Agora, quando a Professora Ângela Bezerra de Castro assume a presidência da Academia Paraibana de Letras, recordo o poema de Carlos Drummo...
O modo como Ângela lê
Agora, quando a Professora Ângela Bezerra de Castro assume a presidência da Academia Paraibana de Letras, recordo o poema de Carlos Drummond de Andrade que fala de “um certo modo de ver”, para definir o perfil dela como leitora, escritora, poetisa e estudiosa da literatura brasileira.
Entre os paraibanos que integram o seleto grupo de referências no Novo Dicionário da Língua Portuguesa de Aurélio Buarque de Holanda, está ...
Cantinho para uma madorna
Entre os paraibanos que integram o seleto grupo de referências no Novo Dicionário da Língua Portuguesa de Aurélio Buarque de Holanda, está o escritor e teatrólogo José Bezerra que, com o romance “Fogo”, teve seu nome gravado para na história da literatura brasileira.
Com atraso involuntário de alguns anos, eu alço voo na releitura de “Cesário Alvim 27”, livro de reminiscências de Abelardo Jurema Filho. ...
O menino de Abelardo
Com atraso involuntário de alguns anos, eu alço voo na releitura de “Cesário Alvim 27”, livro de reminiscências de Abelardo Jurema Filho.
Mantenho esse livro guardado em espaço de minha biblioteca, reservado aos autores paraibanos, dele me apropriando quando preciso de uma referência sincera sobre a ditadura militar de quem viveu as amarguras de uma época, que desejamos nunca mais reviver.
No Bairro dos Ipês, em Mandacaru e adjacências existe um senhor de idade avançada que cata resíduos pelas ruas, quase todos os dias, usando...
O assobio e outras lembranças
No Bairro dos Ipês, em Mandacaru e adjacências existe um senhor de idade avançada que cata resíduos pelas ruas, quase todos os dias, usando um sinal inusitado de anunciar sua aproximação. Chapéu de palha na cabeça e empurrando um carrinho de mão, ao longe se ouve o assobio dele. Um som fino e prolongado, por vezes imitando pássaros, sempre alegre. Escutando, sabe-se que é hora da colocar na calçada o lixo domiciliar reciclado.
Não existe nada mais gratificante do que contemplar uma criança ou adolescente com um livro nas mãos. Seja a caminho da escola ou em casa. ...
A jovem e o livro de Neruda
Não existe nada mais gratificante do que contemplar uma criança ou adolescente com um livro nas mãos. Seja a caminho da escola ou em casa. Esses instantes são para mim gratificantes, pois aconteceram no passado com os meus filhos e agora se repetem com os netos. Antes acompanhava minha filha adentrando o mundo da literatura e, agora adulta, ela mesma escrevendo e lendo seus textos para seu filho e sobrinhos. Sinto-me realizado.
Enquanto lia o livro “Engenho Laranjeiras: O Doce Afeto da Natureza” de Francisco Barreto, furtivas lembranças me ocorreram de quando, aind...
O doce afeto do Engenho Laranjeiras
Enquanto lia o livro “Engenho Laranjeiras: O Doce Afeto da Natureza” de Francisco Barreto, furtivas lembranças me ocorreram de quando, ainda criança, as pessoas me conduzindo pelas mãos, eu estive nesse aprazível recanto de beleza que ornamenta Serraria.
O Dia dos Avôs, para nós, tem um significado que vai além de nossa possibilidade de imaginar quanto ressoa a alegria de termos netos para p...
Como é bom ser avô
O Dia dos Avôs, para nós, tem um significado que vai além de nossa possibilidade de imaginar quanto ressoa a alegria de termos netos para paparicar.
Quando comecei a conviver com minha esposa, há quarenta anos, ela residia em Arara. e eu em João Pessoa, numa distância de 155 km. Nossos e...
O prazer de receber cartas
Quando comecei a conviver com minha esposa, há quarenta anos, ela residia em Arara. e eu em João Pessoa, numa distância de 155 km. Nossos encontros eram nos finais de semana, mas, entre um sábado e outro, eu lhe mandava duas cartas pelos Correios, porque o contato por telefone era difícil. Afinal, em Arara existia apenas um posto telefônico para atender a toda população, exceto algumas famílias que tinham linha telefônica particular.
