Esta é uma pergunta medonha, daquelas para as quais ninguém tem uma resposta pronta, salvo os idiotas. É preciso refletir para respondê...

Esta é uma pergunta medonha, daquelas para as quais ninguém tem uma resposta pronta, salvo os idiotas. É preciso refletir para respondê-la porque a resposta necessariamente tem a ver com a vida que levamos, como somos, o que fizemos e deixamos de fazer. Fundamentalmente, creio, tem mais a ver com os outros que com nós mesmos, a maneira de tratá-los, de considerá-los, se os vemos como meios ou fins de nossas ações, se os valorizamos em sua dignidade intrínseca etc etc. Sim, porque “...ao fim, seremos vistos pelo que amamos ou deixamos de amar”. E “ao entardecer desta vida, te verão no amor”, como bem disse São João da Cruz. Significa dizer que seremos lembrados e julgados pelo que fomos e fizemos de bem, e não por outras gloríolas acidentais, por mais importantes que estas pareçam aos olhos dos tolos.

Paraíba, 3 de julho de 2022

Paraíba, 3 de julho de 2022

A Paraíba intelectual, artística, musical, há muito desafia o preconceito, falha de caráter oriunda da superficialidade leviana e da ig...

A Paraíba intelectual, artística, musical, há muito desafia o preconceito, falha de caráter oriunda da superficialidade leviana e da ignorância. O indiscutível valor de notáveis conterrâneos destrói por si só a arrogância dos que insistem em nos menosprezar. Não é à toa que o artista e escritor Waldemar Solha, um paulista bem nordestino, insiste em dizer, vez por outra, que a Paraíba vive surpreendendo-o.

Há noventa e dois anos, nos dias finais do mês de julho de 1930, fazia cinco meses que o sertão da Paraíba vivia em um estado de guerr...

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Há noventa e dois anos, nos dias finais do mês de julho de 1930, fazia cinco meses que o sertão da Paraíba vivia em um estado de guerra. No dia primeiro de março daquele ano, haviam sido realizadas as eleições para Presidente e Vice-Presidente da República, deputados federais e uma vaga no Senado. Na véspera do pleito, por determinação do Presidente do Estado, João Pessoa, uma insensata operação da polícia estadual foi realizada na cidade de Teixeira.

Muitos anos atrás, lendo um desses livrinhos vendidos em bancas de jornal, cujos título e autor me escaparam da memória, dei de car...

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Muitos anos atrás, lendo um desses livrinhos vendidos em bancas de jornal, cujos título e autor me escaparam da memória, dei de cara com uma previsão absolutamente estapafúrdia, totalmente improvável. Estávamos no auge da Guerra Fria e a hecatombe universal viria com um ataque de armas nucleares dos EUA contra a União Soviética – e vice-versa. Era certeza absoluta naquele momento. Nada nos faria mudar de ideia. Morreríamos todos quando fosse acionado o terrível botão instalado em certo birô do Kremlin ou da Casa Branca, depois que o famoso telefone vermelho tocasse freneticamente, como um despertador antigo.

Será que já vinha seco e eu não prestara atenção? Falo do rio Mamanguape, que deu nome à cidade do poeta Carlos Dias Fernandes e fortun...

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Será que já vinha seco e eu não prestara atenção? Falo do rio Mamanguape, que deu nome à cidade do poeta Carlos Dias Fernandes e fortuna usineira aos irmãos Fernandes, remanescentes da aristocracia rural e do comércio atraídos pelas várzeas do rio, exportando açúcar e algodão pelo seu próprio porto, o Salema.

Rio Mamanguape, que supriu de águas constantes a agricultura e, particularmente, o poder político do meu circunspecto e saudoso amigo José Fernandes de Lima, um radical do seu partido que conteve a caneta diante de meu nome (“Esse, não!”)

Assim começa Positivismo, música das mais interessantes de Noel Rosa – “A verdade, meu Amor, mora num poço”. Atribui-se, na música, ...

