O episódio nº 24 da Pauta Cultural entra no ar na ALCR-TV com notas literárias e participação de autores, leitores e telespectadores do Ambiente de Leitura Carlos Romero.
É dura a vida, no Brasil, de escritores que vivem e produzem fora do eixo Rio-São Paulo. No resto do mundo imagino que deva ser a mesma coisa, a mesma dificuldade de conseguir um editor importante e a necessária divulgação, aquela que pode tornar o autor conhecido, se não pelo grande público, ao menos pelo grupo mais restrito dos leitores contumazes. Deve ser dura também a vida dos que escrevem e vivem no Rio e em São Paulo, mas que ainda são anônimos e/ou inéditos, já que não é fácil, em nenhum lugar, obter reconhecimento.
Estou hoje vencido, como se soubesse a verdade.
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer.
E não tivesse mais irmandade com as coisas.Fernando Pessoa
De vez em quando me assomam impertinentes pensamentos de que os dias estão se esvaindo numa incontida hemorragia em que o tempo celeremente vai sendo consumido. Tempus Fugit. E, o que o resta dos dias são apenas fagulhas efêmeras que mal conseguem alumiar os sentimentos de esperança. A vida segue rumo ao seu final num curso imprevisível.
Ora radicado em Moscovo, Rússia, o amigo Astier Basílio posava numa foto ao lado de uma pilha de livros, nada menos que a coleção de todas as edições do livro “ZÉ LIMEIRA, POETA DO ABSURDO", do escritor, poeta e pesquisador Orlando Tejo.
Sentado um instante, corpo inerte enquanto a mente acelerada pensava mil e uma coisas, nem todas com a utilidade de um Bombril, várias inservíveis, distrações cerebrais. E nem percebia que o mundo ao redor observava o distraído corpo que sustentava a cabeça feita uma metralhadora giratória.
Augusto dos Anjos, o poeta mais original da literatura brasileira, foi embora da Paraíba porque não lhe deram emprego de professor. Quase cem anos depois, não fosse o intelectual Waldemar Duarte, o busto do poeta não estaria no Parque Solon de Lucena e teria virado ferro velho, por falta de pagamento do governador caloteiro e mais não sei quem responsável pela encomenda na época.
O Dr. Arnaldo Tavares, dermatologista, professor fundador da Faculdade de Medicina da Paraíba, morreu há 28 anos, tempo bastante para vertiginosas transformações no comportamento e na vida de todos os povos. Uma delas: no seu tempo o sujeito ou objeto mais direto e principal do exame médico era o doente, a pessoa do doente e o seu físico, a apuração anamnésica, vindo depois os exames, a prioridade de hoje.
Em 1950, o Brasil sediava a Copa do Mundo de Futebol. No Rio de Janeiro, fora construído, às pressas, o estádio do Maracanã, onde foram disputadas as principais partidas do torneio e que passava a ser o maior estádio do mundo. Ao chegar aos jogos semifinais, o Brasil despontava como favorito para conquistar a Copa. Na última partida, antes de disputar o quadrangular decisivo, o time do Brasil goleara a Suíça por 7x1. No dia 13 de julho, a seleção brasileira entrou em campo para disputar, com a Espanha, o direito de participar da final da competição.
A ata de reunião, ou simplesmente a ata, é o registro escrito oficial de um evento. Deve conter tudo o que aconteceu na ocasião: data, local, participantes, pauta, e tudo o que for importante para aquela reunião. Ser uma cópia fiel do ocorrido.
Meu bisavô, coronel João Mendes, costumava dizer que o espelho mostra o caráter das pessoas. Vendo fotos antigas é possível reconstruir o retrato escondido no tempo. A fotografia e o espelho ajudam no esboço da reconstrução de fatos guardados na memória, a fisionomia escondida de alguém.
Todo mundo ama Vincent van Gogh. Especialmente agora, que ele está morto e seus ataques de raiva já não envergonham ninguém. Agora, quando já não escreve pedindo dinheiro aos parentes, não assedia as primas nem se casa com prostitutas, perde empregos, diz verdades inconvenientes ou tropeça, bêbado de absinto, pelas ruas.
Van Gogh comove multidões em 2021. Mas, em 1890, era objeto de riso nas ruas e de fuga dos amigos. Apedrejado pelos moleques, tido como louco por familiares, ninguém o desejava por perto. Desagradável, arrogante, insuportável e fonte de desgosto eram expressões recorrentes para identificá-lo.
Como eras minha, se deixaste de ser? Pouco importa que a lógica diga que tudo que é deixará de ser; ou que o que é só é porque promete que deixará de ser; ou que, na dialética metafísica, o não ser é que dá substância ao ser. Eu não quero esta ciência. Eu preferiria o inteiriço nada, na sua plenitude de não desfazer-se, do que ter-me sentido pleno e hoje ser apenas fragmentos de nada.
O esforço maior tem que ser o de não nos colocarmos como vítimas, em hipótese alguma. Por maior que seja a dor emocional que esteja nos abatendo. Expectativas frustradas costumam causar decepções, angústias e inconformismo. Ficamos procurando explicações para a ocorrência que nos surpreende. Aquele sentimento de injustiça que não quer nos desgarrar.
Pensamos descontinuamente e nossa mania de classificação, que nos torna um Homo taxonomicus (olha aí a mania...) nos ajudou a exacerbar essa postura. Segundo Richard Dawkins, a evolução não pode ser pensada descontinuamente (A grande história da evolução: na trilha dos nossos ancestrais). Ele traz como exemplo a famigerada ausência de fósseis intermediários entre os primatas, os chamados elos perdidos.
“Estamos brincando de Deus” – foi o que nos disse, recentemente, um cientista da histopatologia, amigo nosso, ao se referir às incertezas e consequências das vacinas produzidas para nos imunizar contra o vírus corona. Em sua advertida colocação, ele leva em conta os riscos de um experimento que não dispôs do tempo necessário para mais testes de segurança, a exemplo de outros imunizantes historicamente utilizados.
Socava as varetas para dentro da boca da caieira com aquela eficiência de quem não exatamente precisa perceber o que faz, numa certa e negligente violência (dizendo para si) É muito engraçado você não perde duas partidas seguidas usando baralhos diferentes como é que o segundo dá um jeito de saber onde que você errou no primeiro mas era só o que me faltava deve estar vindo aí por trás um vento forte aposto para empurrar tudo isso para bem longe daqui para ir cair lá na baixa da égua pode apostar eu aposto que isso é só o azar da velha que Gaguinho trouxe com ele é muito bom esse meu amigo um bom menino mas trouxe o azar da velha E alguns momentos depois gritava para o garoto, este ainda aturdido com os estrondos e num certo estado de surpresa perdurante, congelada por certa prontidão de espírito para obedecer ordens, fossem lá quais fossem
Corra para casa vá para casa E o menino dando uma meia volta desnecessária, numa menção equivocada do caminho, mas em seguida correndo na direção certa e agora procurando concentrar o olhar na barreira que tinha para escalar Pegue a panela E parando no meio dela, voltando para pegar Tome a tampa E agora novamente a subir, mais lentamente agora, porque não dispunha de braços livres para equilibrar-se, e escutando a voz alta e ainda em meio dos trovões gritando como que uma desculpa Senão tu apanha uma doença e tua tia vai e põe a culpa em mim.