A manhã do domingo subitamente ensolarado acabara de raiar, envolta no gostoso clima invernal renovado pelas chuvas, quando até os ...

A casinha do marimbondo

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A manhã do domingo subitamente ensolarado acabara de raiar, envolta no gostoso clima invernal renovado pelas chuvas, quando até os afazeres mais banais se sublimam na magia do momento presente. E eis que percebemos ele chegar, indo direto para um recanto na parede de tijolo. Trazia nos braços uma trouxinha de argila úmida, com a qual começou a modelar um pequeno círculo. Logo vimos que era o alicerce de uma nova casinha.

A destreza sob a qual o marimbondo manipulava o barro com as mandíbulas e ajuda das patinhas era impressionante. Fui logo atrás de um celular, pois aquilo merecia ser registrado. Quando voltei, ele havia sumido, mas a casinha estava lá, iniciada com uma delicada casquinha, em um círculo perfeito.

@liliantomazelli
Logo retornou. E dessa vez, deu para ver mais de perto que havia no bico outra porção de argila. Imediatamente ele retomou o trabalho, numa espantosa sincronia, contorcendo-se em várias posições, concentradíssimo na feição do novo casulo, bem ao lado da porta do nosso depósito.

Sua absorção era tão intensa que não dava importância alguma à nossa presença, mesmo quando eu aproximava a câmera para captar mais de perto o notável acontecimento.

Em poucos minutos, a casinha estava pronta, parecendo um pote de cerâmica em miniatura, com uma pequena abertura em forma de gargalo, colado à parede. Aquele fenômeno, para mim divino, deixou-me encantado pelo resto do dia. A cena sempre voltava à lembrança com emocionada ternura. Ficava imaginando onde ele ia buscar aquela argila…, como sabia traçar um círculo tão perfeito e construir uma coisinha tão linda e delicada como aquela?

@liliantomazelli
À noite, no aconchego da brisa junina, ouvindo o Adagio da Gran Partita de Mozart, concluí: Era Deus que estava ali presente, guiando aquela “obra”, mostrando-nos que o Universo é mesmo um só tecido, com inteligência própria, onipresente. O mesmo Deus que fez Mozart compor o adagio desta partita, tão belo como a casinha do marimbondo.

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  1. José Mário Espínola13/6/22 00:20

    Tambem fui brindado com essa presencinha tão importante para nós. O "meu" marimbondo me escolheu, 11 andares acima do solo, e construiu três casinhas NO MONITOR DO MEU COMPUTADOR! Delas saíram três jovenzinhos marimbondo.
    Pouco tempo depois ele retornou e construiu mais três. A querida amiga Ângela Bezerra de Castro, que tambem é fanática pela natureza, batizou-o de Seu Ferrão. E disse-me que ele estava construindo um conjunto habitacional em meu gabinete!

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    Respostas
    1. Meu amigo e escritor José Mário. Conheço e me congratulo com esta linda história. Aqui em casa nós também não as destruímos. Há vários shoppings :-)

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  2. Ângela Bezerra de Castro13/6/22 16:26

    A casinha de seu Ferrão, hóspede de Zemário.

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  3. Viveríamos bem melhor se prestássemos a devida atenção, até "curtindo-os", como diz a sabedoria popular, a momentos como estes, que, infelizmente estão se tornando cada vez mais raros, dada essa situação de "empoleiramento urbano" a que estamos cada vez mais sujeitos.
    Curtindo-os ouvindo a Ave Maria no Morro, na voz imortal de Elizeth Cardoso ou a Ave Maria do Sertão, com o "Rei" Gonzagão, não tem classificação emocional.
    Ave!

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