Meus amigos, minhas amigas, para começar sei bem diferenciar o que é inveja do que é cobiça. E sei também que há invejas e invejas......

Minhas quatro invejas

poeta goleiro violao invejas
Meus amigos, minhas amigas, para começar sei bem diferenciar o que é inveja do que é cobiça. E sei também que há invejas e invejas... Já que vou discorrer acerca das minhas invejas e exclusivamente delas, creio ser prudente também esclarecer que as minhas são inofensivas, inocentes idiossincrasias. Nada além disso. Falemos delas, então.

Começo dizendo que invejo os poetas. Ah, como lastimo Deus não me ter feito um dos que fazem parte dessa plêiade. Não tenho a menor habilidade para produzir um texto poético.
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Meu senso crítico não me permite navegar sobre as profundezas abissais de um poema, onde cada ideia está escondida atrás da força de uma palavra como em “Navegar é preciso, viver não é preciso” de Fernando Pessoa. Aprecio ver os sentidos diversos do vocábulo “preciso”. Bem dizia T.S. Eliot: “O verso não é livre para quem escreve bem”. E é verdade.

Fora essa pertinente consideração, acho esplendoroso quando o poeta se entrega, por exemplo, à geometria implacável da construção de um soneto. Ele ali dando trato de um caprichoso ourives às palavras, sempre sob a severa vigilância da métrica e das rimas. Ah, que belo exemplo o nosso Augusto.

Ou quando me deparo com “Nas ondas mendaces/ senti pelas faces/ os silvos fulgaces/ dos ventos que amei.” Em I Juca Pirama de Gonçalves Dias. A rima rica posta sobre o rigor das cinco sílabas poéticas na súplica do guerreiro tupi diante dos bravos timbiras.

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É por aí, meus amigos, mas aqui na província e também fora daqui esbarramos com certos “poemas” de rima pobre, sem rítmo, sem a capacidade de provocar reflexões. Metáforas nem pensar, como também ocorre com aqueles que se arriscam na difícil seara dos versos supostamente livres, tão livres que escapam mundo afora e que bom que se perdessem por aí. Nesta última modalidade, basta colocarmos o texto, ao formato de uma prosa que fica parecendo redação de aluno de quinta série.

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Como diria um amigo, por aqui está sobrando poetas, mas poesia que é bom... Então, confesso: inveja tenho sim, dos poetas e não dos que se acham como tal...

Outra inveja, acreditem, é a que tenho dos goleiros, dos guarda-metas, daqueles que impedem a apoteose sublime de um gol. Para mim há mais beleza, mais plasticidade, no malabarismos de uma grande defesa do que o balançar das redes na conquista de um tento. Tempos de garoto, fiz minha tentativa, mas faltou-me uns 10 cm na estatura e não sei quanto de talento. Restou-me apreciar. Quantas vezes vejo e revejo Gordon Banks evitando o sucesso da finalização daquele negrinho endiabrado que subira onde é impensável subir e usar o cocuruto para disparar um torpedo na direção da meta onde
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aquele magrelão estava de sentinela. Como conseguiu evitar? Como? Minha inveja procede, tem suas razões.

Vamos a outra inveja. Dizem (eu disse: Dizem!) que quando Deus distribuiu a feiúra eu teria entrado duas vezes na fila. Ser feio não é fácil, eu que o diga. Como invejo os que entraram na outra fileira. Quem é bonito tem vida mais descomplicada. Eu tive que me superar, desenvolver outras habilidades e usar outras artimanhas como ter sempre ao meu lado um amigo mais feio do que eu. Sempre levo vantagem na comparação. Por aí vão imaginando como são meus amigos. Vendo-os não há de se crer que Deus tenha feito o homem a sua imagem e semelhança. Não dá para acreditar nessa premissa. Quando garoto tinha medo de ao atender a porta de minha casa e alguém ao me ver dissesse: Leve-me ao seu lider! Lembram-se desses diálogos icônicos dos filmes de ficção?

Aí vem a quarta inveja, tão dolorida como as anteriores, a dos virtuosos em algum instrumento musical. Meu pai querendo estimular um possível talento que eu pudesse desenvolver, deu-me quando eu tinha 12 anos um violão. Para resumir, eu não conseguia afinar aquela geringonça, como ia tocar? Se há os que para a música têm o ouvido absoluto, o meu é do tipo imperfeito. Resta-me a possibilidade de ouvir ou ver o desempenho de quem faz o que eu não tive talento suficiente para fazer. É o que me restou.

Aí, minhas quatro invejas, pelo menos as que conheço.

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  1. Suas invejas são todas santas, Paiva. Francisco Gil Messias.

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  2. Adoro ler os textos do Paiva!
    Essas invejas estão muito bem escritas...
    Parabéns!
    Eurídice Hespanhol

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