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Assim começa Positivismo, música das mais interessantes de Noel Rosa – “A verdade, meu Amor, mora num poço”. Atribui-se, na música, esta afirmação a Pôncio Pilatos, mas na realidade, o governador da Judeia pergunta a Cristo o que é a verdade, sem obter respostas para o seu questionamento. Fica por conta das licenças da criação poética. Até porque Noel também afirma que o criador da guilhotina teria sido uma das vítimas de seu instrumento, o que a história não confirma. Joseph-Ignace Guillotin não inventou a guilhotina, apenas sugeriu a criação de um instrumento que provocasse uma morte rápida e indolor aos condenados. Médico, ele era contra a pena de morte e cria que a invenção de um mecanismo que provocasse uma decapitação rápida seria o primeiro passo para a abolição da pena de morte.

O livro PONTEIO (Marineuma de Oliveira - junho, 2022), selecionado no concurso literário A arte da escrita, promovido pela União Brasil...

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O livro PONTEIO (Marineuma de Oliveira - junho, 2022), selecionado no concurso literário A arte da escrita, promovido pela União Brasileira de Escritores da Paraíba - (UBE-PB), traz uma série de sessenta poemas escritos nos últimos dois anos, cujo eixo norteador é fazer uma conexão poética através de linguagens,
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como a música, dança, teatro e as artes visuais, numa costura feita pela literatura.

Para cada poema, na página esquerda ao lado, há um “ponteio”, que pode ser entendido como um mote, uma epígrafe, um refrão, um pensamento, uma filosofia. Os temas desenvolvidos nos textos são os mais diversos, porém sobressaem angústias e reflexões diante do tempo, do envelhecer, da finitude da vida e da morte iminente. Com projeto gráfico do poeta Juca Pontes, fotografia de Antônio David Diniz e capa e elementos ilustrativos da arquiteta e artista visual Valéria Antunes, o livro traz apresentação da professora Neide Medeiros, que é membro da Academia Feminina de Letras e Artes da Paraíba e da União Brasileira de Escritores da Paraíba (UBE-PB).

Alguns poemas do livro PONTEIO:
 
 
PONTILHÃO
Teço e demarco, em linhas e traços, as partes extremas de mim: a do começo, com minhas expectativas pontuadas; e a do fim, uma história

Apresento a vocês Ronald de Chevalier, um amazonense que fez a vida na boemia e intelectualidade do Rio de Janeiro. Conhecido como Roni...

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Apresento a vocês Ronald de Chevalier, um amazonense que fez a vida na boemia e intelectualidade do Rio de Janeiro. Conhecido como Roniquito, fã de música clássica e de William Faulkner, falava fluentemente inglês e francês. Sóbrio ele era um gentleman. Mas quando bêbado (e isso acontecia quase diariamente) tornava-se bélico.

Vi, em página do Facebook, uma foto antiga daquilo que por muito tempo foi o único sobrado de Pilar. Nos meus dias de menino, ali morar...

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Vi, em página do Facebook, uma foto antiga daquilo que por muito tempo foi o único sobrado de Pilar. Nos meus dias de menino, ali moraram duas famílias de comerciantes. A do Seu Nequinho, ainda está bem viva na memória porquanto guardo amizade estreita com dois de seus filhos: Everaldo Pontes e Zezita Matos. Sim, estes mesmos que os amantes do teatro e do cinema conhecem como atores de grande talento. Também assim os conhece o público numeroso de algumas minisséries e novelas da Globo.

O artista plástico Flávio Tavares conta causos com a mesma elegância que pinta quadros. Herança do pai, Arnaldo Tavares, médico que ...

O artista plástico Flávio Tavares conta causos com a mesma elegância que pinta quadros. Herança do pai, Arnaldo Tavares, médico que trocava o bisturi pelo lápis e pincel para moldar no papel a paisagem da alma. Onde chegava, atraía as atenções pela elegância da narrativa, sempre com uma pitada de humor.

