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Estou me sentindo a própria tiazona que dá “pito” nos sobrinhos. Posso até estar errada, mas vocês acham certo que numa situação que se pr...



Estou me sentindo a própria tiazona que dá “pito” nos sobrinhos. Posso até estar errada, mas vocês acham certo que numa situação que se prevê ser caótica, causar mortes, ficarmos confinados em casa para não sermos alcançados pelo vírus, estarem preocupados com POLÍTICA?

O momento é de união, é de sermos solidários uns com os outros. E vocês discutindo POLÍTICA? Vocês ainda acreditam que algum daqueles políticos está pensando em nós? Em nosso pavor do que poderá vir? Sinto muito, não estão mesmo. Eles se comem publicamente, se ofendem, mas todos se aconchegam para trocarem favores, esconderem o que o outro fez de errado.

Sinto muito, mas pensem com racionalidade sobre a situação mundial. Pessoas morrendo por todo lado, médicos e diversos outros profissionais da área de saúde se extenuando para salvar vidas e vocês se digladiando por causa de políticos?

Não desejo que vocês vivam o pavor que ouvi de algumas pessoas que moram na Itália e viram seus entes queridos morrerem e não tiveram, ao menos, o consolo de os velarem ou enterrarem. E vocês ainda se preocupando em trocar desaforos, em trocar frases ofensivas pelas redes sociais?

O momento é de espalhar paz, tranquilidade, olhar as necessidades do seu vizinho, ter amor no coração. Lembro a vocês que a gente colhe o fruto das sementes que espalha.

Dê um tempo para o ódio abrandar sua alma. Isto irá, inclusive, beneficiar a sua saúde.

Estou cansada de ouvir tanta asneira.


Cristina Lugão Porcaro é bacharel em artes plásticas, psico-pedagoga e escritora

Demorei muito para perceber que dentro daquela pessoa serena, disfarçada em calma, habitava uma alma inquieta, dotada de uma força indomáve...


Demorei muito para perceber que dentro daquela pessoa serena, disfarçada em calma, habitava uma alma inquieta, dotada de uma força indomável.

Teimosa...totalmente teimosa. Acreditava na transformação e principalmente, acreditava que todas as pessoas possuíam um potencial e buscava fazer desabrochar algo que ninguém esperava.

Sua trajetória começou trazendo crianças, portadoras de deficiência, para serem “trabalhadas” na nossa casa. Por ser professora, encontrou na alfabetização o primeiro passo de sua crença no possível. Em tempos onde essas crianças viviam guardadinhas em suas casas, ela foi pescando uma a uma, convencendo pais, convencendo pessoas da cidade até que se viu rodeada de crianças e adolescentes e acabou fundando a APAE no interior de Minas. A ela, agregaram-se profissionais que também confiaram na crença do possível e os ensinou a pensar sobre a vida de cada um daqueles seres que precisavam ser vistos com dignidade e carinho.

Não satisfeita e apesar de leiga, começou a estudar sobre o cérebro humano e vorazmente buscou métodos e padrões que poderiam estimular o potencial daqueles que apresentavam algum déficit motor ou intelectual.

Participou de congressos, visitou outras instituições, leu muito, pesquisou, mas o que mais importava era seu espirito desbravador e forte que dava esperanças a pais desenganados, de que seus filhos poderiam alçar novos horizontes.

Nunca contou o número de pessoas que passaram por ela durante mais de quatro décadas. Viu crianças engatinharem, andarem, correrem. Viu inúmeras aprenderem a balbuciar, falar, ler e escrever. Ensinou muitas delas a dar laço nos sapatos, a segurar a colher, escovar os próprios dentes. Testemunhou diversos pais chorarem ao ouvir a primeira palavra dita por um filho já crescido. E acolheu muitos e muitos beijos babados e abraços desajeitados cheiinhos de carinho de “seus meninos”.

Achou que ainda era pouco o que fazia e quis promover uma verdadeira integração. Criou um centro de estimulação da inteligência onde criancinhas sem deficiência brincavam aprendendo, além de conviverem num mesmo ambiente com outras “diferentes”. Não sei se entre elas alguma percebeu diferenças, pois conviviam alegres e pacificamente. Umas aprendendo com as outras.

