Irani Medeiros não é um neófito. Já há algum tempo é uma presença na cena cultural pessoense. E não se contenta apenas em ficar na plateia, mas sobe ao palco: publica livros,  comparece aos eventos literários da aldeia, frequenta sebos e livrarias, e cultiva a boa conversa intelectual, seja onde for. Participa, enfim. E participar não é pouco.
Irani Medeiros 
A produção de Irani transita por vários gêneros, o que prova sua versatilidade. Em ensaios, contos, romances, biografias e poemas, ele se comunica com o leitor, dá o seu recado. Porque literatura antes de mais nada é isso: comunicação, o bom uso da palavra escrita para levar às pessoas pensamentos e sensibilidades. Agora o autor nos apresenta o seu Pássaros da Liturgia (Edição do Autor, São Paulo, 2025), reunião de poemas, exatamente cento e seis, mais curtos que extensos, mostra de sua capacidade de síntese.
Hildeberto barbosa Filho
Hélio Costa
Hélio Costa
Nos livros de poemas sempre identifico aqueles que me tocam mais de perto. Geralmente mais pelo tema que pela forma. Nesta obra de Irani separei especialmente dois poemas. O primeiro é Alforges, e me tocou por seu indisfarçável conteúdo memorialista:
o algodão florescia na infância,
o vento fazia galope
trazendo os pássaros.
a heráldica da tarde
tinha gravuras
e a brevidade dos rios.
nos parcos alforges
carregava esperança
cantando a vida
na varanda da casa antiga.
menino de aves nos olhos,
o latifúndio era prisão,
a fome na garganta
e a boca seca de aboiar.
o avô quase centenário 
via nos moinhos o tempo passar
nas crinas de eternos cavalos.
Karl Wiggers
meu avô com dedos mágicos
traçou meu destino
ante os olhos da existência.
meu avô desenhou
a batalha das reticências
e a alvenaria dos meus dias.
meu avô com dedos magros
escreveu a geografia inexorável
da desventura humana.
meu avô com olhar terno
fez louvor à Aldebarã
e encantou-se numa tarde de verão.
Irani Medeiros 
E assim o poeta pombalense vai marcando cada vez mais sua presença na cultura da cidade. Sem barulhos nem espalhafatos, como convém a um sertanejo da gema, mais afeito ao silêncio. Aos poucos, ele constrói a sua obra. E se impõe ao respeito aldeão.
O livro Pássaros da liturgia está disponível no Sebo Cultural



















