No dia dois deste ano, uma mulher simples dirigiu-se, com alguns alimentos, a um mendigo que, fugindo do calor, estava sentado sob uma árvore. Era, de fato, um pedinte. Não um infeliz viciado em tantas drogas que estão esmagando seres humanos com os tentáculos da pior das destruições: a do ser.
Esse homem, extremamente magro, mas com roupas limpas, já tinha perto de si uma dessas sacolas de plástico com alimentos.
Celyn Kang
— O que eu quero não é comida.
Mas ela não entendeu.
Ele continuou a olhar e ela percebeu que suas roupas estavam ensopadas de suor. Então ele disse:
— Preciso de água. Não é só de comida.
A mulher, envergonhada por não ter entendido, dirigiu-se a casa e trouxe-lhe uma grande garrafa de água gelada com um copo descartável.
Logo em seguida, ele fez questão de colocar, copo por copo, a água e bebeu-a lentamente. O modo como a sorvia parecia dizer que aquela sede cobria muitos séculos, talvez milênios. Mas já não era mais a sede dele próprio.
Celyn Kang
— Por que choras? — uma voz dizia. — Não sabes que as almas têm existência própria?
Havia uma suavidade tão rara no que dizia que mais parecia vir de outras eras ou do infinito.
— Não chores! A sede que eu tinha, tu a aplacaste.
E, sem nada dizer, desapareceu.
Sem dúvida, era como um alerta:
“Se a sombra das dificuldades se abateu sobre você, sinta a necessidade de outro coração, de outra alma. Dê de beber a quem tem sede e, assim, alguém te ajudará a carregar o fardo da vida, pois também teu coração se aquecerá de esperança.”
Celyn Kang
O mais curioso é que, no instante em que ela lhe dava a água, uma família vizinha chegava de carro. Ela — tolamente — perguntou se eles o tinham visto naquele dia.
— Não. Ninguém o havia visto.
A ela coube o mistério de ver, no rosto daquele mendigo, uma escolha de amor, no imenso potencial de luz que está em nossas mãos.