A atriz Patrícia Pilar esteve na Paraíba, em duas ocasiões, para gravações de seriado para televisão e ficou emocionada quando viu rebrotar...
Aqui nasce gente forte
A atriz Patrícia Pilar esteve na Paraíba, em duas ocasiões, para gravações de seriado para televisão e ficou emocionada quando viu rebrotar a vegetação depois que choveu no Cariri. Foi quando, realmente, descobriu que aqui nascem os fortes, bem diferente do drama encenado e apresentado na TV.
Lembro dos tempos de infância que na minha cidade, Serraria, tinha uma praça e nela havia um coreto rodeado de quatro imponentes palmeiras,...
Praça e coreto
Lembro dos tempos de infância que na minha cidade, Serraria, tinha uma praça e nela havia um coreto rodeado de quatro imponentes palmeiras, que deixavam o ambiente ainda mais aconchegante. Quando eu ia lá, gostava de ficar sentado no banco, observando o movimento da rua, sem desviar o olhar do relógio da matriz para não esquecer a hora de retornar ao sítio.
A praça é o espelho da cidade. Lugar onde se passam agradáveis momentos de lazer e animadas conversas com amigos.
Na praça constroem-se sonhos que nem sempre são realizados. Por isso aquela praça anda comigo, é parte de minhas quimeras de adolescente. Mas destruíram a praça, reduzindo a paisagem de nossos olhares.
Na praça é possível descobrir a cordialidade entre os habitantes da cidade. Lugar onde se planta esperança, onde se colhe sonhos.
Há milênios a praça tem papel importante na vida das pessoas e continuará, mesmo que a insegurança arrede as famílias.
No tempo de Jesus, quando se desejava contratar alguém para o trabalho, recorria-se às praças. O Mestre até usou-a em uma parábola, para falar de seu reino aos trabalhadores.
Quando destruíram o coreto da praça de nossa infância, arrancaram um pedaço de nós. Os destroços e a poeira levaram consigo a história de nossos ancestrais, restando o retrato na parede onde as folhas das palmeiras ainda tremulam.
A cidade que não cuida de suas praças está fadada ao esquecimento. Quanto encantamento no olhar havia quando, ao final das tardes e primeiras horas das noites, as pessoas conversavam nesse local.
A antiga praça de Serraria faz parte das saudades que compõem a paisagem que habita toda a minha poesia. Em tudo que presenciei na tenra idade, hoje, olhando para o passado, percebo que a natureza e os antigos casarões de minha terra são habitantes de minha poesia.
Foram as intermitências deste sonho que permitiram suportar a ausência e a dor do trabalho árduo durante mais de seis décadas. Quando conduzido para outras paisagens, alimentando-me das imagens que carregava de Serraria, sejam as que estavam gravadas na memória ou estampadas na fotografia, sempre estavam o coreto da praça e seu entorno, guardados como reminiscências.
Como diria Neruda, este poeta chinelo que nos consola com sua poesia, “minha vida é uma vida feita de todas as vidas: a vida do poeta”. Minha travessia começou ali, com personagens de todas as épocas misturando-se às de hoje, que estão ao nosso lado.
O silêncio da praça sucumbiu na poeira e nos destroços, mas ressurgirá nas folhagens verdes da esperança, espalhadas pelo vento. Um vento que sussurra como música entre as palmeiras que circundam nossa cidade.
A reconstrução deste coreto teria um forte simbolismo cultural, fazendo recordar com emoção os dias de uma Serraria ainda em construção. Fica a sugestão.
A obra de arte sempre reflete o estado de espírito do artista, o ambiente em que vive, pois existindo harmonia em sua alma, ele coloca paz ...
Pinturas que são poemas
A obra de arte sempre reflete o estado de espírito do artista, o ambiente em que vive, pois existindo harmonia em sua alma, ele coloca paz naquilo que constrói. Seja um poema, um romance ou uma pintura, tudo traz o gozo desta quietude.
Quando eu esculpia as primeiras frases compondo matérias para jornal, Luiz Augusto Crispim já havia se revelado artesão da palavra, chamand...
