginar fora daquele espaço, no qual estreou com pouco mais de vinte dias de nascida, substituindo uma boneca que havia desaparecido dos bastidores.
Filha de uma bailarina espanhola, Aída Izquierdo, e de pai ator, Procópio Ferreira, teve uma família que respirava arte e a preparou para estar sempre em cena. Ao longo de sua carreira, desempenhou várias funções, como apresentadora de televisão, atriz, cantora, compositora e diretora.
Bibi, Procópio Ferreira e Aída Izquierdo (1930) Arquivo Nirez
Sua mãe foi uma grande incentivadora do seu talento e não a deixava ficar parada. Eram muitas aulas que fazia e que lhe deram suporte artístico e intelectual para que pudesse se preparar como profissional da arte. Não foi à toa que se tornou fluente em cinco idiomas. Bibi, inclusive, ressaltava em suas entrevistas que, sem a dedicação e as exigências da genitora, não teria chegado aonde chegou.
Três anos após sua estreia como atriz na companhia de teatro do pai, Bibi montou a própria empresa, reunindo um elenco primoroso, com Cacilda Becker, Maria Dela Costa e Henriette Morineau. Casou-se várias vezes, tendo como último marido Paulo Pontes, grande artista paraibano, que começou como produtor de programas radiofônicos na rádioTabajara, passando depois a colaborador do jornal A União, de quem, até seus últimos dias, Bibi falava com carinho e admiração.
Bibi e Paulo Autran em My Fair Lady @bernardoschmidt
Em 1975, participou de Gota D’água, de Chico Buarque e Paulo Pontes. Nessa época, também dirigiu textos comerciais e peças de dramaturgia sofisticada, como musicais de grande porte. Em 1983, trouxe aos palcos Piaf, uma estrela da canção, com enorme sucesso de público e de crítica, pelo que recebeu vários prêmios, como o Mambembe e o Molière, em 1984.
Na década de 90, além de remontar um dos seus maiores sucessos, Brasileiro, Profissão: Esperança, fez Bibi in Concert, em comemoração aos seus 50 anos de carreira. Encenou também Roque Santeiro, em versão musical, e, em 1999, dirigiu pela primeira vez uma ópera, Carmen, de Georges Bizet.
Cena da ópera Carmen, de Georges Bizet Carlos Carretero
Avessa a conversas desnecessárias e muito cuidadosa com a saúde de sua voz (nunca falava ao telefone nem tomava nada gelado, por exemplo), quando lhe perguntavam o que a mantinha com tanta vitalidade, dizia que o trabalho a completava e que trabalhar todos os dias a preservava assim, sempre disposta e bem-humorada.
Bibi Ferreira homenageada na Sapucaí
Andrei Snitko
Andrei Snitko
Em maio de 2016, após 25 anos sem vir a João Pessoa, eu tive o privilégio de assistir ao espetáculo Bibi canta Sinatra. A renomada atriz fez questão de visitar o teatro Paulo Pontes, antes de sua apresentação no Pedra do Reino. Estar frente a frente com a diva do teatro brasileiro fez-me reconhecer o valor daquela mulher, que persistiu em seus propósitos, mesmo diante de tantas dificuldades. No palco, firme e forte, a gente percebia que ela sabia exatamente o que queria fazer e o que estava fazendo. No meio do show, Bibi se sentiu incomodada com o frio e informou que precisava parar o show. No entanto, como se tomada pela responsabilidade de ter em sua frente um público numeroso e ávido por suas canções, abstraiu-se do incômodo da temperatura do teatro, e continuou, ainda nos brindando, a mais, com algumas músicas icônicas de suas outras produções.
Bibi Ferreira no Teatro Pedra do Reino (Paraíba) Marcelo G. Ribeiro/
Fica, para a memória desse momento crucial, as palavras proferidas antes que a cortina se fechasse, pela última vez: “Nunca pensei em parar, essa palavra nunca fez parte do meu vocabulário, mas entender a vida é ser inteligente. Me orgulho muito do que fiz. Obrigada a todos que, de alguma forma, estiveram comigo, a todos que me assistiram, a todos que me acompanharam por anos e anos. Muito obrigada!”
Texto do livro Nossas mulheres – vozes que inspiram e transformam, organizado pela União Brasileira de Escritores (UBE-PB) e publicado pela Editora A União (2025).




















