O presente ano enseja a oportunidade de a Paraíba reverenciar Augusto dos Anjos nos 140 anos do seu nascimento. É hora de voltar, ainda mais, nossos corações para esse poeta que trouxe visibilidade à poesia da Paraíba.
Faz-se oportuno lembrar a necessidade de prestar-lhe uma grande homenagem, em resposta à dimensão alcançada pela sua criação poética. Será justo erguer, em lugar de destaque, uma estátua de grande porte, podendo ser a maior da cidade.
Não basta se dizer admirador desse imenso poeta. É necessário aprofundar as homenagens e os gestos concretos que possam perpetuar sua poesia e sua imagem para as futuras gerações.
Augusto é poeta revelado no século passado. Sua poesia constroi um panorama para o futuro, pois, a cada leitura de sua obra, os poemas revelam caminhos para diferentes interpretações.
Acervo do autor
A posse foi noticiada no jornal local Novo Movimento, que ressalta desconhecer o poeta e professor Augusto dos Anjos: “Não conhecemos o nomeado e, por isso, nada podemos dizer sobre a sua competência, honestidade e critério”.
Não afianço se as notas dos jornais motivaram comentários por parte dos estudiosos de sua obra ou constam em biografias, como a escrita por Raimundo Magalhães Júnior, a mais completa, produzida por Ferreira Gullar com seu estudo crítico constante na edição de toda a sua obra de Augusto, editado pela José Olympio. De qualquer forma, são valiosas como contributo para nos aproximar de Augusto dos Anjos.
A notícia de O Norte dizia: “foi solenemente empossado”, em solenidade à qual se fizeram presentes professoras e servidores, tendo Augusto chegado minutos depois destes. Ele estava acompanhado de autoridades municipais, do inspetor da escola, de militares, do juiz municipal e de jornalistas.
O inspetor da escola, Aristides Sica, afirma o jornal paraibano, “pondo em destaque a ação brilhante do Grupo escolar no meio leopoldinense, como poderoso veículo de instrução, especialmente no seio das classes pobres, deu posse ao novo diretor, depois do compromisso legal e de desvanecedoras referências à pessoa do dr. Augusto dos Anjos”. Comenta o jornal conterrâneo que, na ocasião, Augusto dos Anjos, em curtas mas incisivas frases, “afirmou que procuraria por todos os modos corresponder à confiança que em si fora depositada, conduzindo aquele estabelecimento de instrução de modo a que os seus alevantados fins fossem completamente preenchidos”.(...) “Terminou sua fala, dizendo constar, para o desempenho de sua missão, com o concurso do corpo de inteligentes e dedicados professores do Grupo”.
Em seguida, continua a nota de O Norte, Dr. Augusto foi abraçado por todos os presentes.
“Após esse ato, o Dr. Rômulo Pacheco, em regozijo pela posse do novo Diretor, seu concunhado, convidou a todos os presentes a irem a sua residência, onde ofereceu a todos um copo de cerveja”. Era um tempo em que a posse de diretor de escola se encerrava com festa e regozijo.
Conforme a notícia, no mesmo dia da investidura no cargo, Augusto dos Anjos adotou algumas providências, inclusive o funcionamento diário da Secretaria do Grupo Escolar e a abertura de matrículas suplementares, apesar das férias concedidas pelo governo, até o final daquele mês, aos servidores da escola. “Ontem o Diretor fez as suas comunicações de posse às principais autoridades da Comarca e ao Secretário do Interior”.
Antes da nomeação, relata O Norte, citando nota do jornal O Paiz, do Rio de Janeiro, Augusto tinha sido professor na então capital federal, no Ginásio Nacional e na Escola Normal, depois de ter assumido a mesma função, no Lyceu da capital do Estado da Parahyba do Norte:
“e sabemos ser um rapaz de grande cultura e de alto valor intelectual, tendo dado já a publicidade de trabalhos que o sagram como homem de letras de muito merecimento”.
O jornal paraibano rebate as insinuações da folha de Leopoldina, que duvidava da honestidade e do critério administrativo de Augusto, e conclui dizendo que a aquisição para diretoria do grupo escolar da cidade mineira “deve ser motivo de ufania para esse estabelecimento de instrução”.
A partir de notícia anteriormente publicada em O Norte, tem-se conhecimento da sua passagem pela Escola Normal do Rio, “onde foi professor extraordinário”, e da sua dispensa dessa função, extinta com a reforma escolar. “Na Escola Normal do Rio recomendou-se muito pela sua inteligência e ilustração, sendo alvo de elogios dos mais respeitáveis professores do conhecido Instituto, inclusive do seu atual diretor, o talentoso professor José Veríssimo”.
No Rio, Augusto se destacou como professor suplementar. Lecionou a disciplina Geografia no Ginásio Nacional e exerceu a docência em outros colégios da Capital Federal, como o Instituto Poliglótico.
Concluo este texto transcrevendo trechos da matéria de O Norte. “Além de ter sólidos conhecimentos sobre diversas matérias, é poeta apreciado nas melhores rodas literárias do meio carioca”. Prossegue o jornal paraibano: “Publicou já um livro de versos a que deu o nome de ‘Eu’ e que foi acolhido no meio em que o lançou à publicidade – o Rio de Janeiro – com os mais desvanecedores elogios”.
Augusto vive na sua poesia, como afirmou o crítico literário e poeta Hildeberto Barbosa Filho. Augusto é um poeta amado.