Recorro às palavras do mestre Villas-Bôas Corrêa quando abordava sua trajetória de jornalista, uma história de quase meio século de atuação da Imprensa do Rio de Janeiro, para falar do livro que o amigo Rubens Nóbrega publicou recentemente, intitulado “Memória do Batente”, mas que gostaria de ter denominado de “Memória de um tradutor de telegramas”.
Carlos Castelo Branco
Arquivo Nacional
Arquivo Nacional
O livro em foco remete ao mestre Villas-Bôas que conheci por intermédio de Ascendino Leite, outro mestre do jornalismo que, diferente de Rubens e de mim, nunca copiou telegramas nas redações porque ambos eram repórter e redator no tempo do Jornalismo, feito como Literatura.
Na esteira do tempo, um tempo que também foi meu, dois anos depois de Rubens Nóbrega estar “copiando telegramas” no jornal O Norte, também ali cheguei pelas mãos de Nathanael Alves e, como ele, acolhido pelos amigos professores Teócrito Leal e Evandro Nóbrega.
Evandro Nóbrega
Cada jornalista no seu tempo e com sua verve de repórter, Villas-Bôas Corrêa e Rubens Nóbrega, ambos vasculham na memória pedaços de lembranças de fatos que viveram ou presenciaram. Cada um mergulhou nas funduras dos acontecimentos do panorama da política, sem especulação, apenas desejando noticiar os fatos para a história da Imprensa, brasileira e paraibana.
Tendo chegado cedo às redações de jornais, o destino espichou a atuação de Rubens Nóbrega a meio século de atividade, com idas e retornos nem sempre desejados, mas dando conta do recado. Agora, curtindo o repouso sem abandonar a lida, não sei se bem remunerado, ele nos chega com uma obra de memória com credenciais invejáveis.
Ainda que por pouco tempo tenhamos atuado na mesma redação, no fechamento do jornal Correio, no preparo das chamadas da primeira página, que ele titulava com agilidade, lendo seu livro é como conversar com a memória, a percorrer as lembranças de uma geração da qual fiz parte, vivendo com o pulsar entusiástico de corações vibrantes com a notícia e a manchete inédita.
Sabíamos que o jornalista é o resultado das reações sociais, e assim vivíamos inquietos. Carregávamos uma flor vermelha invisível no peito para não sermos notados.
Rubens me faz lembrar de que, na época em que começamos, o jornalismo era a iniciação para a literatura. Comumente os escritores
Rubens Nóbrega A União
Fez muito bem o jornalista Rubens Nóbrega escrever sobre sua experiência, sua vigência e seu aprendizado dentro das redações. Redações essas de um tempo de saudade. Um convite para que outros também conversem com a memória.
Nas redações povoadas dos derradeiros jornalistas das épocas profícuas de noites regadas a conversas intermináveis e cervejas, muitos aperfeiçoaram os recursos da criatividade e da linguagem refinada ao estilo literário que consagrou alguns escritores.
Com uns poucos colegas, Rubens Nóbrega colheu resquícios dessa época representativa do jornalismo paraibano, produzido por profissionais com apurado senso crítico. Repórteres que buscavam a grandeza da reportagem, ao modo de jornalistas tarimbados e vividos nas antigas redações.
As redações de nosso tempo eram terrenos férteis para nossas sementes.
O livro Memórias do Batente, de Rubens Nóbrega, está disponível no site da Editora Giostri."Traduzir telegrama significava escolher as notícias fornecidas via teletipo, um avô do telex, para datilografar cada uma com maiúsculas, minúsculas, acentos, além de trocar advérbios de tempo para o leitor que iria ler o jornal no dia seguinte, ou seja, onde houvesse ‘hoje’, a gente tinha que botar ‘ontem, ‘amanhã’ por ‘hoje’ e assim por diante". (Rubens Nóbrega)