O pastor das tardes e das manhãs
Quando eu esculpia as primeiras frases compondo matérias para jornal, Luiz Augusto Crispim já havia se revelado artesão da palavra, chamando a atenção como adentrava na redação de O Norte, pela elegância corporal e inegável cultura. Lembro-me dele como o cronista da emoção e poeta da paixão que a professora Ângela Bezerra de Castro tão bem descreve.
Quando tudo parece escuro, a Arte traz o acalanto que precisamos para enxergar o amanhecer, mesmo que demore a chegar. Nesses dias quando...
A pintura como acalanto
Quando tudo parece escuro, a Arte traz o acalanto que precisamos para enxergar o amanhecer, mesmo que demore a chegar.
Nesses dias quando a escuridão das mentes que nos governam e a pandemia que constrói noites escuras, a Arte se junta à nossa fé como antídoto para aliviar a dor que nos sucumbe, e fatalmente deixará rastro de espinhos nos corações.
As chuvas e as cheias do Rio Paraíba foram descritas com ênfase por José Lins do Rego. As águas que arrastavam tudo, também conduziam levas...
Tempo bonito para chover
As chuvas e as cheias do Rio Paraíba foram descritas com ênfase por José Lins do Rego. As águas que arrastavam tudo, também conduziam levas de homens a jogar na terra os grãos de esperanças, no plantio e na colheita que ele colocou nas suas narrativas com muita emoção.
Na tarde de um dia com chuva que nos faz recolher ao aconchego da rede preguiçosa, passeando pelos círculos sociais, percebo um texto me ch...
A arte e os seus espinhos
Na tarde de um dia com chuva que nos faz recolher ao aconchego da rede preguiçosa, passeando pelos círculos sociais, percebo um texto me chamou a atenção. Não conheço a pessoa que o escreveu, mas muito gostaria de parabenizá-la pelas colocações acerca da arte, porque trouxeram salutares reflexões, como um manto a agasalhar as inquietações de minha alma.
Na proximidade do crepúsculo é normal o trabalhador retornar a casa, esperançoso ou ansioso, aguardando o descanso noturno, seja ele reside...
Onde é a nossa casa?
Na proximidade do crepúsculo é normal o trabalhador retornar a casa, esperançoso ou ansioso, aguardando o descanso noturno, seja ele residente na cidade ou na roça.
Voltar para casa é o desejo de todos, mesmo que a sua residência seja uma choupana de taipa ou papelão, mas é um cantinho ao qual chamamos de “minha casa”.
Os sete séculos da morte do poeta Dante Alighieri , em 2021, serão o momento de suscitar a releitura de A Divina Comédia, uma obra que at...
Dante para sempre Dante
Os sete séculos da morte do poeta Dante Alighieri, em 2021, serão o momento de suscitar a releitura de A Divina Comédia, uma obra que atingiu a supremacia da Poesia universal, porque recheada de apontamentos que refletem a existência humana.
Com sua poesia, ele cria a possibilidade de resgate, de mudança profunda e de libertação de cada homem e mulher. Por isso, voltar às páginas deste livro, de uma largueza poética que contém insinuações filosóficas e teológicas, será oportuno para recapitular as lições que ajudarão na formação de uma nova convivência entre as pessoas.
Os setecentos anos da morte deste poeta surgem num momento em que as pessoas saem de uma grande provaçãoNesta obra está o convite ao reencontro do sentido confuso ou iludido da trajetória humana, mas que nos auxilia na espera do horizonte luminoso que acontece quando existe dignidade, sem escravo nem senhores. Sempre é prazerosa a releitura deste livro, que cheio de singularidade nos leva a grandes alegrias e não menores angústias.
Poeta italiano que ganhou admiração de papas e imperadores, Dante é arauto facundo do pensamento cristão, com uma estatura religiosa e cultural infrequente. Na sua obra, de elevada dimensão do pensamento Ocidental, compreendemos que ela foi elaborada a partir de sua experiência espiritual, que nos leva a refletir o encontro com Deus.
Sua obra é imensamente humana, por isso torna-se fundamental para reflexão sobre importantes temas, sobretudo do relacionamento humano, do amor sensual que ultrapassa os limites da paixão.