Para comemorar seus sessenta anos, inventou uma viagem exótica. Vendeu o carro e gastou o dinheiro passando dois meses na Índia. Voltou com o cabelo faiscando de hena vermelha, com os olhos brilhando de felicidade e com a certeza de que existia um povo generoso, alegre e espontâneo, mesmo cercado de uma tremenda pobreza.

Depois que completou setenta anos, todos esperavam por sua aposentadoria, pelo tempo que ela dedicaria a si própria para andar na praia, talvez fazer tricô, assistir filmes... Pois foi quando ela iniciou uma nova fase de vida. Através de suas pesquisas e pela própria experiência pessoal de não deixar-se esmorecer, iniciou um trabalho de estímulo à memória voltado para idosos. Vinculou suas pesquisas anteriores a exercícios motores, com atividades específicas para que o envelhecimento das pessoas fosse dilatado e dotado de muito mais qualidade. Este trabalho cresceu e ela o vai desenvolvendo com vários “alunos” e o explanando através de palestras e encontros onde mostra que a idade não limita, adiciona.

Hoje, aos oitenta e três anos ela continua a desenvolver suas atividades, dirige por todo lado, caminha pela praia, pratica stand up paddle, mantém uma invejável vaidade, adora cinema, está sempre se atualizando em diversos assuntos, além de participar de congressos e encontros sobre o envelhecimento.

Teve quatro filhos e eu sou a mais velha deles. Assistir à trajetória da mamãe foi um privilégio e é uma grande lição de viver. Com ela aprendi que a generosidade, não só aquela que doa dinheiro e bens, mas aquela em que se usa inteligência, percepção e vontade de promover a evolução de outras pessoas é a verdadeira generosidade. Sei que é o emendar uma atividade na outra que a mantém lúcida e que ao viver essa história tão cheia de “tudo” ela carrega dentro de si um mundo bonito, feliz e plenamente realizado.

Esperamos, os quatro filhos, sete netos, dois bisnetos e mais uma bisneta próxima de nascer, que ela viva por muitos anos sendo nosso exemplo de amor, ponderação e energia.


Cristina Lugão Porcaro é bacharel em artes plásticas, psico-pedagoga e escritora

Você já tentou abrir a tela vazia do seu computador e se determinar a escrever qualquer coisa, algo simples, coloquial, besteiras de amor, ...


Você já tentou abrir a tela vazia do seu computador e se determinar a escrever qualquer coisa, algo simples, coloquial, besteiras de amor, paixão ou olhares que lhe fugiram?

Não é tão simples assim. Você escreve, apaga, torna a escrever, apaga e nestes infinitos gestos vão-se os minutos, os segundos e acaba a primeira hora.

Você busca aqueles pensamentos que lhe assaltavam, os pensamentos que até há poucos instantes habitavam em você. Nesta hora, descobre que o vazio fez um ninho e embaraçou sua mente.

Eu só queria escrever sobre a alegria de viver, mas, hoje em dia, com tanta dor sendo disseminada, com tantos desacertos que não levam a nada, acabo pensando na loucura deste existir.

Seria tão simples escrever sobre o casal que hoje estava na fila do supermercado, os dois se sentindo sozinhos para viver a paixão que os acometia. Mesmo com a fila do caixa estando enorme e homens impacientes abrindo latas de cerveja com sofreguidão por ser tarde de sexta-feira, ainda assim os dois se embeveciam com os próprios segredos, com toques sutis para se sentirem. O mundo deveria ser habitado somente por apaixonados e tudo estaria resolvido.

A poucos centímetros de distância dos dois, finjo-me de surda e cega enquanto minha vontade era a de olhá-los e captar um pouco daquela felicidade pequena. A certa altura, ele a chama de amorzinho, assim no diminutivo e eu sorrio, impossível não participar daquele momento. Pago minhas compras, pego as sacolas e ainda me viro para vê-los uma última vez.

Só agora, enquanto escrevo, percebo que a vida ganha diversa significância quando você tem outra mão a amparar a sua, outro coração a bater junto ao seu. Só o calor do amor pode romper as peles que formam muralhas em seu corpo.

Mas, neste meu momento, o silêncio é denso, o ar condicionado gela meus pés, e só me resta ocupar o tempo tocando com delicadeza estas teclas. Me atento às palavras, com os pontos e vírgulas e com a fluidez do que aparece para escrever.

