O novo rejúbilo soou tão avantajado quanto o outro, e obrigava Agenor a um quase esforço de resistência para não fechar os olhos, novament...



O novo rejúbilo soou tão avantajado quanto o outro, e obrigava Agenor a um quase esforço de resistência para não fechar os olhos, novamente atingido pela inconveniência inesperada, profundamente desagradável, justamente num dos momentos mais pesarosos por que teve de passar na vida.

Há semanas ele achou um cantinho pra morar sem poder chamar de seu. Mesmo assim lá se aninhou decidindo adotá-lo.

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Há semanas ele achou
um cantinho pra morar
sem poder chamar de seu.
Mesmo assim lá se aninhou
decidindo adotá-lo.

Voz sumida, aquele murmúrio de palavras indistintas. Com a concha da mão imprenso o ouvido ao fone. Quem... por favor? O ciciar ainda não d...

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Voz sumida, aquele murmúrio de palavras indistintas. Com a concha da mão imprenso o ouvido ao fone. Quem... por favor? O ciciar ainda não diz se é de gente ou do vento. Melhora um pouco, é de gente mulher, sim. A impaciência relaxa para uma escuta mais calma, até fagueira. Os que chegam a essa distância de vida compreendem.

Vamos dançar? Se pudesse, hoje, te tiraria para dançar... Dançaríamos juntinhos, De rosto colado, E em teu ouvido, Eu cantaria baix...


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Vamos dançar?


Se pudesse, hoje, te tiraria para dançar...
Dançaríamos juntinhos,
De rosto colado,
E em teu ouvido,
Eu cantaria baixinho.

“Príamo julga-se o mais infeliz dos homens, por beijar a mão daquele que lhe matou o filho. Homero é que relata isto, e é um bom autor, não...

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“Príamo julga-se o mais infeliz dos homens, por beijar a mão daquele que lhe matou o filho. Homero é que relata isto, e é um bom autor, não obstante contá-lo em verso, mas há narrações exatas em verso, e até mau verso. Compara tu a situação de Príamo com a minha; eu acabava de louvar as virtudes do homem que recebera, defunto, aqueles olhos... É impossível que algum Homero não tirasse da minha situação muito melhor efeito, ou, quando menos, igual. Nem digas que nos faltam Homeros, pela causa apontada em Camões; não, senhor, faltam-nos, é certo, mas é porque os Príamos procuram a sombra e o silêncio. As lágrimas, se as têm, são enxugadas atrás da porta, para que as caras apareçam limpas e serenas; os discursos são antes de alegria que de melancolia, e tudo passa como se Aquiles não matasse Heitor.”

Cabo Branco e outros mares trago medos da barreira de cabo branco saudades de barracas e agueiros meu pai beliscando uma agulha o meni...

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Cabo Branco e outros mares


trago medos da barreira de cabo branco
saudades de barracas e agueiros
meu pai beliscando uma agulha
o menino que corria nas areias do sol

trago memórias do sal de tambaú
e do imponente hotel, cartão postal da maresia
lembranças do mercado, dos bares, da lua
o menino lambendo os dedos afrodisíacos

trago a solidão escura de manaíra
e o descampado vazio de seu calçadão
cantigas de nada para os pescadores da vida
cantigas de espumas nos pescados dos pratos

trago outros mares que jogam suas ondas em minha lida
bessa, e seus bares da moda
a penha, com seus hábitos populares
o seixas, onde o sol nasce primeiro
jacarapé, onde os corpos morrem primeiro

trago alegrias do cabo branco da infância
e medos, do cabo branco amanhã
trago dores e os banhos de sargaços na alma
trago suas tatuagens, marcando minha pele no azul do mar.



O beijo


o instante que precedeu o beijo
estava cheio de relâmpagos e trovões
coração disparado e muitos senões
querendo botar gosto ruim em meu desejo

o momento em que aconteceu o beijo
não tinha trovões, só nuvens
mas tinhas raios que anunciavam
o sol que brilhava até no Alentejo

o que aconteceu depois não foi lampejo
e não tem dicionário que defina
nada explica porque só essa menina
me deixa sem querer outro beijo.



Amigos


meus amigos guiaram ruas em itinerários
das acácias

alguns estão longe na retina
no sabor de jambo em paralelepípedos vermelhos
de jaguaribe

outros levaram meus pés para jogar
sonhos nas areias de um mar impúbere

àqueles acendiam poemas baseados em motivos surreais
na sala vazia do altiplano,
(temperados com gororobas deliciosas de morrison)

estes, mal chegaram e já saíram
(ficou um ou outro teimando a poesia).