Por isso A Divina Comédia tem a abrangência mundial que conquistou e será eterna enquanto existirem olhares se cruzando no ilimitado universo, onde homens e mulheres estendem as mãos para a acolhida recíproca.
Os setecentos anos da morte deste poeta surgem num momento em que as pessoas saem de uma grande provação. O momento em que voltaremos ao debate deste livro será oportunidade para novos respiros de conversações entre as diversas culturas, numa franca busca do homem com os seus conhecimentos, suas aspirações, suas incoerências.
Dante, poeta-profeta da esperança, anuncia a possibilidade de mudança, de resgate e de libertação a partir do amor mútuo. Ele enalteceu magistralmente os encantos de Beatriz, elevando a sublimidade da mulher como símbolo do amor. Na primeira vez quando avistou sua musa, esta causou nele comoção física e espiritual. Bendita mulher para a qual dedica sua obra, a quem desejou dizer o que jamais alguém ousou falar para uma mulher. Aquela que se transformou na sua liberdade espiritual.
Tenho minhas dúvidas se Ascendino Leite e Ariano Suassuna mantinham um bom relacionamento literário. Tive essa sensação quando encontrei ci...
Ilusões e vaidades
Tenho minhas dúvidas se Ascendino Leite e Ariano Suassuna mantinham um bom relacionamento literário. Tive essa sensação quando encontrei citação de Ascendino no livro “Visões do Cabo Branco”, com insinuação que leva a pensar nessa possibilidade antagônica entre ambos. No “Caderno de Confissões Brasileiras”, editado por Geneton Moraes Neto, em 1983, Ariano fala da censura a grupos de teatro entre o final dos anos de 1950 e durante a ditadura militar de 1964-1985.
Sempre fui receoso com literatura biográfica produzida por familiares. Para formatar o perfil do biografado, muitas vezes o autor percorre ...
Graciliano e os paraibanos
Sempre fui receoso com literatura biográfica produzida por familiares. Para formatar o perfil do biografado, muitas vezes o autor percorre caminhos que convêm, sem o olhar crítico nem aprofundando os assuntos que ajudariam a conhecer o personagem.
Registros do cotidiano de escritores, músicos e artistas, enfim, sobre empresários bem sucedidos elaborados por parentes, nem sempre têm perfeita concepção literária. Mesmo tendo brilho nas palavras, às vezes não expõem o personagem real, com acertos ou erros nas atividades que exercem, e no relacionamento com o mundo ao seu redor.
Tatiana Tolstói escreveu sobre seu pai, o romancista russo que nos presenteou com “Ana Karênina” e “Guerra e Paz”, dando testemunho de amor e da lucidez do pensamento dele, trazendo à luz passagens da vida deste homem iluminado que revolucionou a literatura universal.
No “Mestre Graciliano - Confirmação de uma obra”, Clara Ramos mostra sinceridade ao expor intimidades literárias do pai. São lembradas passagens do relacionamento dele com a família e amigos, a formação de escritor, sobre seu processo criativo, as dificuldades para construir seus livros.
Ela destaca os três paraibanos que entraram na história de Graciliano, fruto da camaradagem, que são José Lins do Rego, Thomas Santa Rosa e José Américo de Almeida. Clara Ramos reconhece que eles contribuíram na construção literária de seu pai, e que não se distanciaram dele nos momentos obscuros quando estava recolhido aos porões da ditadura de Getúlio Vargas.
Na esteira do sucesso de “A Bagaceira”, José Américo influenciou Augusto Frederico Schimidt a publicar “Caetés”, que estava receoso por se tratar de um desconhecido. Quando estava preso, José Lins mobilizou os amigos para publicar “Insônia”. Com o dinheiro dos direitos autorais, ajudou no sustenta da família. O outro paraibano presente na vida deste alagoano foi o artista plástico Santa Rosa, que desde quando se conheceram no Rio de Janeiro, construíram uma salutar amizade e foi ilustrador de seus livros.
