Meus amigos, minhas amigas, devem estar lembrados daqueles anos quando a coqueluche da hora chamava-se vídeo cassete. Creio que esses anos passados devem estar em suas memórias, afinal não faz tanto tempo assim. Desses idos é que vem nossa história.
Comecemos contando um pouco de Mariquinha que era uma danadinha. Danada não. Porque no caso, essa era uma criatura desse tamanhico, o que justifica o diminutivo. Grisalha, cabelos presos num coque bem apertado pouco acima da nuca, braços e pernas eram quatro cambitinhos dessa finurinha. Mirradinha mesmo. Mas pensem numa criatura esperta.
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Já padre Gustavo, era homem bruto, rigoroso e intolerante com quem se desviasse dos caminhos da fé. Mas com Mariquinha era todo cheio das delicadezas e agradecimentos. Não sei o que seria de mim sem ela, dizia ele. Tudo ali era com ela, puxar as rezas, ler os versículos, reger o coro que entoava cantos sacros e outras ajudas que uma paróquia exige.
As homilias, padre Gustavo as encerrava falando da importância do dízimo para expressar gratidão a Deus e sustentar a missão da Igreja. Depois dessas convincentes cobranças quem passava a sacolinha era Mariquinha, pois nosso clérico confiava só nela e em mais ninguém. Agora, aos fatos.
Casada, sem filhos, quando soube de uma certa novidade tecnológica, Mariquiha, como se diz: “quebrou a porquinha”, reuniu as economias e comprou à vista seu vídeo cassete. O marido, Tião, aposentado e desanimado que só. Ficou todo
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Naqueles tempos, esse programa radiofônico, alcançava até os canfundós. Era um sucesso nacional entre caminhoneiros, gente da roça e os que madrugavam. Daqui a pouco Zé Bétio vai entrar na trama.
Acontece que Mariquinha começou a variar um pouquinho quanto à preferência de gênero no que diz respeito ao que ela e o maridão espiavam na telinha. Imaginem vocês, para quem achava que beijo na boca era pecado, assistir ao que os dois começaram a ver... E que empolgação!
O rapaz que atendia na locadora, já devidamente corrompido, fazia chegar clandestinamente às mãos da velhota as grandes novidades do mundo das indecências.
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— Mariquiiiiinha! O que é isso?
A beata caiu no choro. Com muita paciência, o que não era comum, o sacerdote esperou que se esgotassem as lágrimas e que os soluços se espaçassem.
— Como a senhora me explica esse pecado? Roubar o que é de Deus?
— Me perdoe padre Gustavo, mas em casa a gente vive de aposentadoria que o Tião recebe do governo. Uma mixaria. Ele tá precisando de remédio que custa caro. — Por que não me disse? Eu iria ajudar.
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— Se é o que estou pensando... Mas nessa idade a senhora ainda...?
— Ainda, sim! Então, ouvi no programa do Zé Bétio que tem um remédio que é tiro e queda. Só que não tem por aqui nas farmácias. A gente manda buscar em São Paulo. Fica caro.
— Como é o nome do remédio?
— Tesurene.
O padre olhou, olhou, pensou um pouco. Não sabia se passava uma compostura na infeliz. Mas em nome dos serviços prestados...
— Reze um terço todinho e não me faça mais isso.
Na madrugada seguinte, padre Gustavo ligou o rádio no programa do Zé Bétio. Ali poderia estar o que andava procurando. Fazia tempo.