Gosto do termo “brumas” para figurar o esquecimento. O que vivemos se perde numa massa brumosa que dissipa as impressões do que passou. Não se revive nada, toda lembrança é o registro de uma perda. Ainda assim insistimos em lembrar, pois disso depende em grande parte a nossa identidade.
Outro vocábulo que também representa o que na memória se perdeu é “oblívio” – mas desse ninguém se lembra. É um vocábulo erudito e um tanto assustador. Por também significar repouso, tem alguma ligação com a morte.
Marco Bianchetti
A morte se consuma, não quando perdemos a vida, mas quando o que fomos desaparece por completo da lembrança dos vivos. Daí o empenho em que fique registrado o nosso nome nas obras de arte ou no acervo de instituições como academias, confrarias religiosas, associações de notáveis – que às vezes nem são tão notáveis assim, mas fazem questão do registro; o importante é que o nome esteja lá.
Marco Bianchetti
Muitos fazem tudo pela glória póstuma esquecidos de que o essencial mesmo é “permanecer” enquanto estiverem vivos. Isso significa atuar, comprometer-se, ser determinante na vida dos que deles dependem ou com os quais mantêm vínculos de afeto.
Quem falha nessa tarefa, muitas vezes em prol de uma duvidosa notoriedade aos olhos dos pósteros, está condenado ao esquecimento em vida (um esquecimento que por vezes se confunde com desprezo). E deve amargar para sempre os efeitos da escolha errada.