Com atraso inexplicável, entro na leitura de Memórias do Batente, de Rubens Nóbrega. O inexplicável não vem de graça: primeiro, pelo que Rubens passou a representar no período em que dei as costas à redação, despedido um ano antes de seu ingresso; depois, pela influência que sua consciência social passou a exercer na opinião pública, da qual sempre cuidei de fazer parte.
Rubens despontou cedo. Ingressando no jornal em 1974, pulou o estágio da revisão — antes obrigatório — e, fazendo o curso de jornalismo (que aqui ainda não existia), graças à obrigação diária de traduzir o noticiário das agências (UPI, AP, France Press), torna-se editor do noticiário nacional e internacional. Sei bem o que isso significa, por ter sido essa, na prática, minha primeira e grande escola, percebendo radioso a diferença gritante entre o noticiário telegráfico importado e o costumeiro “realizou-se ontem” da tradição local. Quando ingressei na função de repórter-redator, amarguei a diferença dos dois procedimentos, com o chefe de redação afrouxando o texto para acrescentar o que o leitor comum dificilmente perguntaria.
Que Rubens me permita, mas não posso deixar de acrescentar, a esse esforço de mudança por mim vivido, o retorno de José Ferreira Ramos do Rio, com passagem pela Tribuna da Imprensa, de Lacerda, de onde volta como portador mais que didático, irônico, para virar nossas cabeças e textos na feitura do jornal. Ex-seminarista, José Ramos entrou no jornalismo com a nota 10 tirada no vestibular de Direito ao deixar a batina. A repercussão foi tal que, na mesma manhã, o governador Flávio Ribeiro, lá do Palácio, chama Sabiniano Maia, diretor do jornal, para autorizar o ingresso rápido do vestibulando brilhante na nossa folha de pessoal. Mas, cedo, depois de secretário de redação de A União, ele se passou para a Justiça, a cátedra universitária e o planejamento de Mário Moacir Porto e Linaldo Cavalcanti na UFPB. Em dupla com Dorgival Terceiro Neto, teve muito a ver com a pressa exigida para se alcançar a federalização no apogeu do prestígio de Abelardo Jurema.
Rubens Nóbrega confessa que teve dúvida em botar para frente a história do seu Batente na nossa imprensa. Por sorte, para o jornalismo do seu tempo e dos que a ele se acostaram, a dúvida do Rubão, como o chamamos, veio abaixo por força do seu espírito de liderança. Como ocorre com todo pró-homem, havia atrás dele, com a mesma dedicação, o mesmo sacrifício de vida do herói da rotina — o que carregou tijolo para a construção do templo — alguns dos quais deixam a vida na construção daquelas paredes. Recorro ao tropo que podia ser metafórico se não tivesse sido real, vivido pela criança que fui, ao presenciar a comoção da noite de agonia da minha Alagoa Nova ante a queda da nova igreja matriz em construção e a morte de dois ou três pedreiros estraçalhados na caliça sagrada daquelas paredes. “Aqui está o finado Elisbão” — clamou o professor Clodomiro Leal, num epitáfio a cinzelar aquelas paredes, o que não chegou a ser feito.
Foge-me, na emoção, o poder de síntese. O escrito chega ao limite do seu espaço sem que eu me desdobre no que mais me emocionou no rico livro do meu honroso confrade: os trailers que ele abre in memoriam de Juarez Félix e do gordo Antônio Feitosa, vigas encaliçadas na sustentação dos jornais a que foram fiéis até a morte. E Leônidas dos Santos, que Rubens não conheceu!
Mais do que a memória merecida do autor, temos a memória dos outros, na qual me detive. Tenho em mente voltar para falar da de Rubens.