* (Do livro, ainda inédito, “Cabo Branco e outros lugares que não estão no mapa”)


Linaldo Guedes é mestre em ciências da religião, jornalista e poeta

Milênios separam o paulista Paulo Vanzolini do velho Salomão, aquele mesmo, o bíblico. Mas não consigo ler um sem lembrar do outro. Ambo...

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Milênios separam o paulista Paulo Vanzolini do velho Salomão, aquele mesmo, o bíblico. Mas não consigo ler um sem lembrar do outro.

Ambos cantaram os mesmos temas: a angústia e o desespero de um coração partido. Mais: a humilhação suprema da busca por um amor vagabundo, perdido nas noites. Mais, ainda: a renúncia ao mínimo resquício de amor próprio, bem necessário ao equilíbrio e à sobriedade, ao comedimento e à compostura.

O lugar comum costuma asseverar que a solidão é a melhor companhia. A mística religiosa, enraizada nas representações sociais, enaltece a c...

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O lugar comum costuma asseverar que a solidão é a melhor companhia. A mística religiosa, enraizada nas representações sociais, enaltece a clausura como forma de se evitar o mal. O que se observa é que esse isolamento, na proporção que não faz o mal, igualmente não realiza o bem. Por acaso Deus quer eunucos?

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Involuntariamente, o mundo confinou as pessoas diante do flagelo da Covid-19. Ao invés de auto revelação ou iluminação interior, o que se tem visto é uma espécie de delirium pandêmico indutor do desespero, do sentimento de culpa e, em muitos casos, da recontagem da validade da vida.

Com isso, evidencia-se a saturação da futilidade valorativa de falsas exterioridades, veiculadas nas redes sociais. A fórceps, a pandemia tem obrigado a um caliginoso encontro consigo mesmo, impactado pelo conflito interno provindo de sonhos, desejos, pulsões e a inaptidão em mudar alguma coisa.

É aí que se acentua a baixo autoestima, um dos maiores problemas de uma contemporaneidade marcada pela fluidez dos relacionamentos em todos os aspectos. A primeira consequência é a autopiedade, consequente da percepção de que a idealização de si, ou de outrem, não passa de uma fantasia mental.

Através da autopiedade instaura-se um sentimento de invalidez mental que, além de adoecer fisicamente, introjeta uma sensação de inferioridade e de perda do sentido da vida, intensificado pela tendência decorrente da solidão em se relembrar apenas dos fatos dolorosos de uma vida que deveria ter sido, mas não é, segundo pueris idealizações. É que nesse estado a pessoa não consegue vislumbrar que o passado – por mais traumático que tenha sido – só existe enquanto categoria mental. Não é real!

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Em segundo lugar, decorrente da autopiedade, vem o sentimento de culpa, sentimento este reforçado por crenças religiosas limitantes que buscam na culpa a forma suprema para a introjeção do medo e da manipulação. Daí a preocupação com as classificadas vítimas do mundo, as quais devemos “salvá-las”, quando quem precisa de “salvação” é a nossa própria incolumidade psíquica.

E a “caridade” presunçosa que faz pelos outros o que eles sabem e podem fazer? E a caridade esmola, a mais fácil, sobretudo quando se chamam os meios de comunicação? O que é a verdadeira caridade quando a existência da verdade está reduzida à percepção que a pessoa tem desta?

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Nunca se necessitou tanto da máxima de Protágoras, talvez a maior expressão dos Sofistas, de que “o homem é a medida de todas as coisas”. Aristóteles também assevera que o homem é o que pensa. Desta maneira também pensava Marx, pensador que merece ser relido pela eterna “esquerda festiva”, no dizer do genial Nelson Rodrigues.

Temos o retrato de uma situação terrificante que não pode ser mais olhada e analisada através da moldura. A Covid-19 é o acicate, não para a desesperança efêmera consequente da fragilidade emocional, mas para novos olhares sobre a condição humana enquanto vontade de potência, na concepção de Nietzsche, de que o ser humano nasceu para carregar o estandarte nas batalhas, pois da maneira que não existe felicidade eterna, inexiste desgraça que dure a vida inteira.


Josinaldo Malaquias é pós-doutor em direito, doutor em sociologia e jornalista

A notícia, no início da semana passada, foi só um susto. Mas, nos dias seguintes, ela se fez dolorosamente real! Aos 92 anos, o catalão m...

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A notícia, no início da semana passada, foi só um susto. Mas, nos dias seguintes, ela se fez dolorosamente real!

Aos 92 anos, o catalão mais brasileiro de quem já ouvi falar, calou sua voz nesta Terra. Sim, agora e verdade! Dom Pedro Casaldáliga partiu hoje, em direção à sua nova morada!