A autora destaca a aproximação de Graciliano com os escritores paraibanos, profundamente ligados à terra. Os três tinham algo em comum, porque procedentes da mesma região esturricada. José Américo e José Lins saíram dos verdejantes canaviais, e Graciliano carregava consigo a rudeza dos sertões bravios. Santa Rosa foi criado à brisa do rio Sanhauá. A literatura foi o anel da sadia amizade entre os quatro.
Vários episódios estão narrados no livro em foco, que abre minúcias da vida do autor de “Vidas Secas”, fazendo-nos conhecer metodologia dele escrever, pedaços dos caminhos percorridos até se consolidar como romancista, enfim, Clara expõe muita coisa que ajuda a desvendar o emaranhado de sua obra literária, com profundo conteúdo humano.
A autora revela as origens de personagens, tão fortes e constantes em nossas lembranças, como Fabiano e Sinhá Vitória, Paulo Honório e tantos outros saídos do convívio familiar ou da paisagem do sertão.
Ao final da leitura de “Mestre Graciliano - Confirmação de uma obra” fica com a sensação de que o livro vale por muitos estudos acadêmicos.
Somos todos poetas. Quem nunca escreveu um verso, ou pelo menos uma quadrinha para alguém que admira? Confesso que muitas vezes tentei e ig...
A obstinação dos poetas
Somos todos poetas. Quem nunca escreveu um verso, ou pelo menos uma quadrinha para alguém que admira? Confesso que muitas vezes tentei e igualmente vã foi minha experiência. Quem lê poesia é o poeta que não escreve poesia, disse alguém.
Cedo houve uma tentativa de ver meu nome na capa de um livro de poemas. No redemoinho dos quarenta anos de idade, em desobediência a Nathanael Alves que me pedia cautela antes publicar algum livro, como ele havia procedido na juventude, na insistência de Nonato Guedes, há vinte e seis anos, coloquei asas na minha produção de poemas.
Não renego o que publiquei, até porque foi prazeroso, com boa acolhida.
O poeta, artista plástico, ator e romancista Waldemar José Solha, com a visão universal que lhe é peculiar, à época falando da minha poesia, sapecou um punhado de palavras elogiosas que me deixou tonto, comparando-me ao que faziam os antigos pintores chineses que, com poucas pinceladas numa tela em branco, diziam muitas coisas. Recolhi-me, escondendo as palavras a respeito daquilo que o autor de “Israel Rêmora” tinha escrito sobre meu livro. Afinal, sou um poeta que ler poesia mais do que escreve.
De poeta bissexto na juventude imitador dos românticos, escrevendo sobre o choramingar do coração, continuei dando asas à imaginação, colocando no papel o produto das lucubrações, aquilo que não conseguia reter comigo. Na época em que foi publicado “Lira dos 40 Anos”, tinha esperança de tocar na sensibilidade da musa que me inspirava. Meia dúzia de leitores, igualmente apreciadores de poesia, deu guarida ao que publiquei.
A partir daí, então, recolhia ao silêncio das gavetas a poesia que produzia. Lendo mais do que escrevendo, consumia meu tempo a descrever outras paisagens da literatura.
Não dando cabimento nos conselhos de Nathanael, encontrei em Horácio o ensinamento como conforto que tanto esperava, pois o mestre dos mestres afirma que “o trabalho do poeta não se restringe ao momento singular da criação, mas representa o acúmulo da experiência criativa”. Uma bofetada em tudo o que tinha feito. Mesmo assim insisti na publicação das poesias. Vinte e seis anos depois, eu continuo satisfeito porque publiquei aquele livrinho, mas relendo agora os poemas com olhar crítico, constato que alguns merecem reparo. Nathanael tinha razão.
O tempo passou, voltei-me a outras ocupações literárias, enveredei pela pesquisa acerca do passado de minha cidade e seus habitantes, de minha família, consumindo o tempo escrevendo sobre o que pesquisava. Mas sem nunca abandonar de vista a poesia, algo prazeroso de ler.
Tempos atrás, quando menos esperava, novamente estava produzindo poesia. A Musa que desde cedo amava, trouxe-me a inspiração para cantar os ímpetos da alma na voz da terra e dos rios. Poemas que às vezes são incursões autobiográficas, contendo a visão do relacionamento entre duas pessoas que o tempo se encarregou de modelar.