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Um dos princípios básicos do Sócrates, personagem de Platão, é o de dar o braço a torcer, ao reconhecer e se convencer de que o seu...

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Um dos princípios básicos do Sócrates, personagem de Platão, é o de dar o braço a torcer, ao reconhecer e se convencer de que o seu contendor está com a razão (Górgias, 506a). Sócrates, no diálogo citado, se esforça para que Calícles, cujo nome, ironicamente, significa “o da bela glória”, entenda este princípio simples e salutar, em qualquer debate. O diálogo existe para que se firme a verdade do assunto em discussão, através da argumentação, do silogismo bem construído, das relações dialéticas, que vêm à tona, durante a discussão de um determinado tema. Vence a verdade, não quem, utilizando-se da retórica, dirige-se a uma plateia para seduzi-la com o que ela gostaria de ouvir.

A justiça vem a ser a cura para a perversidade. Platão , Górgias , 478d Sócrates falava na ágora para quem quisesse ouvi-lo, não só...

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A justiça vem a ser a cura para a perversidade.
Platão, Górgias, 478d

Sócrates falava na ágora para quem quisesse ouvi-lo, não só aos seus discípulos, como o filósofo Platão. A ágora era o lugar do discurso público, da arenga, por excelência, que suscitou, inclusive, o verbo agoréu (ἀγορέω), com o sentido de “falar em praça pública”. E Sócrates falava com categoria (κατεγορία), literalmente, “falar na ágora, de cima para baixo”, proveniente de ágora (ἀγορά), sobretudo destruindo, com argumentos, o discurso dos sofistas e retóricos. O modo como ele se dirige a Polos, amigo de Górgias, no diálogo que tem este nome, sobre a infelicidade que seria ele, Polos, deslocar-se a Atenas, lugar em toda a Grécia em que a palavra é mais livre, e ali fracassasse, por se ver ser privado de falar (461e), é emblemático. Não importa a discordância, o que importa é que a liberdade de se exprimir seja garantida.

O título deste artigo é parte de uma pergunta de Victor Hugo, no célebre prefácio para a sua tragédia Cromwell (1825), conhecido, post...

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O título deste artigo é parte de uma pergunta de Victor Hugo, no célebre prefácio para a sua tragédia Cromwell (1825), conhecido, posteriormente, como “Do grotesco e do sublime” – “Or, qu’est-ce que le choeur?”.

Em uma página desse prefácio, Victor Hugo diz mais sobre a tragédia do que muitos estudos alentados sobre o assunto. Ao mesmo tempo, há uma aproximação entre as ideias do escritor francês

Em O último dia de um condenado ( Le dernier Jour d'un condamné, Oeuvres completes, Romans I , Paris, Robert Laffont, 2002), um do...

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Em O último dia de um condenado (Le dernier Jour d'un condamné, Oeuvres completes, Romans I, Paris, Robert Laffont, 2002), um dos escritos ficcionais de Victor Hugo contra a pena de morte (1829/1832), o outro é Claude Gueux (1834), encontramos, no curto Capítulo XL, que eu chamo O Rei e o Réu (p. 474), a frase que dá título a este artigo. A sua tradução seria — “que a sua carroça encontrasse a tua charrete”.

Periodicamente, como um cometa, surgem as listas de livros. Livros imprescindíveis, livros que devem ser lidos antes de morrer (algué...

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Periodicamente, como um cometa, surgem as listas de livros. Livros imprescindíveis, livros que devem ser lidos antes de morrer (alguém lê livro depois de morto?), livros que deveriam ser levados a uma ilha deserta... Eis que surgiu, recentemente, uma lista dos 50 livros mais vendidos da história, focada nos, inquestionavelmente, literários. A minha estranheza se manifesta tão logo termino de pôr os olhos nos selecionados. Estranho a ausência dos épicos homéricos, Ilíada e Odisseia, que vendem desde sempre, como pão quente, às 6 horas da manhã. Também não vejo ali o opus magnum de Sófocles, Édipo tirano, um dos livros que mais influenciou a cultura ocidental.

Conheci Tarcísio Pereira nos corredores da Universidade Federal da Paraíba, em meados dos anos 80. À época, eu estava fazendo mestrad...