Você jamais será esquecido, Dom Pedro! Das nossas mentes. Dos nossos fazeres. Dos nossos corações
Estou muda... Sem saber o que dizer, multo embora enviasse energias e torcesse para que acontecesse o que de melhor fosse para ele, diante de um quadro tão grave de problemas: principalmente os respiratórios.

Meu coração para por uns instantes...Estou profundamente triste…

Dom Pedro Casaldáliga agora é um anjo, que há de estar, eterna e suavemente, sobrevoando sobre nós e a nossa casa, a nossa Terra.

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Dom Pedro Casaldáliga
No entanto, a falta do seu olhar, das ações e palavras que não teremos mais vão nos deixar ainda mais solitários e dispersos no amor ao próximo.

Fará imensurável falta a presença física de um dos seres mais belos e pulsantes que Deus colocou neste planeta: azul e de abundante água...

Como bispo de São Félix do Araguaia, Dom Pedro Casaldáliga esteve sempre junto com o povo, num longo, amoroso e profundo caminho...

Você jamais será esquecido, Dom Pedro! Das nossas mentes. Dos nossos fazeres. Dos nossos corações.

Estou destroçada... Mas serei forte e serena, como o senhor sempre foi! Sei que seus ensinamentos e ações serão seguidos, compartilhados e multiplicados!

Salve a Teologia da Libertação!

Gratidão eterna pela sua grandeza, querido Servo da Vida e de Cristo!!!


Thamara Duarte é mestre em direitos humanos, ambientalista, e jornalista

Pode parecer aos mais impacientes que já não haja, a estas alturas, lugar para mais especulações a respeito da traição de Capitu, no célebr...

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Pode parecer aos mais impacientes que já não haja, a estas alturas, lugar para mais especulações a respeito da traição de Capitu, no célebre romance Dom Casmurro, de Machado de Assis. Realmente. Tanto já se escreveu sobre esse tema, admitindo-se ou negando-se a tal infidelidade, que talvez não se justifique voltar ao assunto, tido por esgotado. E, no entanto, volta-se. Exatamente porque essa é uma das características dos clássicos: sua inesgotabilidade, sua permanente provocação aos leitores, suscitando eternamente novas leituras e enfoques, e rejuvenescendo o que já parecia, aos mais apressados, definitivamente velho e exaurido. E Dom Casmurro, ninguém pode negar, é verdadeiramente um clássico de nossa letras, com potencial de se tornar um clássico das letras universais, caso um dia o mundo resolva descobrir nossos autores.

Para meu pai, Romero [ in memoriam ], uma saudade imensa; Para Juca, um pai querido, super amoroso, e de carne e osso; Para Fred, um pai ...

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Para meu pai, Romero [in memoriam], uma saudade imensa;
Para Juca, um pai querido, super amoroso, e de carne e osso;
Para Fred, um pai presente, por entre as Pitangas;
Para Flávio, uma vez, um quase-pai.


Hoje, domingo, comemora-se o Dia dos Pais. Enquanto comprava lembrancinhas para os “meus pais” queridos, aproveitei para presentear a mamãe aqui com algumas leituras, as quais recomendo:

Embora se tenha tornado, pela tradição popular, um mês aziago, o chamado mês do cachorro louco, Agosto, em sua origem, não é nada disso. Ag...

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Embora se tenha tornado, pela tradição popular, um mês aziago, o chamado mês do cachorro louco, Agosto, em sua origem, não é nada disso. Agosto vem de Augustus, uma homenagem a Octavius Augustus Caesar, o princeps,  conhecido mais comumente como o imperador romano César Augusto.

Em seu nascedouro este mês se chamou Sextīlis e era, de fato, o sexto do ano, numa referência à sua ordem no calendário romulano ou no calendário de Numa Pompílio, posterior ao de Rômulo, ambos do século VIII a.C. Mesmo que Numa tivesse acrescentado dois meses ao seu calendário – Janeiro e Fevereiro –, o mês Sextīlis continuou como sexto, tendo em vista que os meses acrescidos foram postos ao final do ano, depois de December, dezembro.

São outros tempos e as bandas fugiram dos coretos. O da Praça Venâncio Neiva: esquecido num canto do logradouro; o da Praça da Independênci...

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São outros tempos e as bandas fugiram dos coretos. O da Praça Venâncio Neiva: esquecido num canto do logradouro; o da Praça da Independência: invadido por flores.

Iniciamos nossas reflexões, a partir da exortação contida na carta do Apóstolo Paulo aos Efésios, 5:14: “Ó tu, que dormes, desperta e lev...

