Sendo hoje o dia mundial do coração, na qualidade de cardiologista, resolvi brindar os caros leitores, do Ambiente de Leitura Carlos Romero, com a temática que se segue:
Com base em dados fisiológicos, o comando da vida física, e a modulação do comportamento humano, estão centralizados no cérebro, mas é o coração que simboliza o sofrimento humano, o amor, e o ódio, a alegria e a tristeza, a coragem, e o medo. Órgão de maior simbolismo do corpo humano, o coração carrega em si, diferentes crenças, e valores construídos, pelo senso comum, através de milênios. A história nos revela o coração-símbolo, com vários significados: coragem, vontade, desejo, emoções, vida e amor.
William HarveyCC0
Na mitologia, encontra-se o jovem Dionísio que, após ter sido devorado pelos Titãs, retorna à vida graças a um raio de Zeus em seu coração. Embora haja uma quantidade enorme de relatos do coração, como fonte de vida, barbáries foram cometidas justamente pela crença simbólica de sua força. O exemplo mais nefasto é aquele em que o marido, como castigo, fez sua esposa comer o coração do amante. Na tradição mística de Jean-Pierre Camus e de São Francisco de Sales, situa-se o coração simbólico como responsável pela interação entre o ser humano e o divino, o infinito e o finito, entre milagre o da salvação e o mundo, sendo órgão central do corpo de Cristo.
Autor Português, séc. 19
Da ficção à poesia, a mágica que envolve parece perdurar até atualmente. Dentro desse contexto, os cardiologistas recebem, nos serviços, pacientes com uma bagagem histórica e cultural própria e singular. Considerando todo o simbolismo relacionado com o coração, a atenção do clínico contemporâneo deve ultrapassar as fronteiras absolutamente técnicas, com um olhar o mais amplo possível, não ficando limitado apenas às interpretações de sofisticados exames complementares.
O retorno do médico de família, a formação de clínicos gerais, e o movimento psicossomático, vêm corroborar com o sentimento, de que algo necessita ser feito( e de forma urgente) no sentido de tratar o paciente enquanto ser humano, e não apenas, tratar o seu coração, ou seja, a Medicina técnica, não pode sufocar uma relação entre seres vivos. Além de tudo, não se pode esquecer que existe um coração emocional, um coração psicológico, e um coração espiritual, que também requer atenção.