Em setembro de 1922, sete meses depois da Semana de Arte Moderna de São Paulo, Analice Caldas, professora e militante da imprensa entre nós, organiza um álbum, tipo enquete, com perguntas como “Qual a sua divisa? O que desejaria ser? Que pensa do feminismo?”. E entre uma dezena de outras, as duas seguintes, que dão motivo a estas linhas: “Quais seus escritores prediletos? Quais os poetas de sua preferência?”
Analice Caldas Unicamp
Qual o poeta de sua preferência? É a pergunta que me chama particularmente a atenção, feita com a estética do Parnaso a reinar por muito tempo ainda no gosto literário de todo o país, Olavo Bilac e Raimundo Correia disputando a primazia com Guerra Junqueiro e Camões. Lá um ou outro, Antero de Quental; aqui e ali a prata de casa com Carlos Dias Fernandes e Pereira da Silva.
Mário Pedrosa (1920) CC0
É bem certo que os entrevistados deram pouca chance aos poetas provincianos, mesmo ao Carlos Dias, ao Raul Machado, ao Américo Falcão, ao Perilo, destaque entre os que alcançaram a graça de garantir seu nome nas antologias contemporâneas.
Augusto precisou, sem dúvida, da consagração externa ao meio e do encantamento popular pela sua poesia forte de expressão e de rítmica para poder, vinte ou trinta anos depois de sua morte, dar nome a uma pequena rua do antigo bairro do Montepio e ter um busto, por muito tempo mal conservado e mal vigiado na Lagoa.
Augusto dos Anjos
@poetaaugustodosanjos
@poetaaugustodosanjos
Em Andorinha, Andorinha Manuel Bandeira trata Pedrosa de “meu querido amigo” para realçar que ele “atingiu no domínio da crítica das artes plásticas uma preeminência de que me parece, a todos os aspectos, digno pela poderosa inteligência, pela dilatada cultura, tanto a especializada como a geral e ainda pelas suas qualidades de caráter garantidoras de toda isenção nos seus pronunciamentos críticos.”
Sabia disso, meu caro Flávio Tavares? Você que, há poucos dias, foi agraciado com a Medalha Cunha Pedrosa, engrandecendo o Tribunal de Contas do Estado e se engrandecendo ainda mais com o reconhecimento.