Os da casa não suspeitavam de nada. Entravam e saíam sem notar que a abertura que tinham uns com os outros não passava de um espelho quebrado. Todos os dias se esbarravam no além-túmulo. Nas mãos, água. Nos pés, terra. O tempo não modificou para melhor como acreditavam, segundo uma sabedoria tola do povo.
Otto Dix, 1921
Todos os dias, sofrendo de asma, saturando o receio, aspirando o medo e conferindo selo a quem não merece um sorriso. Todos os dias olhando aquela face que bloqueia o crescimento. Ser tão veredas e ser tão da cúpula. Será preciso abdicar de tantas formas para sermos universais?
Qualquer liberdade já nos confere um juízo. Foram as ilusões que angustiaram nosso sentido tornando cada momento de glória um espaço de podridão. Por acaso, queres caminhar comigo?
Otto Dix, 1922
Ninguém vivo sabe responder. O que poderia fazer se soubesse a resposta? Se perderam as chaves dos baús e os troféus estão empoeirados na estante.
Otto Dix, 1914
Talvez com a desilusão de quem já perdeu até a perda possamos encontrar o desejo mais oculto dos nossos instintos e descobrirmos que nessa casa há mais segredos que possa imaginar a nossa vã filosofia. Mas, já não há mais como voltar e ninguém quer caminhar junto. Ainda tenho que acorrentar os meus impulsos para manter as aparências, mostrar-se são mesmo não estando a salvo. E tudo vem ao meu encontro.
O desafio de distinguir as vozes que vêm dos quatro cantos do mundo e aprender a qual delas dar ouvidos. Quero sair desta casa e encontrar um lar. Quero colo. Fui em busca doutros alicerces e edifiquei outros fantasmas. Já anunciei distâncias e aproximações. É tempo de repousar estas paredes e receber a dor. A dor da liberdade.
Otto Dix, 1921
Vou me lembrar de que posso olhar para longe. Rumores? Silêncio, até lembrança.



