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Iniciamos nossas reflexões, a partir da exortação contida na carta do Apóstolo Paulo aos Efésios, 5:14:

“Ó tu, que dormes, desperta e levanta-te entre os mortos, que Cristo te iluminará”.

Li há algum tempo que o Projeto Genoma conseguiu mapear mais de 98% do código genético humano. Trata-se de um feito semelhante à invenção d...

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Li há algum tempo que o Projeto Genoma conseguiu mapear mais de 98% do código genético humano. Trata-se de um feito semelhante à invenção do telescópio, que permitiu a Galileu perceber que a Terra não é o centro do Universo, e está no mesmo nível da descoberta da evolução (Darwin) ou do inconsciente (Freud).

Originou-se de uma caixa de frutas e verduras, daquelas de madeira, com talas pregadas espaçadas nas laterais, onde são armazenadas verdura...

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Originou-se de uma caixa de frutas e verduras, daquelas de madeira, com talas pregadas espaçadas nas laterais, onde são armazenadas verduras e legumes como cenouras, pimentões e chuchus, ou frutas como mangas, cajus e laranjas. Gostos variados, doces sabores ou não, alimentos para a vida, tão comuns nos mercados e feiras livres da cidade. Porém, engana-se quem a considerar uma caixa qualquer.A caixinha em questão ganhou personalidade, alma. Ela foi toda pintada de azul escuro e recebeu pinceladas que formaram bolinhas vermelhas. É uma caixa especial!

Participamos, no ano passado, de um cine-jantar no restaurante Casa Roccia , organizado pelo crítico de cinema Andrés Von Der Sauer. Os seu...

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Participamos, no ano passado, de um cine-jantar no restaurante Casa Roccia, organizado pelo crítico de cinema Andrés Von Der Sauer. Os seus eventos, além de proporcionar agradáveis encontros entre pessoas que são amantes da Sétima Arte, têm como pièce de résistance, prato principal, o debate de alto nível por ele promovido após a sessão. Suas análises de cinema são ricas em detalhes e permeadas do humor que lhe é peculiar.

Naquela noite, assistimos ao filme francês "Vatel, um Banquete para o Rei" (2000, Roland Joffé), com o qual ficamos profundamente impressionados. A película conta a história, verdadeira, da recepção oferecida pelo conde de Chantilly ao rei Luis XIV, da França. O conde estava quebrado e precisava muito agradar o rei e convencê-lo a abrir os cofres para salvar seu condado. Conseguiu, então, que Sua Majestade aceitasse o convite para um jantar. Mas não um simples jantar.


“Ô” banquete, como vocês verão se assistirem ao filme. Não é apenas um jantar gordo. É uma série de refeições em forma de obras de artes, entremeadas com danças, balé, circo, drama, comédia, tudo sequenciado para o deleite do rei e de sua comitiva.

Paralelo a isso, corre a história do autor da cerimônia: François Vatel, chef francês que já tinha sido da corte, mas caiu em desgraça, fugindo da França para a Inglaterra. Anos depois volta à França, sendo acolhido pelo conde de Chantilly.

O filme é deslumbrante, rico em fotografia, atuação e direção, posteriormente comentado por Andrés. O debate foi, realmente, uma “deliciosa sobremesa!”

Mas nem todo banquete se reveste de tanto luxo quanto o do conde de Chantilly. É possível termos o mesmo prazer com muito menos. Depende das circunstâncias.


Ao ser admitido no curso ginasial do Colégio Pio X, como já disse certa vez, ingressei numa nova realidade social e psicológica: fui promovido a rapaz!

Lá, fiz amizades com muitos colegas, cabeças as mais diferentes possíveis. Uma das mais duradouras das amizades foi com Fernando Furtado Filho, o Nino.

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Ele mudou-se para o bairro Tambiá, perto da nossa casa. Sua grande família, composta por pessoas maravilhosas, exerceu boa influencia à minha vida: Dr. Fernando Furtado, Dona Mirtes, Paulo Germano, Solange, Suely, Simone, Silvana e o próprio Nino. Com eles vivi momentos inesquecíveis.

Dr. Fernando era um exímio profissional; excelente pai de família e esposo; pessoa simples; sempre bem humorado, gostava de conversar conosco. Dava atenção à meninada.

Dona Mirtes é uma dama: bonita, elegante, excelente companheira, mãe e filha, que foi. Sempre carinhosa com as irmãs e com toda a família. Assim como o esposo, era muito atenciosa para com as amizades dos seus filhos. Hoje, ela estende todo o seu amor para os netos.