Deixo a nostalgia de lado e continuo a vida abusando das horas, reparo que é madrugada e que estou feliz nesta simplicidade cotidiana onde sou dona do meu espaço, do meu tempo, dos meus caminhos, das minhas verdades.

A paixão? Ficará aguardando outra história, outras paisagens para acontecer, sem determinar origem, extensão ou peso. Sou uma simples viajante de olhar atento, pronta para captar a realidade esplendorosa e inesperada do mundo.


Cristina Lugão Porcaro é bacharel em artes plásticas, psico-pedagoga e escritora

Alguns têm cachorrinhos, outros têm gatinhos, eu... sou guardadora do peixinho da Laura. E ela, lá de longe, pergunta se ele continua nadan...


Alguns têm cachorrinhos, outros têm gatinhos, eu... sou guardadora do peixinho da Laura. E ela, lá de longe, pergunta se ele continua nadando.

Está sim, Laura, e a vovó toda cuidadosa, troca a água deste minúsculo balde de gelo onde improvisamos a casa do peixinho, o alimento religiosamente todas as manhãs e já reconheço sinais do seu lindo e fluido agitar quando me aproximo.

É um peixinho betta, que segundo informações, não se relaciona com outros peixes. Estamos fadados, ele e eu, a dividirmos um espaço, sem conversas, sem manifestações de apreço e diferente de outros bichos, este não late, não mia, não canta.

Coloquei no peixinho o nome de Drogo, personagem do livro “O Deserto dos Tártaros”, uma leitura que me marcou profundamente. O personagem, é um oficial italiano designado a viver em um forte no meio do deserto onde espera incansavelmente uma batalha, que nunca vem, e que ele imaginava daria significado à sua vida.

Igual ao peixinho que vive uma verdadeira solidão, onde o tempo se arrasta sem sentido, sem agir por conta própria, sem escolhas sobre os rumos que a sua vida toma, o personagem Drogo igualmente viveu.

Assim também somos nós, que ficamos eternamente presos e parados esperando que a batalha apareça e, com isto, podemos morrer de fome de ação...ou nos tornarmos peixes betta dentro de um aquário.

É irreal ficarmos à espera de que algo fantástico nos aconteça, mas, se não agirmos, tudo permanecerá igual, imóvel.

A terrível e implacável passagem do tempo nos lembra as escolhas que fizemos, se teremos força para desviarmos o destino e encarar a vida que realmente queremos viver.

Estas são circunstâncias e perguntas complexas que bailam em mim, nesta noite, enquanto observo esse peixinho azul.


Cristina Lugão Porcaro é bacharel em artes plásticas, psico-pedagoga e escritora

Meu quintal mede poucos metros e é lindo. Dele eu enxergo o mundo. De um lado, vejo uma nesga do mar, do outro, vejo o entardecer colorido ...


Meu quintal mede poucos metros e é lindo. Dele eu enxergo o mundo. De um lado, vejo uma nesga do mar, do outro, vejo o entardecer colorido com todos os tons de laranja. No meu quintal cabe uma rede e pequenos vasos de plantas que cuido com o carinho de mãe zelosa. Às vezes, sou presenteada com flores e me sinto a pessoa mais privilegiada do mundo.

Tudo se resume em ter um olhar que saiba enxergar.

Olhar é o mais comprometido, descomprometido ato da nossa percepção.

Olhar é exercício de vida e entendimento. É captar na retina da memória e do coração o que nunca esquecemos: a emoção quando desvendamos o rosto do filho recém-nascido, o olhar de aconchego quando enxergamos reciprocidade nos olhos de alguém por quem estamos apaixonados e o mais dolorido olhar, cheio de pavor abissal, é quando enxergamos a vida se findando no olhar de quem amamos.

Olhar o tempo é sentir certa melancolia de quem sabe que a vida é passageira e por isto mesmo, bela. Olhar é um ato de humildade diante da eterna dívida de haver nascido em um mundo absurdo e detonado pelo caos, mas que ainda nos dá a oportunidade de enxergar e reverenciar uma natureza pródiga de céu azul, mares verdes e flores amarelas.


Cristina Lugão Porcaro é bacharel em artes plásticas, psico-pedagoga e escritora