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Conheci Tarcísio Pereira nos corredores da Universidade Federal da Paraíba, em meados dos anos 80. À época, eu estava fazendo mestrado em Letras, e Tarcísio era o livreiro do corredor que dá acesso à Praça da Alegria, para quem vem das bandas da Pedro II ou do Castelo Branco. Era Tarcísio Pereira e Sílvio Calaço, que, inspirado por um personagem de Chico Anysio, eu chamava de “Meireles”. Com ambos, aficionados da literatura, mantínhamos boas e bem-humoradas conversas – José Edilson Amorim, o saudoso Wellington Pereira e eu. Tarcísio e Sílvio nos abasteciam dos livros de que necessitávamos, não só os dos textos literários, mas os teóricos, os de linguística, filosofia, história, capitaneados por Josivaldo Gabriel, de cujas mãos comprei muitos livros da Série Bom Livro, da Editora Ática, que indicava para os meus alunos do Primeiro e de Segundo Grau.

Victor Hugo tinha 16 anos, em 1818, quando apostou com amigos que escreveria um livro em 15 dias. Surge dessa aposta Bug-Jargal, seu pri...

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Victor Hugo tinha 16 anos, em 1818, quando apostou com amigos que escreveria um livro em 15 dias. Surge dessa aposta Bug-Jargal, seu primeiro romance, escrito numa idade em que, segundo o próprio Hugo, numa página que antecede o prefácio da obra, “se aposta por tudo e se improvisa sobre tudo” (Obras completas, Romance I, Paris: Robert Laffont, 2002, p. 575, em tradução nossa). O livro, escrito dois anos antes de Han d'Islande, romance de capa e espada, tem como assunto a revolta dos negros de São Domingos, em 1791, liderada pelo personagem que nomeia a obra. Trata-se também de uma história de amor, cujo pano de fundo é a sangrenta revolta nas duas ilhas do Caribe, na América Central, que a formam: Haiti e a atual República Dominicana.

Quid rides? Mutato nomine de te fabula narratur De que ris? O nome foi mudado, mas a fábula narra-se sobre ti Horácio , Sáti...

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Quid rides? Mutato nomine de te fabula narratur
De que ris? O nome foi mudado, mas a fábula narra-se sobre ti
Horácio, Sátiras I, 69-70

Parecia tão robusto o meu espremedor de limão! Comprei-o para a óbvia função explícita no seu nome, mas não durou um mês. Como já havia adquirido outros bem mais duradouros, não entendi a causa da sua pouca durabilidade. Dei-me conta, então, de que o rebite que segura as duas articulações, com a arquimediana função de eficaz alavanca, havia saltado. Como o rebite saltou da peça, se ele é rebatido nas duas pontas? O fato me intrigou até que pus os óculos. O rebite, meu querido leitor, não havia saltado, havia quebrado,

Epigrama I Narrative mensongère, que de bruit fait la racaille! Ils hurlent sans arrêt! C’est normal chez la canaille. Epigrama...

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Epigrama I

Narrative mensongère, que de bruit fait la racaille!
Ils hurlent sans arrêt! C’est normal chez la canaille.

Epigrama II

A loucura é bizarra, as pessoas nem meditam:
Não é louco quem afirma, mas aqueles que acreditam.
Tanta gente mergulhada em mentira e sandice
que a loucura superou, o cinismo, a cretinice.
D. Quixote não é louco, louco mesmo é Sancho Pança,
é igual a quem vislumbra crescimento com gastança.
Ó meu Deus, tem piedade! manda a Graça tão sonhada,
devolvendo a quem lhe falta sua massa acinzentada!


A criação artística é, em última análise, uma mentira, mas uma mentira com pé na realidade, mentira plausível, por mais absurdo que nos...

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A criação artística é, em última análise, uma mentira, mas uma mentira com pé na realidade, mentira plausível, por mais absurdo que nos possa parecer o seu resultado. Mentira plasmada na realidade, como uma possibilidade de criação e marcada pela tensão, afinal, como disse Cecília Meireles, no poema “Reinvenção”, “a vida só é possível reinventada”

A primeira vez que eu ouvi alguém falar a respeito do assunto foi numa conversa com o meu cunhado Edmundo Sebadelhe Valério, de saudo...

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A primeira vez que eu ouvi alguém falar a respeito do assunto foi numa conversa com o meu cunhado Edmundo Sebadelhe Valério, de saudosa memória: Toda esta vida que estamos vivenciando na Terra, por mais complexa e laboriosa que possa parecer, não passaria de uma experiência químico-física, num laboratório de seres de uma civilização muitíssimo avançada.

Li no Le Figaro da terça-feira passada, dia 09 de maio, arquivo gentilmente repassado pelo meu amigo Germano Romero , uma matéria in...