Andamos uns cinco quilômetros, parando aqui e ali para descansar, quando de repente a fome começou a apertar.
Um dos cenários mais comuns das nossas aventuras foi o sítio Alagoinha, do Dr. Fernando, na localidade de Gramame, que dista cerca de 15 quilômetros do centro da capital paraibana.

Todas as manhãs de sábados ele ia até o sítio: fazer pagamentos, levar farelo para as vacas, milho para as galinhas. Voltava com a carroceria da caminhonete repleta de frutas. E nós íamos com ele: Fernando, eu e Tóia, a inseparável cadela peluda do patriarca.

Lá, havia tudo o que menino gosta de fazer: roça, dar comida ao gado, campo para peladas, uma piscina improvisada, mata e, principalmente, o banho de água doce! O sítio ficava às margens do rio Gramame.

Embora nossas mães nos proibissem de nadar no rio, não pensávamos em outra coisa quando íamos para lá, desafiando os caramujos da schistosoma.

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Num desses sábados fizemos uma jangada precária, com troncos de bananeiras, e fomos navegar. O rio era raso, de modo que, em alguns trechos, a jangada encalhava. Tínhamos, então, que descer e empurrar, enquanto Toia latia na margem. Nesse dia, ficamos entretidos nisso toda a manhã, e entramos pela tarde.

Foi só quando a jangada se desmanchou que nos demos conta do tempo e corremos de volta para a sede do sítio. Quebramos a cara. Cadê a caminhonete? Para onde foi Dr. Fernando? O administrador nos disse que ele nos procurou, buzinou e foi embora.

E agora? Decidimos voltar a pé para casa. Quilômetros! Mas era o jeito. Partimos, com Toia nos acompanhando.

Andamos uns cinco quilômetros, parando aqui e ali para descansar, quando de repente a fome começou a apertar. Mato de um lado, mato do outro, nenhuma árvore frutífera e a fome aumentando. Eu já não pensava em outra coisa senão em comer. Qualquer coisa!

Um pouco mais adiante encontramos uma casa com uma modesta vendinha ao lado. Tarde avançada, não havia mais o que servir. Insistimos e o dono nos ofereceu o que restava: sardinha com cuscuz! Abriu duas latas e comemos com o cuscuz seco. Dividimos tudo com Toia. Que delícia! A sensação era de que estava comendo salmão com um risoto bem gostoso, com creme de leite.

Para a nossa surpresa, mal terminamos e andamos um pouco, vimos a caminhonete verde-claro se aproximando: Dr. Fernando veio nos buscar!

Relembrando tudo isso, sinto que o nosso almoço inusitado foi tão gostoso quanto o banquete de Vatel. Tanto que até hoje não esqueci o sabor. E fiquei fã da sardinha.

Só não com cuscuz seco!


José Mário Espínola é médico e escritor

Crepúsculo Um majestoso tapete vermelho Se estende pelo céu Sobre retalhos de azul. Tão belas as coisas de Deus! A tarde se despede ...

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Crepúsculo


Um majestoso tapete vermelho
Se estende pelo céu
Sobre retalhos de azul.
Tão belas as coisas de Deus! A tarde se despede
Em pleno esplendor com suas cores e murmúrios.
Divago: são os anjos preparando um concerto!
Tento imaginar a beleza e a magia
Da música celestial
E me vem um enorme desejo de ter asas.
Exponho desarmada ao novo espetáculo
Meu querer. E esqueço que a noite
Tão rica de estrelas, não tem poder...

A irmã de Elle continua falando, enquanto segura sua mão. — Um dia você me intrigou. Estávamos comprando material de expediente para o se...

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A irmã de Elle continua falando, enquanto segura sua mão.

— Um dia você me intrigou. Estávamos comprando material de expediente para o seu escritório de casa. Quando reparei, você estava cheirando uma borracha como se fosse uma flor. Lembra? Perguntei o que estava fazendo. Em vez de responder, você me fez uma pergunta. Aliás, a de sempre: “Não gosta do cheiro?”. Então eu disse: "Gosto, mas não fico cheirando borracha nas lojas ou em outro lugar. Compramos tudo, inclusive a borracha. Era daquelas que usávamos em nosso tempo de escola , das que se coloca encaixada no lápis grafite. Na saída você me convidou para tomarmos um café, iria contar sobre o cheiro da borracha. E me contou:

Foi dose forte de leitura e de influências no juízo de um adolescente bem nascido, mas de sensibilidade francamente exposta ao chamamento c...

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Foi dose forte de leitura e de influências no juízo de um adolescente bem nascido, mas de sensibilidade francamente exposta ao chamamento cultural e político de povos e de novas experiências libertárias.