Na madrugada de 23 para 24 de agosto de 1954 eu me achava de rádio ligado na Mayrink Veiga, à janela de fundos do velho sobrado onde fu...

Na madrugada de 23 para 24 de agosto de 1954 eu me achava de rádio ligado na Mayrink Veiga, à janela de fundos do velho sobrado onde funcionava o jornal O NORTE, a aragem da noite cheirando a velhos e lodosos telhados, e a me envolver num adágio entremeado na 3ª Sinfonia de Brahms. Não aprendi a ler música, li pouco dos seus entendidos, mas lá por dentro, e por trilhos que me serão sempre misteriosos,

Ela é leve como as plumas que não tem, e seus olhos veem além dos nossos, através das superfícies que escondem as cores. Quem sabe, a m...

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Ela é leve como as plumas que não tem, e seus olhos veem além dos nossos, através das superfícies que escondem as cores. Quem sabe, a magia que chegou às suas mãos, na tarefa de bordar o enxoval da irmã caçula, todo dia, às dezessete horas... uma cadeira na calçada, ao lado da Catedral, certamente diante do pôr do sol e seus matizes! Cumpriu essa missão com habilidade e carinho. Na escolha das linhas, o mistério das tonalidades encantou a Fada. Quando estudava na Bica (Parque Arruda Câmara), conduzia a pequena, para que a mãe se dedicasse mais ao trabalho. Entre livros e cuidados, folhas em branco e grafite na mão, surgiam árvores, retas, curvas, entrelaçadas, folhagens, horizontes percebidos ente a terra e o céu... formas perfeitas para rivalizar com a natureza.

A geografia tem sido injusta e arredia com Gonzaguinha. A Paraíba, neste sofrido Nordeste, rarissimamente tem os seus talentos reveren...

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A geografia tem sido injusta e arredia com Gonzaguinha. A Paraíba, neste sofrido Nordeste, rarissimamente tem os seus talentos reverenciados. Triste terra onde ruge o vento nordeste. Sempre admiti que ninguém nasce na Paraíba impunemente. A história do Neguinho Gonzaga é a história de um sobrevivente que escapou da cilada da mediocridade que poderia ter lhe imposto o castigo de ser apenas um barnabé do massacrado e inerte do funcionalismo público. Refugiou-se como um apátrida na sua superior Inteligência e domínio das letras, e, passo a passo, dor a dor com sua humildade e grandeza, teve reconhecida por muito poucos a sua extremada eloquência literária. Tornou-se um arauto, e competente espião da alma humana da sociedade.

“Vide 'o mare quant'è bello!  spira tanta sentimento...  Comme tu, a chi tiene mente,  ca, scetato, 'o faje sunná!” Torn...

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“Vide 'o mare quant'è bello!  spira tanta sentimento...  Comme tu, a chi tiene mente,  ca, scetato, 'o faje sunná!”
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"Era setembro de 2015, voltávamos da Úmbria, onde havíamos estado para conhecer a escritora ítalo-americana Marlena di Blasi. Passamos bons momentos com ela e seu esposo, Fernando, na cidade de Orvieto.

Emplaquei 55. Foram muitos passos na superfície dessa redonda, e já houve algumas mudanças: a orelha cresceu e os sons diminuíram; uma...

Emplaquei 55. Foram muitos passos na superfície dessa redonda, e já houve algumas mudanças: a orelha cresceu e os sons diminuíram; umas quinhentas pintas e manchas apareceram; o cabelo embranqueceu; os olhos pediram óculos e o raciocínio perdeu potência, não passa de jeito nenhum dos 80 km/h. Mas não foram só perdas: ganhei também barriga, rugas, dor no ombro e um pouquinho de descrença na humanidade, mas, como diz Fabiola Lugão,