Caminhando para os 80 anos, gosto de relembrar não somente minhas histórias e amigos, mas também as namoradas. Pois muito que bem. De...

Saliência também é cultura

boemia motel submarino blackout

Caminhando para os 80 anos, gosto de relembrar não somente minhas histórias e amigos, mas também as namoradas.

Pois muito que bem. De repente, veio-me à memória uma namorada dos tempos em que eu estava chegando para morar no Rio de Janeiro. Era uma bonita garota, muito divertida e sassaricada, se é que vocês me entendem. Saíamos à noite e eu encostava meu automóvel junto à calçadinha da praia do Leme, quase em frente ao restaurante Fiorentina. Ficávamos namorando no interior do carro e ela chamava aquilo de “corrida de submarino”. Outros automóveis também estavam lá na mesma “corrida”.

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Motel Vip's (RJ)
Antonio Scorza
Claro que, com o tempo, descobri os encantos do motel Vip’s (quem é do ramo deve lembrar), mas nada disso importa; o que vale é que fui pesquisar por que chamar aquela coisa gostosa de corrida de submarino.

Descobri. Quando o Brasil entrou na Segunda Guerra Mundial ao lado dos Aliados, os alemães ficaram com a gota serena e começaram a afundar nossos navios. Já contei aqui, inclusive, que alguns desses barcos afundados tiveram seus nomes perpetuados em nossas ruas e avenidas, o que até hoje causa confusão na população quando tenta lembrar se as avenidas Olinda ou Buarque seriam homenagens à cidade histórica de Pernambuco ou à ilustre família de intelectuais — sendo que o cúmulo é a homenagem ao navio Arabutan. Não satisfeitos em inventar um tal índio Arabutan, soube que existem duas ruas com o mesmo nome aqui na capital. Quanto ao índio, nunca teria existido.

Mas já estou viajando na maionese de novo.

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GD'Art
O fato é que foi decretado um blackout rigorosíssimo no Rio de Janeiro à época, como forma de enganar os submarinos alemães. Toda a população carioca mobilizou-se. Jovens distribuíam panfletos pelas ruas, nas escolas e fábricas, em lojas e repartições públicas, com recomendações rígidas. A partir das sete da noite, as casas tinham que ficar no escuro; desligavam-se as lâmpadas dos postes e os carros só podiam circular com os faróis apagados.

No meio do pânico coletivo, o amor encontrou uma brecha. Os namorados usavam o pretexto de irem para a beira-mar em seus carros a fim de vigiar a costa, caçar submarinos — e aproveitavam os largos espaços internos dos automóveis da época para aumentar a população brasileira, se é que vocês continuam me entendendo.

Tinha inveja daqueles imensos espaços internos dos automóveis antigos, que o meu Puma negava.

E preciso lembrar do nome da minha professora de caçada de submarino...

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