Paternidade/maternidade presente, por mais ausente que precise ser, faz toda diferença. Paternidade/maternidade, ausente por nec...

Presente / Ausente


Paternidade/maternidade presente, por mais ausente que precise ser, faz toda diferença.

Paternidade/maternidade, ausente por necessidade, procura uma maneira de estar presente, uma vez que acredita que por menor fração de hora que esteja, faz a diferença.

Paternidade/maternidade ausente, quando quer ser presente arranja os segundos, minutos, que somados representam as melhores horas, os melhores dias, meses e anos.

Orlando Vera
De forma fracionada constroem lembranças imaginárias.

Paternidade/maternidade, ausente pela obrigatoriedade do sustento, consegue ser mais presente por mais ausente que esteja.

A presença dessas ausências, se manifesta nos “xeiros” roubados entre os turnos desencontrados, em “bênçãos” quando a viagem pelo mundo dos sonhos é realizada pelas crias, ou em bom dias não respondidos por quem dorme enquanto o amanhecer desperta e precisa ser enfrentado.

Quando existe o amor parental, vemos a aritmética dos afetos.

O bilhete deixado junto do travesseiro, ou palavras sussurradas no ouvido, com uma mensagem de amor e encorajamento para nova escrita no livro da vida que se inicia. A “chatice” da ligação do pai/mãe, que trabalha em três empregos, na hora do almoço ou bem no meio de uma brincadeira, só para saber como foi a prova de portguês. Tudo se transforma em jóia no tesouro da vida.

Existe um valor incalculável, que só é dimensionado quando a maturidade chega, dos momentos conquistados a duras penas,
Unsp
com uma intensidade dos afetos destilados nos simples gestos. Ele se manifesta naquele café da manhã preparado entre um sapato calçado e outro, mas com cuidado especial, com tempero de um amor único.Naquela bola quicada nos últimos segundos antes da saída, sempre apressada. As ondas sonoras da voz cansada do dia de trabalho, que atravessam quilômetros, possui o calor transmitido vindo vestido com o desejo de estar perto.

Os filhos e pais, “da ausência imposta”, podem nem notar, porém o universo permite que desenvolvam sensibilidade aguçada para os pequenos detalhes. Sabem que o desperdiçar dos segundos é inadmissível, já que são tão poucos.

Tentam se transformar em artistas com presença concentrada, mestres da qualidade sobre a quantidade. Os simples gestos, a mais boba conversa, toda “presença”, se tornam preciosos, com ritual sagrado, únicos.

Eis, para quem sabe aproveitar, uma das mais belas contradições do viver: fragmentos de tempo são transformados em sólidas memórias e alicerces emocionais, que fazem toda a diferença durante a difícil travessia dos dias.

Unsp
Aqueles minutos subtraídos das refeições para ir até a escola assistir a uma “simples” apresentação artística. Aquelas horas tiradas do descanso dos feriados para ensinar andar de patins. Serão momentos como estes, aparentemente insignificantes vistos isoladamente, que estarão bordados na memória afetiva dos filhos.

As lembranças que falo não são fantasias ou ilusões. São frutos do amor incondicional vivido, onde estarão construídas memórias com gosto de saudade, dos instantes compartilhados. Tesouro raro do baú das nossas riquezas emocionais. A magia das recordações adquirem um valor incalculável. Os segundos vividos com intensidade valem horas de presença desatenta.

A Ausência deliberada é vazia, oca, desprovida do sentimento que transforma a distância física em proximidade das almas. Já a ausência pela obrigatoriedade do sustento, transporta em sua essência a responsabilidade, o sacrifício consciente, onde o amor está na obrigatoriedade do renunciar. Sua ausência física é, paradoxalmente, uma forma de presença, vista nas contas pagas, no alimento da mesa, na escolaridade oferecida, nos atendimentos médicos realizados pelo plano de saúde.

Andri Klopfenstein
Pai e mãe, que precisa aceitar emprego a quilômetros de distância de casa, carrega em cada metro, a responsabilidade encharcada do amor incondicional. Têm sua ausência povoada de presença, carregada da certeza inabalável que todas as provações fazem parte de um propósito maior.

É o tipo de ausência que possui em si uma nobreza única e particular. Podemos dizer que eles são heróis silenciosos, guerreiros cotidianos que poucas pessoas reconhecem como tal. O sacrifício é transformado em amor tangível, a distância se torna vizinha do lado, a ausência é tão presente quanto as batidas do coração.

Os filhos desses pais ausentes aprendem a ler as entrelinhas do afago apressado, a visualizar o brilho do silêncio necessário, a valorizar cada compartilhamento recebido. Desenvolvem uma compreensão intuitiva da complexa dinâmica de suas vidas. Crescem sabendo que são amados e protegidos, mesmo que os braços tantas vezes desejados, estejam distantes.

Brooke Cagle
Enquanto isso, a ausência escolhida, por simples comodidade de “não ter que enfrentar problemas”, paternidade/maternidade tantas vezes não escolhida mas apenas imposta pelo acaso, passa vazia pelas estações da vida. Ela não constrói, não sustenta, não alimenta sonhos nem esperanças. É uma lacuna, que precisa ser encarada como nonada no tronco da árvore emocional.

No final, esses filhos, não possuem pontes emocionais que possam ligá-los aos seus genitores, aos possíveis familiares ou àqueles que possuem os mesmos DNAs.

Mas, que importância isso tem para quem escolhe não ser presente? Nenhuma.

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  1. Um texto profundo, que mostra como a ausência por necessidade pode ser, na verdade, uma presença cheia de amor. Pequenos gestos, mesmo rápidos, deixam marcas e constroem memórias. Estou aplicando isso em minha vida de pai, marido e empresário.

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  2. Um texto profundo, que mostra como a ausência por necessidade pode ser, na verdade, uma presença cheia de amor. Pequenos gestos, mesmo rápidos, deixam marcas e constroem memórias. Estou aplicando isso em minha vida de pai, marido e empresário.

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