Por esses dias, fui surpreendida com a notícia da partida do ator e diretor americano Robert Redford. Confesso que chorei. Ando chorand...

Robert Redford

robert redford nossas noites cinema
Por esses dias, fui surpreendida com a notícia da partida do ator e diretor americano Robert Redford. Confesso que chorei. Ando chorando à toa pela partida dos meus amores do cinema. Foi assim com Belmondo, Delon, Mastroianni, Brando, Fellini, Domingos Montagner, e agora com Redford.

Ironicamente, dia desses revi Out of Africa e fiquei me deliciando com a cena do avião — aquelas mãos dadas e aquele xampu borbulhante, tipo cafuné, em plena selva africana. Meryl Streep se fartou! E eu chupando o dedo...

robert redford nossas noites cinema
Robert Redford John Dominis
Inúmeros filmes me fizeram me apaixonar por Redford. Sua beleza, mas principalmente o seu mistério, a sua quietude, que foi buscar refúgio em seu estado, nas montanhas de Utah, criando o famoso festival de cinema independente, o Sundance.

Em Nosso Amor de Ontem, caí em seus braços, disputando com Barbra Streisand; e, em O Grande Gatsby, realmente mandei Mia Farrow para as cucuias, e me vesti de melindrosa para dançar o Charleston com aquele deus de terno branco e um certo ar melancólico.

Na época, tinha muito ciúme de Sônia Braga, que o namorou por bastante tempo. Mas como competir com aqueles cabelos de Gabriela, e não só: aquela morenice brejeira e linda? Bob não iria nem notar a minha existência! Sônia Braga publicou um post no Instagram — de fazer chorar. Ainda mais eu, de coração partido. Falou do filme que fizeram juntos, Milagro, da beleza do Novo México, da beleza serena e inquieta, e da intensidade rara do olhar (grrrrr) de Robert; da “hora mágica” no cinema; e das conversas sobre a vida, as flores, os lugares.

Me humilhou falando das caminhadas que faziam juntos em Sundance, e dos buquês de flores selvagens que ele colhia para lhe presentear (grrrrr). Foi com ele a Cannes, desfilou de braço dado
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Sônia Braga e Robert Redford
@giroblog
com esse homem, e, mais ainda: quando Redford foi à Rússia, trouxe-lhe um buquê de flores selvagens from Russia with Love.

Sônia, linda, diz que, quando caminha por Nova York, fotografa pequenas flores — e como esse gesto é poderoso, capaz de aproximar as pessoas. Invejei Sônia e Redford nessa caminhada silenciosa por uma paisagem linda, com a natureza por testemunha. Quem já viveu isso um dia, mesmo com alguém que não seja Redford, pode dizer que já viveu um amor. Eu já tive minhas florezinhas mais acanhadas, mas tive...

Antes da pandemia, assisti ao filme Nossas Noites (2017, direção de Ritesh Batra), com ele e Jane Fonda. Me reapaixonei.

O filme tem uma história singular e inusitada. A personagem de Jane, Addie, é uma viúva solitária que tem como vizinho, também viúvo e solitário, Redford, Louis. Ela então faz uma proposta indecente (não aquela do filme com Demi Moore). Addie convida o vizinho circunspecto para dormir de conchinha com ela, para amenizar a insônia e a solidão de ambos. Vizinhos há tantos anos, cada qual no seu quadrado.

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Robert Redford e Jane Fonda
@vanityfairspain
Ele vai — tímido e desconcertado. Conversam e dormem. Ele entra pela porta dos fundos para não dar o que falar. Ela nem aí. Que se dane o falatório!

Aos poucos, ele vai conversando e conversando (o filme fala dessa solidão e da necessidade de se ter com quem conversar. As noites são longas quando se está velho e solitário). Depois de algumas noites de conchinha, esse homem sisudo e acabrunhado, que tomava cerveja no bar da cidade com outros homens de idade, vai se afastando daquele lugar de conversa e se encantando por descortinar a intimidade da vizinha — até então uma estranha — e a dele próprio.

A dormida solidária logo vai se transformando em pequenos passeios, até que realizam alguns sonhos — como se hospedar num hotel charmoso e dançar de rosto colado. Claro que o romance engata.

A cidade se encanta com o “novo casal”, os amigos do bar fazem chacota com uma cama caliente, e o senhor do saquinho e do pijama se irrita.

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Jane Fonda e Robert Redford em Nossas noites Imdb
Aos poucos, ele passa a dormir lá todos os dias. E, como sempre, o cotidiano bate à porta — com o nome dos filhos e do neto. Netinho de quem ele se afeiçoa e a quem ajuda a montar uma locomotiva.

A vida real se intromete — e a personagem de Fonda terá que se mudar para criar o neto. Realidade comum entre tantos conhecidos meus: quando encontramos a liberdade do ninho vazio e da aposentadoria, as circunstâncias carentes se apresentam, e lá vamos nós, avós, redimensionar esse lugar de independência.

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Robert Redford e Jane Fonda em Nossas noites Imdb
> A vida é sempre uma ironia. Quando jovens, quase nunca podemos nos expandir nos desejos mais mirabolantes. Quando mais velhos, quando já temos alguma estabilidade emocional e financeira, às vezes levamos uma rasteira.

Mas a solidão também pode ser amenizada com um telefonema antes de dormir. E é isso que esses dois vão fazer dali em diante. Nada como um fio para encurtar distâncias.

E o amor de longe também pode funcionar. Especialmente nessa fase da vida, quando os hormônios já não são mais ululantes, e uma conversa aqui e acolá — principalmente acolá — pode sim dar conforto, um friozinho na barriga e um olhar apaixonado.

Ai, como eu sonhei com Redford sendo meu vizinho, com um saquinho de papel e seu pijama na mão…


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