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Li no Le Figaro da terça-feira passada, dia 09 de maio, arquivo gentilmente repassado pelo meu amigo Germano Romero, uma matéria interessante sobre a entrada de novas palavras, para a edição de 2024 do Petit Larousse illustré, o dicionário mais popular da França. Foram acolhidas 150 novas palavras e sentidos, bem como o nome de 40 personalidades. A matéria inclui uma entrevista bastante esclarecedora dos critérios de verbetação, com o linguista Bernard Cerquiglini, conselheiro científico do dicionário.

A primeira observação digna de referência é que as palavras passam por uma espécie de eleição, para que possam constar no Larousse, “une photographie du français vivant, actuel et donc courant” (uma fotografia do francês vivo,
Gov. França
atual e, portanto, corrente). Durante um ano, os lexicógrafos preparam uma lista com as novidades do vocabulário usual da população, para depois fazer reuniões depuradoras, até chegar a 150 palavras, que deverão entrar no Larousse, se o uso permanecer constante. Constata-se por esta declaração o óbvio, que muitas pessoas desconhecem e não querem admitir: o que determina o léxico de uma língua é o uso coletivo, não o uso particular, conforme reconhece Bernard Cerquiglini: “Les mots élus doivent apparaître dans les conversations, à l’écrit, ne pas être réservés à un métier ou à une classe d’âge” (As palavras eleitas devem aparecer nas conversas, na escrita, não estar restritas a uma profissão ou a uma classe etária).

Obviamente que o uso reflete uma criatividade da língua – qualquer língua, diga-se de passagem –, cujo léxico não para de crescer, seja pelo desenvolvimento normal de uma sociedade, com novas profissões aparecendo, seja pela tecnologia, seja pela grande movimentação nas redes sociais, que permitem, por exemplo, a verbetação de termos como youtuber ou instagrammable (instagramável). Não só o desenvolvimento e o que é bom contribuem para o crescimento do léxico. O que é danoso à sociedade também dá a sua contribuição com termos como cybercriminalité (cibercriminalidade), europhobe (eurófobo), infodémie (infodemia, a pandemia da informatização) e covidé (acometido pela COVID).

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No que diz respeito às palavras de origem estrangeira, desde que elas sejam de uso comum, foram incorporadas. É o caso de mochi (bolinho de arroz esférico, feito de uma pasta ligada de arroz, geralmente aromatizado, especialidade japonesa), que não teria como ser traduzido em uma única palavra. O coreano contribuiu com bibimpap (prato composto de arroz, de legumes salteados e de carne, geralmente com um ovo sobre o prato, e condimentado com pimenta). Como a comunidade asiática na França é grande, o bolinho e o “arroz misturado”, significado da palavra coreana bibimpap, passaram a ser muito populares, justificando a sua inclusão no dicionário.

No caso das palavras inglesas, mesmo com a vigilância contra o franglês – termos em inglês, mas pronunciados à moda francesa, como sói acontecer... –, elas foram acrescidas ao dicionário e, quando há uma tradução plausível na língua francesa,
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faz-se uma advertência no verbete como “Anglicismo desaconselhado” (Anglicisme déconseillé). É o caso de flex office, para o qual se dá o equivalente francês bureau nomade (escritório nômade, itinerante). Até o famoso ghost writer (escritor fantasma), tem como equivalente prête-plume (o que empresta a pluma). Seria mais condizente, acredito, o que aluga a pluma...

O importante, diz Bernard Cerquiglini, é não se deixar levar pelo modismo. Ele afirma que “os lexicógrafos têm um ‘nariz’, como os perfumistas: a prática constante da língua faz que se sinta o odor do que é uma palavra da moda” (Les lexicographes ont un “nez”, comme les parfumeurs: la pratique constante de la langue fait qu’on sent ce qu’est un mot de mode). Em muitos casos, a palavra tem que esperar mais de um ano, para que se veja se o seu uso é coletivo ou se se trata apenas de um modismo. Foi o que aconteceu com féminicide, conforme diz Cerquiligni. O termo foi recusado por mais de um ano, por lhe faltar clareza de sentido, até que a sua “perenidade” fosse constatada, pois não havia um consenso no sentido de se saber se a morte de uma mulher ocorria por ela ser mulher, por ela pertencer ao gênero feminino ou se o crime tinha como vítima uma mulher (Tuait-on une femme en tant que femme, en tant qu’appartenant au genre féminin, ou était-ce un crime dont la victime était une femme?).

