Uma coisa é gostar de livros, ao modo de um leitor contumaz comum, outra é transformá-los em paixão, ao ponto de tê-los como referência central da existência. A estes últimos costuma-se chamar de bibliófilos, ou seja, aqueles que cultivam a arte de colecionar livros. Arte que às vezes se confunde com loucura, bem sabem os que sofrem e gozam com tal hábito (ou será mania?).
Bruno Gaudêncio
O título da publicação foi retirado de uma frase de Jorge Carrión, escritor e crítico literário espanhol, que diz o seguinte: “A biblioteca é a pele da minha casa, é memória de leituras e de viagens, é um termômetro emocional. Necessito dela para recordar quem sou e quem quero ser.” Bruno incorporou tão intensamente estas palavras que adotou-as como título de seu livro. E ele caiu muito bem, pois, como perceberá o leitor da obra, as estantes do autor paraibano revestem não só as paredes de seu lar, como também as de sua alma.
Bruno Gaudêncio
Alberto Manguel Sesc
O capítulo sobre a biblioteca pessoal de Jorge Luís Borges, a partir de um artigo publicado pelo citado Alberto Manguel na Folha de S. Paulo, traz-nos informações curiosas. Manguel, lembre-se, foi, quando jovem, secretário de Borges, e nessa condição conheceu de perto a coleção de livros do mestre de A biblioteca de Babel, o que, por si só, constitui uma experiência que vale por uma vida inteira. Segundo o ex-secretário, não era vasta a biblioteca borgeana, pois a restrição do espaço no modesto apartamento do escritor em Buenos Aires não permitia grandes expansões. E outro detalhe pitoresco: dela não faziam parte os livros do próprio Borges, para quem suas obras eram “eminentemente esquecíveis”, Vejam só.
Torre da Biblioteca de Montaigne
bvh.univ-tours.fr
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“Você já leu isso tudo?”, é a pergunta que muitos fazem ao dono quando adentram uma biblioteca particular. Só esta indagação já mostra que a pessoa não é do ramo, pois quem é sabe perfeitamente que toda coleção inclui livros ainda não lidos, tão reveladores do proprietário quanto os que já foram percorridos. Esses livros não lidos formam o que alguém chamou de “antibiblioteca”. Também disso trata Bruno Gaudêncio, com sabor.
Saborosos e inspiradores são também os textos que Bruno escreve sobre o seu ambiente doméstico, dominado pelos livros. A amorosa interação de suas duas filhinhas com a espalhada biblioteca dos pais é um exemplo para os leitores, uma salutar sugestão pedagógica neste nosso mundo em que os jovens parecem menos interessados nas leituras que nas imagens. Atrevo-me, portanto, a profetizar um futuro feliz para Clarice e Olívia, tenras herdeiras do nosso bibliófilo.
Para mim, foi um prazer mais que intelectual a leitura de A pele da minha casa. Desde já incorporei-o à minha pequena coleção de livros sobre livros. E por isso recomendo-o com entusiasmo aos leitores em geral.






















