Em setembro de 1922, sete meses depois da Semana de Arte Moderna de São Paulo, Analice Caldas , professora e militante da imprensa e...

Augusto e Mário Pedrosa

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Em setembro de 1922, sete meses depois da Semana de Arte Moderna de São Paulo, Analice Caldas, professora e militante da imprensa entre nós, organiza um álbum, tipo enquete, com perguntas como “Qual a sua divisa? O que desejaria ser? Que pensa do feminismo?”. E entre uma dezena de outras, as duas seguintes, que dão motivo a estas linhas: “Quais seus escritores prediletos? Quais os poetas de sua preferência?”

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Analice Caldas Unicamp
O questionário reúne as figuras mais representativas do nosso meio cultural, tais como a cronista e poetisa Alice Monteiro, João Coriolano de Medeiros, Álvaro de Carvalho, Hortêncio Ribeiro, Carlos Dias Fernandes, Celso Mariz, João da Mata, Manuel Tavares Cavalcanti, João Suassuna, Castro Pinto, Silvino Olavo e outros mais, entre eles o filho do senador Cunha Pedrosa, Mário Pedrosa, crítico de arte respeitado em seu país e no exterior, nascido em Timbaúba, Pernambuco, mas rapaz feito na capital do estado que o pai bem representou de 1912 a 1923.

Qual o poeta de sua preferência? É a pergunta que me chama particularmente a atenção, feita com a estética do Parnaso a reinar por muito tempo ainda no gosto literário de todo o país, Olavo Bilac e Raimundo Correia disputando a primazia com Guerra Junqueiro e Camões. Lá um ou outro, Antero de Quental; aqui e ali a prata de casa com Carlos Dias Fernandes e Pereira da Silva.

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Mário Pedrosa (1920) CC0
E onde aparece, nessa enquete de indagações variadas, o nosso poeta maior Augusto dos Anjos, dez anos depois de publicado o EU, no Rio, e a pequena distância da reedição de iniciativa de Orris Soares, impressa n'A União? Por surpresa chega a ser citado uma única vez , logo depois de Baudelaire, na resposta de um jovem de 18/19 anos, chamado Mário Pedrosa, tido como rebelde nas memórias do pai, vindo a se conceituar, no futuro, como dos mais influentes críticos de arte dentro e fora do seu país.

É bem certo que os entrevistados deram pouca chance aos poetas provincianos, mesmo ao Carlos Dias, ao Raul Machado, ao Américo Falcão, ao Perilo, destaque entre os que alcançaram a graça de garantir seu nome nas antologias contemporâneas.

Augusto precisou, sem dúvida, da consagração externa ao meio e do encantamento popular pela sua poesia forte de expressão e de rítmica para poder, vinte ou trinta anos depois de sua morte, dar nome a uma pequena rua do antigo bairro do Montepio e ter um busto, por muito tempo mal conservado e mal vigiado na Lagoa.

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Augusto dos Anjos
@poetaaugustodosanjos
Em 1910, professor interino do Liceu, Augusto não tinha fama suficiente para justificar uma exceção à lei que negava licença remunerada ao funcionário interino. Era um esquisitão, pássaro molhado, assim descrito pelos que lhe eram mais íntimos, confundido com o poeta da morte e da melancolia dos seus versos. Não podia ser diferente na cabeça de um governante de visão restrita à administração e à política. O único do álbum de Analice a nomear Augusto está sozinho, também, ao citar Baudelaire.

Em Andorinha, Andorinha Manuel Bandeira trata Pedrosa de “meu querido amigo” para realçar que ele “atingiu no domínio da crítica das artes plásticas uma preeminência de que me parece, a todos os aspectos, digno pela poderosa inteligência, pela dilatada cultura, tanto a especializada como a geral e ainda pelas suas qualidades de caráter garantidoras de toda isenção nos seus pronunciamentos críticos.”

Sabia disso, meu caro Flávio Tavares? Você que, há poucos dias, foi agraciado com a Medalha Cunha Pedrosa, engrandecendo o Tribunal de Contas do Estado e se engrandecendo ainda mais com o reconhecimento.


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