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O que me pareceu mais relevante nesta reportagem é que o linguista Bernard Cerquiligni deixa claro a todos os leitores que o uso (quantas vezes ainda vamos falar disso até que entendam?) é quem comanda as mudanças da língua, tendo em vista que as aquisições do léxico são muito mais rápidas, instantâneas, às vezes, por se tratar de palavras que podem ser criadas ou adotadas, sem que se afete a estrutura da língua. Por outro lado, vê-se que não se pode proibir que as pessoas falem como queiram ou que inventem o que queiram. Para entrar na língua, o que significa pertence ao sistema, no entanto, as palavras não podem estar presas a modismos, a ativismos, ou fazer parte exclusiva de grupos ou de faixas etárias. O franglês, de que falamos alguns parágrafos acima, não foi adiante na sua proibição e multa por seu uso, como se deu no início da ideia, por volta dos anos 80. Não se pode proibir a linguagem, como não se deve impor uma linguagem, qualquer que seja a desculpa. A língua não funciona por decretos, pelo queremismo de alguns ou pelas ideias nada democráticas de certos grupos. A língua funcionará coletivamente ou, então, não funcionará. Quanto mais fragmentação, menos coletividade e compreensão, e, para a sua sobrevivência, a língua exige critérios que permitam o seu entendimento por todas as gerações que a usam e a estudam.

Precisamos nos conscientizar de que mesmo sendo o estudo e discussão do desenvolvimento da língua uma questão para os especialistas, que estão em constante processo de melhor compreendê-la, ainda assim, não se pode proibir
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que as pessoas expressem a suas ideias sobre ela. Todos têm direito a expressão, ainda que ela fuja ao padrão culto, normatizado pela gramática ou ratificado pelo dicionário. O que não pode acontecer é a imposição a todos de um modo de falar por motivos estranhos ao sistema linguístico. Muito menos pode acontecer de se desejar a proscrição de palavras, com a desculpa de que elas são, de algum modo, ofensivas a alguém, em algum momento. Eis a cereja do bolo de toda esta conversa. Mais do que o critério rigoroso da verbetação, chamou-me a atenção o fato de que para dar entrada a novas palavras, nenhuma palavra sairá do dicionário. As novas serão acomodadas, junto daquelas que já fazem parte da língua, independente de estarem sendo usadas ou não. É o que costumo chamar de passivo do sistema. O sistema só cresce, nunca diminui, tendo em vista que nada garante que essas palavras não sejam, algum dia, ressuscitadas pelo uso, afinal, como diz Bernard Cerquiglini “La vie des mots comporte des rebondissements surprenants” (A vida das palavras comporta reviravoltas surpreendentes). O exemplo de se ramiter, verbo a ser incluído na já citada edição 2024 do Larousse, é uma dessas reviravoltas, que nos enche de alegria e de esperança, nestes tempos em que a segregação vem camuflada de discurso de inclusão: se ramiter é, nada mais, nada menos, tornar-se novamente amigo. Além do sentido e do dinamismo das palavras, o dicionário nos ensina que a amizade é mais importante do que qualquer outra coisa.

“⏤ Je suis celui qui vient des profondeurs. Mylord, vous êtes les grands et les riches. C’est périlleux. Vous profitez de la nuit. ...

victor hugo homem que ri
“⏤ Je suis celui qui vient des profondeurs. Mylord, vous êtes les grands et les riches. C’est périlleux. Vous profitez de la nuit. Mais prenez garde, il y a une grande puissance, l’aurore. L’aube ne peut être vaincue. Elle arrivera. Elle arrive. Elle a en elle le jet du jour irrésistible.”
Gwynplaine a seus pares na Câmara dos Lordes, p. 738-9

Resolvi fazer uma visita ao centro de João Pessoa, motivado pela leitura do livro A primeira rua da capital paraibana , de Guilherme G...

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Resolvi fazer uma visita ao centro de João Pessoa, motivado pela leitura do livro A primeira rua da capital paraibana, de Guilherme Gomes da Silveira d'Avila Lins, meu amigo e confrade da Academia Paraibana de Letras. Menino, andei muito por aquelas ruas, levado pelo meus pais, em passeios ou obrigações. Adolescente, trabalhando como ajudante de serviços gerais, no escritório de um dos cunhados, situado à rua do Riachuelo, o centro da cidade virou para mim um conhecido íntimo, no vaivém das idas aos Correios, bancos e entregas de mercadorias, nas várias artérias que cortam o velho centro histórico. O livro de Guilherme me renovou a vontade de retornar ao centro e percorrer a Rua Nova, hoje General Osório, a primeira rua, que dá título a seu livro.

