O Amigo da Onça, criado pelo cartunista Péricles para a revista O Cruzeiro, tornou-se um dos personagens mais marcantes do humor gráfic...

Como reconhecer um amigo?

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O Amigo da Onça, criado pelo cartunista Péricles para a revista O Cruzeiro, tornou-se um dos personagens mais marcantes do humor gráfico brasileiro. Elegante, de paletó claro e bigode fino, ele age sempre com falsa cordialidade e impertinência, deixando os outros em situações embaraçosas. Seu humor expõe hipocrisias sociais, fragilidades humanas e a maldade disfarçada sob um sorriso contido.

A anedota popular que deu origem à expressão “amigo da onça”, e que inspirou o nome do personagem, é mais ou menos assim: dois caçadores estão conversando no acampamento, quando um indaga o outro:

— Se você estivesse sozinho na selva e uma onça aparecesse à sua frente, o que faria?
— Eu daria um tiro.

O companheiro, então, pergunta o que o outro faria se não tivesse arma.

— Eu usaria a peixeira — foi a resposta.
— E se não tivesse peixeira?
— Pegaria um pedaço de pau.
— E se não tivesse pau?
— Subiria numa árvore.
— E se não houvesse uma árvore por perto?
— Correria.
— E se suas pernas estivessem paralisadas de medo?

Nesse momento, o outro, já desconfiado, exclama:
— Mas, afinal, você é meu amigo ou amigo da onça?

As dificuldades não nos revelam apenas os verdadeiros amigos, mas também os “amigos da onça”.

Há problemas que simplesmente não devem ser expostos. Mesmo quando alguém parece confiável, ou quando insiste em saber o que está acontecendo, não há benefício real em compartilhar dificuldades com quem não pode, ou não se dispõe, a ajudar. Alguns minimizam a dor; outros, secretamente, até se comprazem com ela, usando-a para se sentirem mais afortunados ou superiores.

As dificuldades da vida também nos revelam o lado mais mesquinho e sombrio de alguns, que, buscados em estrita confiança, aproveitam-se do sofrimento alheio para destilar sua “sinceridade” abjeta e, sob um verniz de amizade, tentar piorar ainda mais o que já era ruim, pois um falso amigo não se satisfaz até a aniquilação completa daquele a quem inveja e detesta em segredo.

Os famigerados “amigos da onça”, além de não se disporem a ajudar concretamente, ainda fornecem sugestões sádicas, absurdas e impraticáveis, que jamais usariam para si mesmos nem para aqueles com quem realmente se importam. Para o “amigo da onça”, não vale o dito em Mateus 5:46: “Pois, se amardes apenas aos que vos amam, que recompensa tendes? Não fazem também os publicanos o mesmo?”. Seu único evangelho é o de “Mateus, primeiro os meus”, já que até mesmo os perversos têm seus preferidos.

O mais sábio é recolher-se em Deus e contar apenas com pouquíssimos e raros amigos verdadeiros: aqueles capazes de ouvir sem prazer mórbido e sem transformar a nossa vulnerabilidade em munição contra nós mesmos.

Uma vez escolhidos os confidentes de confiança, é fundamental adotar uma postura de absoluta opacidade em relação aos falsos amigos, inimigos e ao público em geral, pois há sempre uma plateia interessada em se divertir com os dramas alheios.

Nosso sofrimento não deve se converter em espetáculo público, nem em alimento para o caráter enfermiço e para as deficiências morais dos outros. O urubu se alimenta da carniça e está sempre tentando farejar a podridão para continuar a se banquetear.

O que deve ser dito a todos os que não merecem a nossa confiança, e que não podem ter acesso à nossa intimidade mais profunda, deve ser sempre: “Estou muito feliz. Tudo está dando certo”, sem jamais entrar em nenhum detalhe.

Para questões como: “Com o que está trabalhando agora?”, “Está com algum novo projeto?”, “A situação melhorou?”, “Onde está residindo?”, “Está se relacionando com alguém?”, “Está bem de saúde?” ou “Atravessa algum problema?”, o silêncio é sempre a melhor resposta. Informação é poder. Quem não sabe, não estraga.

Prudência, discrição e força interior são antídotos preciosos contra quem torce contra nós ou tenta nos manipular, buscando aproveitar-se de nossos momentos de fragilidade, seja para alimentar o próprio ego, seja por algum outro interesse ainda pior.

Confessemo-nos somente com Deus, com um verdadeiro amigo ou com um terapeuta, e anunciemos ao resto do mundo que tudo vai muito bem.

Ainda que você tenha ajudado, promovido e sido leal a ele, um “amigo da onça” nunca vai retribuir favor algum; enquanto o verdadeiro auxilia concretamente mesmo sem antes ter sido beneficiado, e estende sua mão, doa seu tempo, ainda que não tenha sido solicitado.

Um amigo de verdade apoia, permanece ao nosso lado, não se coloca como exemplo, nem nos pisoteia quando estamos caídos e, apesar de saber tudo sobre nós, ainda nos ama.

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