Em termos estritamente materiais, a vida é um processo físico-químico. Sem a química do carbono, por exemplo, não existe vida, na form...

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Em termos estritamente materiais, a vida é um processo físico-químico. Sem a química do carbono, por exemplo, não existe vida, na forma como a conhecemos. Isto é ponto pacífico entre os cientistas e, principalmente, entre os evolucionistas. Ernst Haeckel, em Os enigmas do universo, é um dos precursores na constatação da importância do carbono para a criação da vida.

Apesar de ser a vida um processo físico-químico, não se pode dizer que cientistas do porte de Richard Dawkins e Ernst Haeckel – este contra o papismo romano, mas com uma profissão de fé monista; aquele ateu confesso –

A Juca Pontes , in Memoriam Juca, meu querido, das cartas que escrevi para os amigos, esta será a primeira a ser lida pelo destinatá...

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A Juca Pontes, in Memoriam

Juca, meu querido, das cartas que escrevi para os amigos, esta será a primeira a ser lida pelo destinatário, antes de sua publicação. Por ter uma compreensão da vida diferente do habitual das pessoas, o que não me isenta de sentir tristeza pela sua partida, tenho certeza de que, na espiritualidade, onde você se encontra, você nos acompanha e saberá perdoar a minha incompreensão.

Juca era uma dessas figuras ímpares, que surgem em grandes intervalos de tempo, como os cometas, era uma rara unanimidade, em nosso m...

juca pontes poesia paraibana
Juca era uma dessas figuras ímpares, que surgem em grandes intervalos de tempo, como os cometas, era uma rara unanimidade, em nosso meio intelectual e cultural. Não quero crer que houvesse alguém que não gostasse de Juca.

Sempre gentil, educado,  cordato, sempre calado, do pouco falar e do muito fazer,  Juca nos acolhia com o sorriso, de boca e olhos, como era o seu habitual. Não era de rir, mas o sorriso nos conquistava, por estar ali a prova indelével e inquestionável do acolhimento do amigo.

Nos poemas longos de Augusto dos Anjos, o desafio de leitura se impõe, sendo muito maior do que o observado nos sonetos. É o caso de ...

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Nos poemas longos de Augusto dos Anjos, o desafio de leitura se impõe, sendo muito maior do que o observado nos sonetos. É o caso de “As Cismas do Destino”, poema de 4 partes, contando com 420 versos, em que, o eu-poético, em estado alucinatório ou de delírio, percebe, na lubricidade e na animalidade humana, o atraso na espiritualidade de seres levados pelo instinto.

Já na primeira parte do poema, temos a dimensão do desconforto e da aflição do eu, no nojo expresso diante de uma humanidade violadora das leis da natureza. Trata-se de profundo asco por tudo que o homem, voltado para a materialidade lhe provoca. Nesse paroxismo aflitivo, ele chega a automutilar-se, revelando a situação de desequilíbrio em que se encontra (Parte I, estrofe 25, versos 97-100):

Algumas das minhas intuições se confirmam. Minha birra com cabelo não é nova. Na minha compreensão, cabelo só atrapalha. Lavar, pentear...

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Algumas das minhas intuições se confirmam. Minha birra com cabelo não é nova. Na minha compreensão, cabelo só atrapalha. Lavar, pentear, cortar, tudo é muito trabalhoso e dispendioso. De tanto ver nos filmes de ficção científica os alienígenas sem cabelo, tirei uma conclusão particular de que para se evoluir é preciso perder os cabelos. Na brincadeira, dizia que a grande vantagem de ser careca é gastar menos água e sabonete, e ainda economizar com shampoo e condicionador. Agora vejo ser uma verdade que não

Quando me aposentei, em julho do ano passado, depois de 45 anos como professor sempre presente na sala de aula, recebi do governo fe...

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Quando me aposentei, em julho do ano passado, depois de 45 anos como professor sempre presente na sala de aula, recebi do governo federal, através de seu aplicativo, um e-mail de duas linhas. Na primeira linha, agradecia os meus préstimos como funcionário público; na segunda, advertia-me para a possibilidade de ter os meus vencimentos bloqueados, se, a cada ano, no mês do meu aniversário, eu não fizesse a famigerada “prova de vida”. Do meu Departamento, na Universidade, onde fui professor por 37 anos, uma palavra sequer foi pronunciada.